Fugas - Vinhos

MOLLY RILEY/REUTERS

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O maior mercado do mundo… e os vinhos portugueses não estão lá

Segundo porque o país tem uma dimensão continental e é uma nação federal, dividida em estados com legislação e regulamentos diferentes que podem ser quase incompatíveis entre si. A maioria dos importadores limita-se a cobrir um estado, o que implica maiores custos logísticos, maior dificuldade em entrar e em ter uma representação plural.

Terceiro porque a restauração, e principalmente a gastronomia portuguesa, está praticamente ausente das pequenas, médias e grandes urbes norte-americanas… e quando existe está, na maioria dos casos, restringida ao espaço das comunidades portuguesas. Com uma gastronomia absolutamente desconhecida do grande público, e sem uma rede de restaurantes que defendam as cores nacionais, perde-se o canal de distribuição mais directo para a divulgação generalizada dos vinhos lusos.

Quarto, e talvez a questão mais importante, menos conhecida e a menos abordada, porque a maioria dos produtores portugueses tem uma dimensão reduzida, não tem escala e não tem capacidade para satisfazer quantidades razoáveis, apresentando-se assim como um país pouco atraente para os comerciais das importadoras, para aqueles que vão andar na rua a calcorrear garrafeiras, restaurantes e supermercados, aqueles que vão vender o vinho e que podem verdadeiramente fazer ou desfazer uma marca comercial.

O problema é que os comerciais norte-americanos não têm na prática, por tradição cultural, um ordenado-base. Acresce-se que o sistema de vendas instituído de forma quase universal assenta no modelo de quotas que têm de ser cumpridas de forma religiosa, obrigando a que o somatório dos rendimentos advenha exclusivamente das comissões de venda. E um país que não consegue oferecer escala e quantidade fica quase condenado ao esquecimento num sistema tão dependente desta forma de remuneração. Quantos comerciais norte-americanos terão a preocupação de vender e se interessar pelos vinhos nacionais quando sabem que os vinhos portugueses se vendem à caixa enquanto os vinhos equivalentes em categoria de produtores chilenos, argentinos, australianos, italianos ou espanhóis podem ser vendidos à palete e sem restrições de volume?

E este é um dos maiores dramas dos vinhos nacionais no maior mercado do mundo, a escala reduzida que dissuade muitos dos comerciais… que por sua vez perpetua o desconhecimento sobre os vinhos portugueses, sobre os méritos e valor de Portugal enquanto país produtor. É uma espécie de pescadinha de rabo na boca que nos tem prejudicado e que nos continua a desfavorecer, um problema do qual só poderemos sair insistindo na educação como forma de promoção e divulgação daquilo que realmente nos diferencia do resto do mundo, as castas nacionais, a arte do lote, o vinho em lagar, a pisa a pé, as ânforas de barro do sul de Portugal e demais especificidades e particularidades do nosso pequeno mundo do vinho.

 

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