Fugas - Vinhos

  • A Confraria da Cerveja em brinde
    A Confraria da Cerveja em brinde DR
  • Ana Margarida Andrade, a primeira consumidora entronizada
    Ana Margarida Andrade, a primeira consumidora entronizada DR
  • Insígnias da Confraria da Cerveja
    Insígnias da Confraria da Cerveja DR
  • Nuno Pinto de Magalhães, Grão-Mestre da Confraria
    Nuno Pinto de Magalhães, Grão-Mestre da Confraria DR
  • Durante o jantar da festa
    Durante o jantar da festa DR
  • Uma fotografia de grupo no Funchal
    Uma fotografia de grupo no Funchal DR

Ana Margarida no mundo da cerveja

Por Patrícia Carvalho

Pela primeira vez, a Confraria da Cerveja entronizou um consumidor. No caso (e via uma passatempo da Fugas), uma consumidora, Ana Margarida Andrade. Acompanhamos a nova confradesa durante a XII Entronização da Confraria, que se realizou na Madeira. Da festa às cervejas, vamos do cerimonial a um salto à fábrica onde se produzem marcas clássicas madeirenses.

Não. Não foi a paixão desmesurada por cerveja que levou Ana Margarida a concorrer ao passatempo da Fugas que iria escolher o primeiro consumidor a ser entronizado como confrade ou confradesa da Confraria da Cerveja. Nem sequer foi a cereja no topo do bolo de, este ano, a entronização acontecer, pela primeira vez, fora do território continental e acontecer na Madeira. A psicóloga de 28 anos decidiu concorrer, porque, diz: “Não me custa nada escrever. Quando vi que era um passatempo em que tinha de escrever sobre cerveja, que é algo que consumo com alguma frequência, achei que era um desafio que conseguia realizar de facto”.

Ana Margarida MacKay Andrade fala com a Fugas já de caneca de cerveja na mão, ainda com o corpo envolvido pela capa amarela-tom-de-cerveja e o chapéu que recebeu na cerimónia que terminou há minutos. Acabou de ser requisitada para integrar duas selfies de outros confrades, depois de ter sido aplaudida de pé no momento de subir ao palco do Teatro Municipal Baltazar Dias, onde decorreu a entronização. “Não estava à espera de tal honra nem de tal cerimónia”, diz, um pouco tímida, acabando por confessar mais tarde que foi “um bocadinho assustador” ser o centro das atenções da cerimónia que decorreu no passado dia 18 de Outubro.

Ela não era a única estrela do dia. Entre os entronizados como confrades de Honra estavam o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, a actriz Paula Lobo Antunes, a apresentadora Ana Rita Clara, o jornalista Álvaro Costa ou o CEO do grupo Impresa, Pedro Norton. E todos eles tiveram direito a subir ao palco do teatro, onde receberam o chapéu e o crachá indicando a categoria de entronizado, mas só Ana Margarida, a última a ser chamada ao ponto mais importante da sala, foi aplaudida de pé. Antes, o grão-mestre da confraria, Nuno Pinto de Magalhães, explicara o porquê desta distinção: “Os últimos são os primeiros. Vamos entronizar o primeiro confrade consumidor, a nossa razão de viver.”

E o que disse Ana Margarida na declaração de amor que fez à cerveja e que era pedida aos participantes no passatempo? Ela disse, ou melhor, escreveu: Crescemos a ver o bigode do nosso pai salpicado da espuma branca da cerveja enquanto se deleita de copo na mão. Mais tarde, a cerveja refresca-nos no calor, ouve as nossas lamúrias e paixões, sem nunca nos deixar ficar mal. Está lá nos momentos mais importantes das nossas vidas e saúda-nos na alegria. Dá-nos ânimo após uma má notícia e abre novos caminhos que celebramos. Mesmo na partida ela nos acompanha lembrando que irá haver um recomeço.

“Fiquei bastante contente e, de facto, não esperava ganhar. Fiz um pequenino, pequenino texto e fiquei feliz por ser escolhida. Além disso, não posso negar que não é todos os dias que se vai à Madeira”, confessou a directora pedagógica de um centro de explicações em Guimarães e estudante do mestrado em Marketing e Estratégia, na Universidade do Minho, quando já estava no avião, de regresso ao continente.

Para trás ficava a cerimónia e tempo livre para passear pelo Funchal. Ana Margarida chegou à ilha pelas 9h da manhã do dia 18 e confessa que “depois de dormir uma horinha” no quarto que lhe destinaram no Pestana Casino Park Hotel, desenhado por Oscar Niemeyer, desceu até ao centro do Funchal, ali ao lado, “para conhecer o centro”. Ela, que nasceu nos Açores, mas vive em Braga, até já tinha estado na Madeira em criança, provavelmente, quando o pai ainda tinha o bigode que, entretanto, cortou, mas admite que já não tinha memória da ilha.

