Apesar de raramente defendermos e promovermos o que é genuinamente português, assumimos um comportamento diferente e quase inverso no vinho, sustentando a superioridade nacional de uma forma descomplexada e inesperadamente afirmativa.
Acreditamos intimamente e visceralmente que os vinhos portugueses estão entre os melhores, os mais conhecidos e mais cobiçados do mundo, que os nossos vinhos são respeitados e valorizados um pouco por todo o planeta e que poucos outros países ou regiões conseguem fazer vinhos tão bons e interessantes como aqueles que se produzem em Portugal. Numa sociedade que manifesta tantas dúvidas sobre si mesma e tanta falta de confiança nos seus valores, é extraordinário que sejam os vinhos a proporcionar tamanha crença e sensação de segurança.
Sabemos intuitivamente que os nossos vinhos são virtuosos e nutrimos um sentimento de respeito muito especial por um grupo de vinhos em que somos especialmente competentes, os vinhos generosos. Sabemos que o Vinho do Porto é um dos grandes vinhos do mundo, uma criação portuguesa ainda que apimentada pela nossa relação íntima com a Inglaterra, e sabemos perfeitamente que este é um estilo único que nenhum outro país do mundo consegue imitar na sua plenitude.
Sim, os mais informados saberão que alguns países tentaram copiar o estilo e que o utilizam de forma mais ou menos descarada, com frequência recorrendo ao nome original, Porto ou Vinho do Porto, para estimular as vendas. Os plágios, que hoje alguns identificam de forma prosaica como vinhos do “estilo Porto” ou “Port style”, podem assumir, consoante os autores e diferentes países, uma forma mais caricata ou mais séria, mais ignorante e desajeitada ou mais elegante e sofisticada.
As imitações variam entre os vinhos elaborados no antigo território indiano de Goa, vinhos vendidos em garrafão e que muito eventualmente poderão até ser feitos com uvas, até aos exemplos mais bem-nascidos elaborados na África do Sul e sobretudo na Austrália, vinhos “estilo Porto” que ganharam algum reconhecimento internacional e uma vida autónoma. Se as imitações baratas, tanto no preço como na qualidade, são pouco relevantes e apenas moderadamente ameaçadoras para o Vinho do Porto porque facilmente reconhecíveis como produtos de segunda linha, as segundas representam uma ameaça mais séria e são potencialmente provocantes.
Não acreditem nem por um segundo que estes vinhos são inevitavelmente simples, desinteressantes e de qualidade manifestamente inferior, sobretudo quando a ameaça procede da Austrália. Sim, é verdade que a família vintage, o estilo mais valorizado e mais decisivo para o prestígio internacional do Vinho do Porto, está bem segura em mãos portuguesas. Não consegui encontrar nenhum vintage australiano do “estilo Porto” que em qualidade se conseguisse assemelhar sequer à qualidade média dos vintage autênticos. Quando falamos dos melhores exemplares, aqueles que saem das casas costumeiras que representam a excelência do estilo, nomes como Dow’s, Fonseca, Graham’s, Niepoort, Quinta do Noval ou Taylor’s, a distância é maior que um oceano e não se entrevêem melhorias significativas nesta família dos vinhos “estilo Porto” australianos.