Fugas - Vinhos

  • DR
  • DR
  • DR

Uma história de sucesso com apenas 18 anos

Por Pedro Garcias

Nos últimos anos, os vinhos da Quinta Vale D. Maria têm ocupado um lugar cimeiro nos rankings das mais influentes revistas internacionais do sector. Uma história de sucesso que começa pouco depois da venda da Quinta do Noval pela família Van Zeller à seguradora Axa.

O primeiro vinho da duriense Quinta Vale D. Maria só foi produzido em 1996, e em adega emprestada, mas desde então a empresa liderada por Cristiano Van Zeller, que leva o nome comercial de Lemos & Van Zeller, tornou-se numa das casas de vinhos melhor pontuadas pelas principais revistas internacionais do sector.

Apesar de ser o elemento mais pequeno dos Douro Boys, já por si os mais bem pontuados do país, a Lemos & Van Zeller tem vindo a destacar-se no seio do grupo nos últimos anos, ao ponto de já ter sido o produtor português com a melhor classificação na revista americana Wine Advocate, de Robert Parker, em 2005, 2006, 2008 e 2009, com os vinhos Quinta Vale D. Maria e CV- Curriculum Vitae.

A revista já classificou 969 vinhos portugueses  (757 tintos e 212 brancos e excluindo Porto, Madeira e outros fortificados) com 90 a 100 pontos e o Douro (com 403 tintos e 73 brancos) e os Douro Boys (com 125 tintos e 26 brancos) são os grandes protagonistas. Desta lista, 32 vinhos são da Lemos & Van Zeller.

Por sua vez, a também americana Wine Spectator já distinguiu 480 vinhos portugueses com 90 a 94 pontos (450 tintos e 30 brancos e excluindo Porto, Madeira e outros fortificados). Do total, 426 são do Douro (405 tintos e 21 brancos), 135 pertencem aos Douro Boys (120 tintos e  15 brancos) e destes 28 são da Lemos & Van Zeller. A mesma revista já atribui 95 a 100 pontos a 33 vinhos portugueses (excluindo Porto, Madeira e outros fortificados), todos com origem no Douro. Destes, 27 são dos Douro Boys e quatro deles têm a assinatura da Lemos & Van Zeller.

Dos cinco Douro Boys (Quinta do Crasto, Quinta do Vallado, Niepoort, Quinta Vale D. Maria e Vale Meão), a Quinta do Crasto é a que possui maior número de vinhos com mais de 90 pontos tanto na Wine Spectator como na Wine Advocate - as duas revistas mais influentes. A Niepoort vem logo a seguir. Mas o grande mérito da Lemos & Van Zeller é ter chegado ao estrelato em menos tempo e após ter sido “aprendiz” dos outros elementos do grupo.

Quando, em 1993, Cristiano Van Zeller teve que abandonar a gestão da Quinta do Noval, após a sua família ter vendido esta casa histórica ao grupo vitícola da companhia de seguros AXA, começou a refazer a carreira na Quinta do Crasto, colaborando na produção de vinhos do Porto e de mesa e na sua promoção internacional.

Foi aqui que se cruzou com o australiano David Baverstock, hoje o enólogo principal da Herdade do Esporão. Cristiano já tinha feito alguns ensaios com vinhos tranquilos na Quinta do Noval, através da mistura de castas e de micro vinificações de algumas variedades, mas foram as experiências trocadas com David Baverstock (no Crasto), Dirk Niepoort e Francisco Olazabal (no Vallado) que o motivaram a criar o seu próprio projecto.

O passo decisivo deu-se em 1996, com a compra da Quinta Vale D. Maria, ligada à família da mulher, Joana, e situada na encosta virada a sul do vale do Rio Torto, no concelho de S. João da Pesqueira. Nos primeiros cinco anos, Cristiano van Zeller fez os vinhos em adegas emprestadas (no início na Quinta do Crasto, depois na Quinta do Vallado), nunca mais de 10 mil garrafas por ano, apenas uma pequena parte do que a quinta podia produzir. Só a partir de 2001 é que a vinificação passou a ser feita na Quinta Vale D. Maria.

