Jean Paul Jamet e a mulher, Corinne, não exibem a imagem glamorosa que associamos aos produtores dos melhores vinhos franceses. Quando pensamos nas pessoas que estão por trás dos grandes champanhes, dos admiráveis tintos e brancos da Borgonha ou dos históricos e monumentais tintos de Bordéus, imaginamos logo gente rica e aristocrática, que vive refugiada dos olhares do mundo em grandes casas e castelos rodeados de imponentes jardins. O casal Jamet é precisamente o oposto: tem a mesma aparência de um qualquer pequeno agricultor português, as mesmas feições rudes que o trabalho do campo vai urdindo, as mesmas mãos encardidas de vinho, a mesma ética dos simples; e, no entanto, produz alguns dos melhores tintos de França, com origem nas encostas íngremes de Côte-Rôtie, no alto Ródano. “Jean Paul é o melhor vigneron do mundo, ao nível do Romanée-Conti”, assegura Dirk Niepoort, o seu importador para Portugal.
No site da Niepoort Projectos, Dirk completa o retrato dos Jamet: “Jamet é o nome de um ‘dinossauro’ que insiste em perdurar. O casal Jamet parece que vive noutro planeta. A adega, que ainda parece estar por acabar (e está mesmo por acabar), é uma grande casa onde se podem procurar diferentes estilos mas todos inacabados. Fora a sala de recepção e os escritórios, tudo parece ter congelado num certo dia aquando da construção, há mais de 10 anos. Tudo o que não tem a ver com o vinho denota uma enorme falta de carinho espantoso. O senhor Jamet é uma força da natureza. Um sujeito duro, músculos fortes e secos. Um personagem austero que quando nos recebe pela primeira vez evita ser simpático e nos olha sempre com um ar desconfiado. Mas, a provar os vinhos com ele, torna-se cada vez mais simpático e instrutivo. Na terceira visita até ficou a agradável sensação de ser bem-vindo”, escreveu o mesmo Dirk no site da Niepoort-Projectos.
Os vinhos são, antes de mais, um trabalho da natureza, mas no caso do Domaine Jamet eles reflectem a austeridade, a “dureza” e a paixão do seu criador. Em novos, mostram logo uma riqueza (de fruta e de taninos), uma pureza (muito mineral) e uma frescura (vegetal e ácida) espantosas, embora não sejam fáceis de beber. Com o tempo, vão refinando a sua estrutura tânica, integrando melhor a madeira (maioritariamente usada) e complexando aromas e sabores, revelando então a sua verdadeira natureza, cheia de carácter, raça e frescura. Com apenas 12,5 a 13% de álcool, são tintos poderosos, que crescem na boca e se prolongam até aos espaços mais recônditos das nossas emoções, deixando uma marca e uma memória inabaláveis. Provados uma vez, são vinhos para toda a vida.
Ao todo, o Domaine Jamet possui cerca de 13 hectares, divididos por inúmeras parcelas situadas nas apellations Côtes-du-Rhône e Côte-Rôtie. Nesta última, tornada famosa por Marcel Guigal — que já foi considerado o melhor enólogo do mundo — os Jamet possuem sete hectares. Côte-Rôtie não é apenas uma encosta, como o nome sugere. A apellation, situada mesmo por cima da cidade de Ampuis, desdobra-se em várias encostas. As mais viradas a sul levam o nome comum de Côte Blonde; as encostas um pouco mais a norte são chamadas de Côte Brune. Apesar de um hectare de vinha custar cerca de um milhão de euros, a maioria dos vinhedos ainda permanece nas mãos de empresas familiares, como é o caso do Domaine Jamet, criado em 1966.