O passeio teve de terminar antes das 16h, quando no foyer do Baltazar Dias, em plena baixa do Funchal, se começaram a servir as primeiras de muitas cervejas. Os que vão ser entronizados – além dos confrades de Honra há ainda os confrades Protectores (parceiros da indústria cervejeira, institucionais ou não) e os confrades Mestre (membros da indústria cervejeira) – aguardam no exterior, já de capa mas ainda sem os chapéus que só podem ser colocados depois de se tornarem confrades nem os crachás que são aplicados nas capas nessa altura.

Bebe-se ao sol quente e húmido da Madeira, quando chega Alberto João Jardim e, instantaneamente, se torna o centro das atenções, levando uma das confradesas a anunciar, para o grupo que a acompanha em mais uma bebida que “chegou a estrela”. Já passa das 17h quando, ao som de aplausos, os membros e futuros membros da confraria entram na sala principal do teatro, para a longa cerimónia de entronização que, claro, só podia terminar com um brinde com mais um copo de cerveja, que homens e mulheres fardados distribuíram, entretanto, por todo o auditório, depois das 18h30.

Já começa a fugir a luz quando o grupo faz um pequeno desfile pelas ruas do centro, até à Praça da Assembleia. Os turistas tiram fotografias sem saber a quê, mas alguns perguntam o que se passa e mostram-se participantes entusiastas quando percebem que, ali, no fim do desfile, se distribui cerveja de graça a quem se aproxima. Mais um copo, uma fotografia de grupo (e muitas selfies) e todos regressam ao teatro, onde um jantar volante os aguarda.

À refeição é servida a Coral madeirense, mas também a Sagres e a Super Bock, mas Ana Margarida, como verdadeira confradesa, que prometeu “honrar e defender” a confraria, bem como “promover e defender a cerveja portuguesa”, assume uma posição diplomática e não escolhe qualquer uma como a sua preferida. “Gostei da Coral, mas gosto sempre de ir experimentando todas”, diz.

Numa ilha da cerveja

No dia seguinte, a primeira consumidora entronizada pela Confraria da Cerveja tem o dia livre para passear pela ilha e aproveitar as comodidades do hotel de cinco estrelas, mas muitos dos participantes rumam ao pólo empresarial da Empresa de Cervejas da Madeira para um seminário e uma visita à fábrica que produz a Coral, além dos refrigerantes Brisa e Brisol (sem gás) e a água de mesa Atlântida.

Nuno Branco, o director de produção, guia os convidados pela fábrica parada (é sábado) e explica como a recente campanha de retorno de garrafas conseguiu uma taxa de reversão acima dos 30% em apenas seis meses. “Se antigamente as pessoas retornavam as garrafas, porque é que agora não o fazem?”, diz. Sem produção vidreira na ilha, as garrafas têm de ser importadas do continente, pelo que o reaproveitamento é importante para a indústria, explica o responsável da ECM.

A Coral, na Madeira, é rainha. Ela representa entre 60% e 70% do consumo de cerveja na ilha e a fábrica é local obrigatório de visita para os alunos das escolas, começando a cativar também alguns turistas. “Eles querem levar rótulos e garrafas de recordação. E temos tido contactos agradáveis de pessoas que depois querem ter os nossos produtos no país deles. Por isso, às vezes, exportamos pequenas quantidades para esses sítios”, conta Nuno Branco.

Para visitar a ECM basta telefonar a fazer o pedido e marcar. Só não vai encontrar ainda uma loja com o merchandising da fábrica, para lamento do responsável pela produção que diz andar a batalhar por isso “há 20 anos”.

Os confrades já devolveram as capas que serão guardadas pela confraria até à próxima cerimónia. Ao longo da tarde, começam a partir os aviões que hão-de levar os participantes de fora da Madeira de regresso a casa. Ana Margarida já guardou a caneca oferecida aos novos confrades, e também já não se vêem o crachá e o chapéu. Voltou a ser só a psicóloga e a estudante de mestrado que gosta de beber cerveja. Mas já leu os estatutos da confraria. E promete cumpri-los. E, havendo oportunidade, quer estar presente na próxima entronização- “Talvez acompanhe o próximo consumidor que aí vem”, diz, sorridente. No avião, não bebeu cerveja.

 

A Fugas viajou a convite da Confraria da Cerveja

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