Fugas - Vinhos

  • A Campolargo é um produtor inconformadoe irreverente, que junta o antigo e o novo, castas históricas da região e outras de todo o mundo
    A Campolargo é um produtor inconformadoe irreverente, que junta o antigo e o novo, castas históricas da região e outras de todo o mundo DR
  • Os vencedores
    Os vencedores DR

Como é maravilhoso o mundo dos vinhos da Bairrada

Por José Augusto Moreira

Por entre o debate sobre as castas, as tradições e o peso histórico dos grandes vinhos do século passado, a Bairrada vive uma dinâmica vivificadora da qual resultam vinhos cada vez melhores e mais aperfeiçoados. Brancos, tintos e espumantes, de Baga e com castas de outras origens, mas sempre com a marca própria do território.

Para lá dos debates sobre o predomínio da Baga, da adopção de castas internacionais ou das técnicas de vinificação, na região da Bairrada há uma espécie de dinâmica vivificadora que se traduz em vinhos cada vez mais interessantes e ao mesmo tempo marcados pela identidade local. E o que é importante notar é que tudo isto é válido tanto para os vinhos que seguem o modelo da tradição como para aqueles que resultam da aplicação das mais modernas orientações de produção e vinificação.

A conclusão, portanto, bem pode ser a de que, para a Bairrada, o que verdadeiramente conta é a localização, as condições de solo e clima que são capazes de transportar para os vinhos características específicas e diferenciadoras. Aquilo a que na linguagem específica se designa por terroir.

Mas nem por isso a discussão e debate deixa de fazer sentido. É dela que parece, claramente, resultar esse efeito vivificador, já que daí resulta um cada vez maior conhecimento das diversas parcelas e tipos de solos, das castas e respectivo comportamento, e, com isso, uma crescente capacidade para obter vinhos melhores e mais aperfeiçoados.

Tudo enriquecido por uma história e tradição de grandes vinhos e com uma invulgar capacidade de perdurarem no tempo, como ficou evidente com mais uma edição do Encontro com o Vinho e Sabores da Bairrada.

A par das novidades recentes, do concurso anual de vinhos e espumantes promovido pela respectiva comissão de viticultura, a oportunidade também para uma prova memorável com vinhos históricos da região. E quantas regiões no mundo se podem dar ao luxo de dar a provar vinhos, brancos e tintos, com dezenas de anos de garrafa e ainda magníficos e sedutores?

Um mundo maravilhoso, o dos vinhos da Bairrada actual, pelo menos na perspectiva do consumidor. Com novos e velhos produtores, estilos e perfis diversificados, tintos, brancos e espumantes com personalidade diferenciadora, uma invulgar aptidão gastronómica, e capazes de seduzir o mais exigente dos consumidores.

O caso Campolargo

Uma dinâmica que, por diferentes caminhos e aparentes dúvidas e contradições, acaba por revelar vinhos únicos e de grande carácter. Um contexto que bem pode ser exemplificado com a casa Campolargo, um produtor irreverente e inconformado, que junta o antigo e o novo, castas históricas da região e outras de todo o mundo, e produz vinhos que, sendo diversos, acabam por expressar sempre também a marca do território bairradino.

O reconhecimento chegou recentemente, com a escolha do branco Cerceal de 2011 como o melhor do mundo no International Wine Chalenge. Prémio tanto mais importante e revelador quanto o concurso é tido como o mais exigente e rigoroso de quantos se realizam anualmente por esse mundo fora.

A par do prestígio e reconhecimento para região, premeia sobretudo um produtor irreverente e pode até funcionar como precioso bálsamo para aqueles que fazem do empenho e persistência a sua estratégia. É que o vinho, com uma produção reduzida de pouco mais de um milhar de garrafas, estava já a ser devolvido por restauradores e distribuidores, alegando a evolução que supostamente afastaria os potenciais consumidores. Acabou recomprado pelos mesmos, que o venderam agora multiplicando em muitos casos várias vezes o preço.

Apontado frequentemente como rebelde e desalinhado por não se cingir às castas e às convenções da região, Carlos Campolargo prefere contextualizar a tradição e defende a utilização de castas estrangeiras, desde que adaptadas às condições da região. “Não sou inimigo da Baga, mas a Baga não é o nosso único amigo”, enfatiza, dizendo que é preciso situar os vinhos da Bairrada numa perspectiva histórica.