A primeira grande distinção aconteceu em 2005, quando a Wine Advocate atribuiu 95 pontos ao tinto CV. Mas o momento de glória chegou com o Quinta Vale D. Maria Tinto 2009, que mereceu dos provadores de Robert Parker 96 pontos, a mais alta pontuação dada até então por aquela revista a um vinho português não fortificado (essa marca já foi superada pelo duriense Quinta do Fojo Tinto 2001, que obteve 97 pontos; na Wine Spectator a melhor pontuação pertence agora a outro vinho do Douro, o Pintas 2011, com 98 pontos).

A que se deve, afinal, o meteórico sucesso dos vinhos da Quinta Vale D. Maria? A equipa de viticultura (Luís Menezes) e de enologia (Sandra Tavares da Silva e Joana Pinhão) tem um papel decisivo, mas o elemento primordial está na “enorme diversidade” de altitudes, exposições e castas que existe nos 45 hectares de vinha explorados pela Lemos & Van Zeller, como sublinha Cristiano van Zeller.

“Na realidade, somos uma espécie de pequena ‘Borgonha’, onde cada parcela é um ‘cru’ especial e único, multiplicado pelas extraordinárias combinações que advêm da mistura de castas. Esta ideia de uma pequena ‘Borgonha’ não é apanágio só da Quinta Vale D. Maria. Todo o Douro pode, e deve, ser olhado dessa maneira”, diz.

Dos 28 hectares de vinha que a Quinta do vale D. Maria possui, 14 hectares são de vinhas com mais de 60 anos de idade e 41 castas diferentes e todas misturadas. Da restante área, 9,5 hectares têm 35 anos e 4,5 foram plantados entre 2004 e 2007.
Por outro lado, há uma aposta clara na pisa em lagares de granito, ao ponto de Cristiano van Zeller pretender nos próximos dois anos substituir todas as cubas de fermentação em inox por lagares de granito.

Finalmente, a localização das vinhas é privilegiada. “O vale do rio Torto é, para mim, a zona do Douro onde, numa área relativamente pequena, podemos encontrar a maior diversidade e complexidade nas vinhas e, consequentemente, nos vinhos. São ricos, estruturados mas suaves e macios, com uma acidez natural incrível, de grande profundidade e longevidade”, enfatiza Cristiano van Zeller.

É essa simbiose de poder e elegância que se encontra nos vinhos da Quinta do Vale D. Maria, sobretudo a partir de 2001. São vinhos imponentes e impressivos que reflectem o lugar e as condições climatéricas de cada ano. São, acima de tudo, vinhos que cheiram e sabem a Douro e que expressam de uma forma notável toda a riqueza da geografia acidentada da região.

Seis vinhos de antologia

Quinta Vale D. Maria Tinto 2001
Madureza e frescura balsâmicas de mãos dadas. Grande prova de boca, com os taninos e a acidez bem vincados. Um vinho ainda com muitos anos de vida (40 euros).

Quinta Vale D. Maria Tinto 2004
É um daqueles Douro que nos passam pela boca como um vendaval. Nariz de grande complexidade, cheio de notas químicas e balsâmicas, palato volumoso, rico e profundo, com taninos de alto gabarito bem acolitados por uma acidez gloriosa. Um tinto enorme (40 euros).

Quinta Vale D. Maria Tinto 2009
Mesmo tendo um teor alcoólico de 15%, é um tinto cheio de garra, musculado e delicado ao mesmo tempo, sólido mas digestivo. Um verdadeiro gigante de veludo que é ao mesmo tempo um exemplo perfeito das virtudes do equilíbrio num vinho (40 euros).

Quinta Vale D. Maria Vinha da Francisca Tinto 2012
Neste tinto, há um grande predomínio da casta Sousão,o que explica a sua extraordinária frescura e vivacidade. Um vinho muito rico e impressivo (67 euros).

Quinta Vale D. Maria Vinha do Rio 2012
É o “grand cru” da quinta, proveniente de vinhas velhas situadas na parte inferior da quinta. Possui um aroma delicado e inebriante e uma grande complexidade e riqueza gustativa. Extraordinário. (120 euros)

CV-Curriculum Vitae Branco 2013
É o primeiro branco da gama CV. Foram produzidas apenas 600 garrafas a partir de uvas compradas no concelho de Murça. De aroma finíssimo, a puxar para o cítrico, mostra uma muito boa integração da madeira, que não se sobrepõe à fruta. É um branco austero, bastante mineral e com um fim de boca arrebatador, bem avivado por uma magnífica acidez (45 euros).

--%>