A casta dominante é a Syrah, a que melhor resiste ao vento e à erosão do solo. Dá origem a vinhos bastante intensos, estruturados, frescos e com uma grande capacidade de envelhecimento. Os melhores podem durar uma vida. O mais antigo dos Jamet que se provou na vertical do Porto foi um Côte-Rôtie 1988 e estava divinal: interminável, parecia que explodia na boca, numa espécie de fogo especiado e químico avivado por uma soberba acidez. Pela juventude que ostentava, ainda tem mais uns anos pela frente.
Chegou-se ao 1988 ao fim de 10 vinhos, que nos permitiram perceber o perfil de evolução dos tintos Domaine Jamet. Um vinho com dois ou três anos pode parecer um pouco duro e difícil de beber para muita gente, mas uma década depois é capaz de deixar qualquer um de queixo caído. Constatámos isso após provarmos o novo Côte-Rôtie Frutus Volupctus 2012, um tinto cheio de fruta e viço (35 euros), e os Côte-Rôtie 2011 e 2010, mais fino e elegante o primeiro, com os taninos mais bem envolvidos (60 euros), e darmos de seguida um salto até aos anos de 2004 e 2000 (90 euros). Em muitos vinhos uma década é a sua janela de vida. Nestes Côte-Rôtie, é o tempo necessário para começarem a revelar a sua real valia. O 2004, por exemplo, mostrou-se novíssimo, com os taninos ainda bem presentes e um nervo e uma frescura tremendas. Intenso e complexo, é um vinho admirável, muito afinado e com um final apoteótico. O 2000 mostra já um lado mais animal, mas a sua frescura é uma delícia.
Provaram-se depois os tintos de 98, 97, 96 e 89, todos eles muito bons. O primeiro, mais terroso, não nos cativa logo à primeira, precisa de “abrir” no copo. Os restantes são mais “Jamet”, no que isso tem de compromisso entre riqueza, potência, elegância e frescura. Virtudes também presentes no Côte-Rôtie 1999 que Jean Paul Jamet serviu ao jantar, a acompanhar as carnes. Foi o grand finale de uma prova memorável com direito a alguns extras, entre os quais um fantástico Porto branco muito seco e velho da Niepoort.
Os Condrieu de André Perret
Jean Paul Jamet veio acompanhado do amigo André Perret, um produtor da demarcação de Condrieu, a pátria da casta Viognier e que fica a sul de Côte-Rôtie. Perret apresentou brancos 100% Viognier que mostraram o melhor e o pior daquela variedade. O melhor: riqueza, mineralidade, corpo, fruta exótica graciosa; o pior: excesso de álcool e algum défice de acidez, o que torna os vinhos um pouco pesados em novos.
Foram provados um Condrieu básico e pouco interessante de 2012 (23 euros) e dois Crondrieu Chêry, de 2011 e 2012, feitos com uvas de vinhas velhas e estágio em barrica e inox (38 euros). O Chêry 2011 está já mais complexo, mas os seus 15% de álcool sobrepõem-se a tudo o que de bom o vinho tem. Com menos um grau e meio, o Chêry 2012 está muito mais interessante, associando um corpo volumoso a um fundo mais granítico e fresco. Entra gordo na boca mas depois afunila e termina de forma picante e duradoura. Um belo branco.
.