Depois dos prémios e honrarias com que tem sido reconhecido nos últimos tempos, o novo Chryseia, de 2013, aí está para despertar paixões e apetites, como é próprio dos grandes vinhos. E se a colheita de 2011 — um ano de ouro no Douro — pode ser tida como a grande referência, diga-se desde já que a boa notícia é que este novo vinho lhe segue as pisadas: destaca-se pela complexidade, concentração e uma forte identidade duriense, mas sempre com a harmonia e equilíbrio como pano de fundo.
E embora conte apenas com década e meia de produção, o Chryseia é já parte da história dos tintos do Douro. Foi o primeiro vinho tranquilo português a integrar a famosa lista dos 100 melhores da revista Wine Spectator, com a colheita de 2001, e dez anos depois é colocado no terceiro lugar do top mundial com a tal colheita de 2011, um ano em que os vinhos do Douro se destacaram, com um Porto Vintage (Dow’s) no primeiro lugar e outro tinto (Vale Meão) no quarto posto, entre os vinhos de todo o mundo.
Invulgar para o panorama português é também o facto de o Chryseia despertar paixões e disputa mesmo antes de serem conhecidas as primeiras reacções do mercado. O vinho só agora começou a ser comercializado e desde Fevereiro que está esgotado no produtor e com uma interessante competição entre distribuidores franceses e portugueses.
O plano era que dois terços fossem destinados aos negociantes franceses — que dominam o comércio mundial dos grandes vinhos — e um terço para os distribuidores nacionais. Acontece que os portugueses “zangaram-se e acabaram por recomprar boa parte da produção”, segundo revelou Rupert Symington durante a apresentação à imprensa. Não será, portanto, de espantar que o preço de referência de 50 euros por garrafa possa aparecer agora um tanto inflacionado nas prateleiras das nossas garrafeiras.
Ficou-se a saber também que, não fossem modernas tecnologias, que permitem antecipar os comportamentos da meteorologia, dificilmente poderíamos desfrutar da extraordinária qualidade e equilíbrio deste novo Chryseia. Perante a ameaça de chuvas para o final de Setembro foi antecipado o arranque da vindima, permitindo assim que fossem colhidas com tempo seco melhores parcelas, sobretudo as uvas de Touriga Nacional que marcam de forma decisiva o carácter deste vinho.
Para o bom equilíbrio contribuiu também o ano agrícola de 2012/13 no Douro. Inverno chuvoso a repor as reservas de águas nos solos depois de dois anos de seca, uma Primavera amena e o Verão quente e extremamente seco, com a vinha a resistir bem e a proporcionar maturações equilibradas.
Além da histórica Quinta de Roriz, na margem esquerda do Douro, as uvas provêm também da Quinta da Perdiz, nas duas predominando as variedades Touriga Nacional e Touriga Franca. Ambas na sub-região do Cima Corgo, concelho de São João da Pesqueira, a primeira com terraços voltados a norte e a protecção da montanha, ficando a Quinta da Perdiz na encosta oposta, no vale do Torto, e com exposição sul-poente .
Roriz proporciona, por isso, noites mais frescas durante o período de maturação das uvas, acentuando as propriedades aromáticas dos vinhos, enquanto os solos xistosos da parte mais alta conferem mineralidade. Por outro lado, o clima mais quente e seco do vale do Torto acentua as características mais frutadas, macias e aveludadas nos vinhos da Perdiz.
Foi precisamente com o propósito de casar a tradicional potência e concentração dos vinhos do Douro com a elegância e equilíbrio dos grandes vinhos franceses que nasceu a Prats & Symington, que além do Chryseia produz também os vinhos Post Scriptum e Prazo de Roriz, e ainda o Porto Vintage Quinta de Roriz. Bruno Prats, experimentado produtor de Bordéus que deteve o Château Cos d’Estournel e apaixonado pelas potencialidades do Douro, juntou-se à família Symington, que é só a maior proprietária de vinha no Douro, com 26 quintas de cerca de mil hectares.
E como os melhores se mostram entre os melhores, foi no duplamente estrelado restaurante Belcanto, de José Avillez, que foram apresentadas as novas colheitas. Além de celebrar os 15 anos da parceria, o momento serviu também para assinalar o 47.º aniversário do casamento do casal Prats e contou ainda com a presença, fugaz e mediática, de Marcelo Rebelo de Sousa. “Tudo muito bom, tudo maravilhoso”, disse em jeito conjugado de saudação e despedida, depois de ter chegado ao segundo prato e saído antes do terceiro.
Os vinhos conjugaram com conhecidos pratos do chef, como o soberbo salmonete com molho de fígados ou o consagrado rabo de boi com grão, foie gras e queijo da ilha, tendo Avillez sublinhado a honra de acolher a apresentação do novo Chryseia, vinho que disse ser “um monstro no bom sentido” e que “dá sempre um enorme prazer mesmo quando não combina bem com algum prato”.
Quanto aos vinhos, diga-se que o Chryseia vai na linha dos melhores de sempre, o Post Scriptum honra os pergaminhos de elegância e sofisticação, enquanto o Prazo de Roriz se revelou uma excelente surpresa: intenso, fresco, macio e redondo no paladar e a um preço imbatível.
Chryseia Tinto 2013
Castas: Touriga Nacional (70%) e Touriga Franca
Graduação: 13,8% vol.
Região: Douro
Preço: 50€
Vinho de grande concentração e elegância, com aromas ricos e complexos de frutos vermelhos e pretos. Estrutura, equilíbrio e sofisticação que mostram o esplendor do Douro. Foram postas à venda 20.400 garrafas de 0,75l e 350 magnum.
Post Scriptum Tinto 2013
Castas: Touriga Nacional (59%), Touriga Franca (30%), Tinta Roriz e Tinta Barroca
Graduação: 13,85% vol
Região: Douro
Preço: 13€
Corpo volumoso, taninos elegantes e finos e alguma estrutura. Final de boca fresco e prolongado. Potencial de evolução.
Prazo de Roriz Tinto 2012
Castas: Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Amarela, Tinto Cão e Sousão
Graduação: 14% vol
Região: Douro
Preço: 9€
Cheio, fresco, elegante e saboroso. Ligeiro toque de menta , macio e redondo no paladar e pleno de intensidade. Grande aptidão gastronómica e excelente relação qualidade/preço.