Fugas - Vinhos

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Opinião: Estaremos a apostar no cavalo certo?

Falamos muito sobre as nossas castas mas investigamos pouco, sobretudo no sentido mais prático sobre a sua utilização. Por vezes elaboramos estudos académicos que poderão até ser considerados brilhantes mas que, infelizmente, surgem despidos de qualquer aplicação prática, são destituídos de qualquer ligação à vida prática, sem aproveitamento real para a viticultura e produção nacional. Arriscamos pouco na tentativa de recuperar ou ensaiar castas portuguesas esquecidas estreitando cada vez mais o número de castas que realmente utilizamos. Para além da tragédia ambiental que está associada à perda de biodiversidade e à aniquilação de séculos de evolução da natureza este estreitar de opções é não só incompatível com a promoção de um dos países mais ricos em castas como significa um estrangulamento da profundidade e complexidade dos vinhos nacionais.

Aprendemos muito pouco com o passado e poucos procuram estudar ou recuperar castas antigas, castas que já foram importantes em cada uma das regiões nacionais mas que por circunstâncias diversas acabaram por perder a sua popularidade. Quantos segredos estaremos a perder só por desleixo, por falta de incentivos, por ausência de estudo sério do passado? Não podemos esquecer que algumas das castas que neste momento mais valorizamos, como por exemplo a Touriga Nacional, ainda recentemente eram consideradas castas proscritas e de arranque recomendado. Não nos podemos esquecer que castas que num passado recente eram consideradas excepcionais e vivamente recomendadas, como por exemplo a Tinta Roriz/Aragonez ou a Trincadeira, são hoje castas em acentuado declínio e em franca queda de popularidade.

Salvo algumas honrosas e muito louváveis iniciativas individuais ou institucionais, a maiorias dos produtores e entidades certificadoras regionais pouco se preocupa com a recuperação ou estudo das castas antigas de cada região. É assim que percebemos que castas anteriormente elogiadas como o Galego Dourado, Ramisco, Malvasia de Colares, Negra Mole, Folgasão, Trincadeira das Pratas, Perrum, Vital, Marufo e tantas outras vão rapidamente perdendo terreno para muito em breve poderem ser consideradas virtualmente extintas das nossas vinhas. E entretanto continuamos a assistir a novas plantações de Petit Verdot, Vognier, Nebbiolo, Riesling e tantas outras variedades forâneas que dificilmente poderão acrescentar algo aos vinhos portugueses...

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