Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

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Jaen e a Quinta das Maias

Porém, e independentemente das oportunidades mais que evidentes de promoção e reconhecimento que poderiam ser associadas ao nome Mencía, o Jaen é uma variedade muito interessante e que vale por si só. Como é natural em Portugal e na região do Dão, a casta raramente se presta a uma aparição a solo, demonstrando mais habitualmente os seus dotes e qualidades nos vinhos de lote. Mas é precisamente aqui, na arte do lote tão intrínseca aos vinhos nacionais, que a casta, por ser temporã, se torna mais relevante, por madurar muito cedo numa região que vive sob a ameaça permanente de chuva na vindima. Também por isso, pela capacidade de amaciar os lotes, de tornar os vinhos compreensíveis e acessíveis mais cedo sem lhes retirar qualquer brilho, o Jaen é tão decisivo na região.

Mas a casta permite muito mais e poderá mesmo abalançar-se a executar vinhos estremes excitantes, desde que os rendimentos excessivos que tantos viticultores e produtores gostam de lhe exigir sejam refreados. O Jaen tem essa qualidade ambígua de se conseguir adaptar a quase todas as imposições de produção podendo oferecer rendimentos generosos se tal lhe for reclamado ou permitindo rendimentos minguados se tal lhe for exigido. Quando a produção é limitada, o Jaen dispõe de argumentos para elaborar vinhos que se situam nos antípodas das premissas tradicionais, como tão bem o atestam os vinhos da Quinta das Maias, o refúgio da casta ao longo de mais de uma década de vinhos estremes. E quando se provam os vinhos estremes de Jaen deste produtor não é possível deixar de pensar que algo está a passar ao lado dos produtores do Dão…

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