Fugas - Vinhos

Nelson Garrido

Continuação: página 2 de 2

Monção e Melgaço, Alvarinho e o caminho da diferenciação

Mas existem outras alternativas que poderão ajudar a definir os anos vindouros. Uma dessas alternativas, talvez a de mais difícil concretização, seria aproveitar o processo legislativo italiano para tentar criar uma denominação equivalente ao DOCG italiano, uma classificação que indicasse a sub-região de Monção e Melgaço como indicação Vinho Verde Superior ou outro palavreado de consequências semelhantes. Não será fácil pelas diferentes interpretações da lei, pelas alterações legislativas que seriam indispensáveis e pela natural rejeição das restantes oito sub-regiões do Vinho Verde, que dificilmente aceitariam este carácter de excepção e e este designativo “superior”.

Outra alternativa seria seguir a lógica de Mosel, na Alemanha, uma das regiões de vinhos brancos de maior prestígio no mundo, que decidiu permitir aos produtores da sub-região de Saar inserir o nome da região em letras bem gordas no rótulo de cada um dos vinhos oriundos desse vale. A identificação da sub-região fica assim suficientemente nítida para a converter num sinónimo de distinção com origem bem definida.

A terceira alternativa, talvez a mais fácil de implementar, seria seguir o exemplo neozelandês de um grupo de produtores de Hawkes Bay. Ao constatarem que numa parcela da denominação Hawkes Bay os solos eram tão diferentes que o carácter dos vinhos se ressentia dessa particularidade, e reflectia um estilo diferenciado, os produtores com vinhas nesse pequeno fragmento da região decidiram criar uma associação e marca que os diferenciasse dos demais produtores da região. Sem recorrer a mudanças administrativas e legislativas sempre morosas e complicadas, a associação de produtores criou um autocolante que identifica a diferença e que cedo granjeou respeito e se transformou num sinónimo de qualidade.

Quem sabe se esta solução não seria a mais fácil l de implementar. Seria pelo menos muito mais fácil que uma quarta e mais explosiva possibilidade, a emancipação da região do Vinho Verde para criar uma estrutura autónoma que transformasse a sub-região numa região de pleno direito. Uma aposta arriscada, sobretudo tendo em conta a pequena dimensão da putativa nova região, para não mencionar a contenda indelével a que por vezes os dois concelhos se dedicam num desperdício de energias perfeitamente estéril.

De uma forma ou de outra, com mudanças ou sem mudanças, a sub-região deveria esforçar-se na promoção do nome Monção e Melgaço, mostrando a Portugal e ao mundo que é capaz de produzir alguns dos grandes vinhos brancos do mundo.

 

--%>