Fugas - Vinhos

A fresca sedução dos espumantes do Norte de Itália

Por Pedro Garcias

Com um moscatel doce de Asti, a Gancia rapidamente se impôs no mercado nacional. A aposta é agora reforçada com o Prosecco, um vinho mais seco e cremoso e voltado para consumidores mais exigentes.

A questão dos vinhos adocicados é vista quase como um sacrilégio entre especialistas, mas os doces são cada vez mais uma realidade incontornável em termos de consumo. E tal como na moda poucos recorrem no dia-a-dia aos modelos que admiramos nas passarelas, também nos vinhos vai uma grande diferença entre os hábitos de consumo e as escolhas dos especialistas.

Uma coisa são as lideranças e outra, bem diferente, as escolhas dos consumidores, uma realidade que se espelha com particular evidência no sector dos espumantes. Entre os quase 15 milhões de garrafas que se vendem anualmente no nosso país, a maioria (à volta de 60%) são das categorias doce e meio seco, ou seja, vinhos adocicados. Números que ajudam a perceber fenómenos como a Gancia, marca que pouco tempo depois do início da comercialização em Portugal já vendia mais de meio milhão de garrafas por ano, quase tanto como os espumantes da região da Bairrada.

A marca italiana associada aos vinhos da região de Asti é hoje, para os portugueses, sinónimo de espumantes aromáticos, leves e de grande atractividade para o consumidor esporádico ou menos especializado, ou seja, a maioria dos compradores. E haverá uma razão para tão rápido sucesso? Aparentemente sim, e a resposta é simples e passa pela atenção às preferências do consumidor, já que a Gancia está longe de ser apenas um produtor de vinhos adocicados. Das suas caves históricas, na localidade de Canelli, em Asti, no Piemonte italiano, saem também refinados espumantes secos e brutos e até vinhos tranquilos, brancos e tintos, de grande qualidade. A grande diferença é que os quase 40 milhões de garrafas que a Gancia vendeu no ano passado para mais de 60 países são na sua quase totalidade orientados para os gostos e preferências dos consumidores locais.

 

Mais suave e frutado

Falar da Gancia é recuar a um tempo anterior à própria unificação da Itália (1861). Seis anos antes já os irmãos Carlo e Eduardo fundavam a empresa que daria origem ao primeiro espumante italiano. Curioso pela qualidade e preferência dos seus compatriotas pelos vinhos espumosos e elegantes que vinham de França, Carlo Gancia decidiu, em 1862, ir durante três anos para as caves de Dom Pérignon para ver como se produzia, regressando ao Piemonte determinado a replicar a receita.

O golpe de mestre residiu no facto de adaptar o método ao gosto local, com as uvas doces, frescas e aromáticas da casta moscatel que eram produzidas nas suaves encostas da zona de Asti. Nascia assim, em 1865, o primeiro espumante italiano, um produto novo e original , com um sabor mais suave e frutado resultante das características locais das uvas moscatel. O Moscato Champanhe, como foi designado até que os franceses garantiram o uso exclusivo da designação.

Mas não foi, contudo, um caminho fácil, já que foi preciso algum tempo até que o engenhoso Carlo Gancia conseguisse domar por completo a mistura entre o açúcar natural daquelas uvas moscatel e o gás resultante da fermentação em garrafa. Nos primeiros tempos estouravam como bombas, de tal modo que a cave da empresa onde tudo começou ainda hoje é designada por “la polvoriera”, o sítio onde as garrafas explodiam como pólvora.

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