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Covela entra para o topo do campeonato francês

Por José Augusto Moreira

Depois da histórica Quinta da Boavista e da exploração da Quinta das Tecedeiras, a Lima Smith acaba de entrar no capital da Champy, a mais antiga casa de vinhos da Borgonha.

Depois do Douro, os proprietários da Quinta da Covela alargam a sua influência aos vinhos franceses, entrando, assim, numa competição onde marcam presença os melhores do mundo. Em linguagem competitiva, quer isto dizer que a Lima Smith, a empresa de capitais brasileiros que desde 2011 assumiu o projecto de recuperação dos vinhos da Covela, entra agora no campeonato francês. Mas não é uma entrada qualquer, já que a associação se faz com a casa Champy, que é não só o mais antigo negociant da Borgonha (desde 1720) como produz também vinhos em terroirs que fazem a história dos grandes vinhos do mundo, como é o caso de Mersaul, Clos Vougeot, Chassagne-Montrachet ou Chablis.

Embora não queiram divulgar os números envolvidos no negócio, a Fugas apurou que os donos da Covela adquiriram uma parte importante do capital da Champy. Uma participação minoritária mas com números já na casa dos dois dígitos, num negócio que contempla também uma opção de compra que pode ir até aos 50% e que terá que ser concretizada até ao final do próximo ano.

No que respeita aos vinhos portugueses, tanto da Covela como das quintas da Boavista e das Tecedeiras, no Douro, também detidas desde o ano passado pela Lima Smith, a parte interessante do negócio é que Pierre Bouchet, o homem forte da Champy e agora sócio dos donos da Covela, é também o principal accionista da DIVA, uma poderosa rede de distribuição internacional de vinhos e com presença em praticamente todos os mercados.

“Obviamente que é muito importantes para os nossos vinhos. A distribuidora está presente em territórios privilegiados, estão por todo o lado, e é claro que já começamos a falar com eles sobre a distribuição dos nossos vinhos”, diz Tony Smith.

Para lá da presença em todo o mundo, Smith destaca a forma como a DIVA está estruturada, com filiais instaladas em cada mercado e vocacionadas ora para a exportação ora para a importação. “Em Espanha, por exemplo, fazem apenas exportação, enquanto no Japão a actividade já é exclusivamente importadora. Caso elucidativo é o dos EUA, onda a filial de Nova Iorque só importa, enquanto a da Califórnia se dedica apenas à exportação”, explica ainda o antigo correspondente da Associated Press e do The New York Times, que em 2011 se associou ao empresário brasileiro Marcelo Lima para comprarem a Covela.

A quinta, localizada na margem do Douro e no limite nascente da região dos Vinhos Verdes, e que fora um dos mais interessantes projectos de viticultura, estava há anos abandonada, depois de ter caído no enredo judicial dos capitais do BPN. Com um investimento inicial a rondar os cinco milhões de euros, a Lima Smith rapidamente trouxe de volta à ribalta os vinhos da Covela, voltando-se também para o Douro, onde no ano passado comprou à Sogrape a emblemática Quinta da Boavista, ao mesmo tempo que assumia a exploração da Quinta das Tecedeiras.

Boavista Vinhas Velhas

Desta última está agora a ser lançado o Flor das Tecedeiras, da colheita de 2013. Um vinho sem madeira, mais elegante e natural e que procura contrariar o estilo denso e robusto de muitos vinhos da região. Seguindo a lógica da recuperação da Covela, para onde levaram de volta o enólogo Rui Cunha, que esteve na origem do projecto, também nas Tecedeiras a enologia está a cargo de Carlos Lucas, responsável pelo projecto inicial da Dão Sul. “São quem conhece melhor as vinhas, o que lá está, aquilo que falta e para onde pode evoluir”, justifica Tony Smith.

E enquanto o Flor das Tecedeiras poderá entrar proximamente na distribuição da DIVA, o mesmo não vai acontecer com os vinhos da Covela. Porquê? “É que já não temos vinho. A produção do ano passado está já praticamente toda vendida”, diz Smith, explicando que vai maioritariamente para os EUA e Brasil e que o problema da Covela ainda é, por enquanto, de escassez de produção. Devido ao abandono prolongado, foi preciso recuperar grande parte das vinhas, um trabalho que não está ainda finalizado. Mesmo assim, no último ano praticamente duplicaram a produção, para as 60 mil garrafas, e preparam também uma boa evolução com a próxima vindima.

Além da Covela, a equipa de Rui Cunha é também responsável pela enologia na Quinta da Boavista, onde na última vindima colheram apenas os patamares de vinhas velhas. Um trabalho cuidadoso, com vinificação barrica a barrica e cuja evolução está a ser acompanhada com todos os cuidados. “Tem que ser top. Uma coisa muito especial e à altura da história e dos pergaminhos da quinta”, anuncia Tony Smith, prevendo que o vinho possa sair para o mercado lá para 2015. E então entrar também na distribuição da DIVA.

Quanto à Borgonha, além do peso histórico e do estatuto de mais antigo negociant, a casa Champy está também sediada em Beaune, capital do vinho da região. Para lá da exploração directa de 28,5 hectares de vinhas nas mais prestigiadas parcelas, acompanha também a produção de alguns dos melhores pequenos produtores da região aos quais compra uvas. Tudo sempre produzido em regime biodinâmico, segundo o calendário lunar, com trabalho artesanal e recusa do uso de pesticidas.

Em Champy foram produzidas em 440 mil garrafas em 2013, correspondendo a 52 diferentes vinhos. Destes, 10 são da categoria mais elevada, os grand cru, 13 premiere cru, 25 village e 4 vinhos regionais.

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