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Monopólio, M.J.C, Casal da Azenha e outras relíquias de 1990

Por Pedro Garcias

Inaugurada em 1990, a Quinta dos Carvalhais, no Dão, serviu de palco a uma prova informal de vinhos com 25 anos. Um belo pretexto para conhecer um pouco melhor o país vinícola e descobrir algumas preciosidades.

O  pretexto era assinalar os 25 anos do Duque de Viseu, o primeiro vinho produzido na quinta dos Carvalhais, no Dão, e o desafio lançado a um grupo de amigos foi fazer uma prova informal de vinhos de 1990. Cada um levava a sua garrafa e os vinhos seriam provados às cegas.

Um quarto de século já é uma idade selectiva. Só os melhores chegam lá em boa forma. Do Douro, que, a sério, só começou a fazer vinhos tranquilos no início da década de 90 do século passado, chegou um tinto Caves da Porca, da Adega Cooperativa de Murça. Na época, era um belo vinho (ou julgávamos que era...). Agora, após 25 anos guardado em garrafa, está morto. Embora ao fim de tantos anos se deva falar em boas garrafas e não em boas colheitas, não parece haver nada a esperar deste vinho. Serviu, no entanto, para nos lembrar como as castas e o teor alcoólico dos vinhos têm vindo a mudar no Douro (e no resto do país). Este Caves da Porca foi feito de Mourisco Tinto, Barroca, Tinta Amarela, Touriga Nacional e Touriga Franca e tinha 12% de álcool, muito longe dos 14% e dos 15% que dominam hoje os tintos da região.

Do Douro veio outro tinto, um Quinta do Côtto Grande Escolha, este em garrafa magnum. Há 25 anos, ainda antes de Miguel Champalimaud iniciar a sua cruzada a favor das screw cups, o nome Quinta do Côtto era uma referência na região. Só os grandes tintos da Casa Ferreirinha se lhe sobrepunham. Na última década, perdeu fulgor e visibilidade, mas esta magnum de 1990 fez-nos suspirar pelos velhos tempos. O vinho – feito de Tinta Roriz e Touriga Nacional- estava magnífico, muito sedoso, químico e ainda com garra tânica. A enologia duriense devia colocar os olhos neste Quinta do Côtto e pensar duas vezes antes de diabolizar a casta Tinta Roriz. Não é variedade para vinhos novos, mas para vinhos de guarda pode ser muito útil.

Coube ao Douro abrir e fechar a prova dos tintos, mas a virtude esteve mesmo no meio. A primeira grande surpresa foi um Casal da Azenha, do produtor António Bernardino Paulo da Silva, de Azenhas do Mar, Colares. Não é um tinto de Ramisco. O produtor, como alguém explicou, tinha por hábito engarrafar vinhos de outras regiões. Este teria sido feito de Baga e Castelão. O seu preço de adega é inacreditável: 3 euros. Na garrafeira Estado d`Alma pode ser adquirido a 9,90 euros. Um vinhaço a um preço de saldo. Músculo, finesse e grande acidez. Ainda tem mais uns anos pela frente.

Com mais futuro ainda mostrou-se o Frei João, um Bairrada das Caves São João. Mesma sendo a versão “normal” desta referência, é um tinto notável. Continua fresquíssimo e cheio de vivacidade. Ninguém lhe dava 25 anos. Da mesma região vieram dois dos melhores vinhos da prova: um grandioso Casa de Saima Garrafeira, com um viço e uma estrutura tânica que fariam envergonhar muitos vinhos acabados de engarrafar, e um extraordinário Caves São Reserva, em magnum. Em provas de grandes vinhos velhos do mundo, este tinto seria certamente uma grande surpresa, pela sua robustez, complexidade e frescor. Um belo exemplo do grande potencial de envelhecimento dos tintos da Bairrada, sustentado em taninos poderosos e numa enorme acidez.

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