“A casta mais antiga e mais plantada era provavelmente o Castelão Nacional, de que temos algum nas nossas vinhas mas que praticamente já desapareceu. A Baga só veio depois da filoxera e é preciso notar também que nos grandes garrafeiras do século XX que deram prestígio à Bairrada era a Baga misturada com uvas que vinham de fora da região, do Dão e do Douro”, precisa o produtor.

Campolargo lembra que também o paradigma da produção mudou radicalmente. “Antes o vinho era produzido para dar de comer e alimentar a economia familiar. Era uma importante fonte de calorias face à pobreza alimentar, enquanto hoje em dia os vinhos são para apreciar e degustar. Daí a moda dos varietais, que é útil e necessária”, conclui.

Mas frisa que “o grande vinho é sobretudo imperfeição”. “Nem bago-a-bago, nem baixas temperaturas, nem enzimas nem leveduras. É feito como sempre foi e para beber dois a três anos depois de estar na garrafa.”

É assim que é feito o Rol de Coisas Antigas, com um lote de vinhas velhas cuja variedade de castas tintas se mantém fiel aos vinhos históricos da região, ou o singular Alvarelhão, a partir de outra das castas já praticamente desaparecidas. E é também como “um vinho feito como no tempo” dos seus avós que Carlos Campolargo gosta de caracterizar o premiado Cercial.

Nada disto, no entanto, o impede de produzir um extraordinário vinho com castas francesas e ao melhor estilo de Bordéus, e por isso se chama Calda Bordalesa, mas há também entre os varietais um tinto de Baga que todos os anos é engarrafado, se bem que Carlos Campolargo entenda que “para os espumantes e a produção pelo método champanhês a Pinot é a casta que melhor funciona”.

Com um total de 29 castas e produção própria, a casa Campolargo engarrafa actualmente 35 diferentes vinhos e espumantes. Todos diferentes, mas com a frescura e intensidade identificadoras do terroir bairradino

Os melhores do ano

É precisamente para distinguir os vinhos certificados pela Comissão Vitivinícola Regional da Bairrada que todos os anos se realiza o concurso de vinhos e espumantes da região. Agora integrado no Encontro de Vinhos e Sabores, o concurso contou com a participação de um total de 76 vinhos, que foram avaliados em prova cega por um júri que integrava críticos, enólogos, escanções, jornalistas das especialidade e representantes do comércio.

Entre os 21 prémios atribuídos (14 ouro e 7 prata), destacou-se a presença da Adega Cooperativa de Cantanhede, com seis distinções, seguida pela Quinta do Encontro, com três prémios, as Caves S. Domingos e a Quinta dos Abibes, com duas distinções cada. Além das medalhas, o júri escolheu ainda aqueles que considerou como os vencedores absolutos. Melhor espumante para o Aliança Vintage branco 2008; melhor espumante Baga para o Casa de Sarmento Brut de Baga branco 2009; melhor vinho para o Marquês de Marialva Arinto Reserva branco 2013.

Destaque para o apreço do júri por espumantes que são lançados no mercado já com algum tempo de estágio, uma característica que, também nos borbulhosos, parece distinguir os produtos bairradinos.

Realce também para o facto de se tratar de um branco no caso do vencedor absoluto nos vinhos, produto mais uma vez da Adega de Cantanhede. A cooperativa é responsável por cerca de metade dos vinhos que a região certifica anualmente e há muito que é conhecida a qualidade dos Braga que dali saem. Pelos vistos, destaca-se também nos brancos, o que atesta a qualidade do trabalho enológico que nos últimos tempos ali vem sendo levado a cabo sob a supervisão do reconhecido Osvaldo Amado, que, entre os premiados, é também o responsável pela enologia da Quinta do Encontro.

IV Concurso de Vinhos e Espumantes da Bairrada

Melhor Vinho – Marquês de Marialva Arinto Reserva branco 2013

Melhor Espumante: Aliança Vintage branco 2008

Melhor Espumante Baga: Casa de Sarmento Brut de Baga branco 2009

Medalhas de Ouro

Tintos

Pinho Leão 2011

Quinta dos Abibes Sublime 2010

Encontro1 2009

Marquês de Marialva Confirmado Baga 1991

Castel Venegas 2013

Brancos

Marquês de Marialva Arinto Reserva branco 2013

Quinta dos Abibes Sublime 2010

Rosé

Quinta do poço do Lobo Baga/Pinot Noir Reserva 2013

Espumantes

Aliança Vintage branco 2008

Casa de Sarmento Brut de Baga branco 2009

Marquês de Marialva Bical/Arinto Reserva branco 20111

Marquês de Marialva Cuvée branco 2010

Primavera Unum Touriga Nacional branco 2012

São Domingos Baga branco 2008

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