Fugas - Vinhos

  • Ricardo Castelo/Nfactos
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  • O painel de provas da Fugas
é constituído (da esquerda para
a direita) por Pedro Garcias,
Joe Álvares Ribeiro, Beatriz
Machado, Lígia Santos, Ivone
Ribeiro, Álvaro Van Zeller
e José Augusto Moreira
    O painel de provas da Fugas é constituído (da esquerda para a direita) por Pedro Garcias, Joe Álvares Ribeiro, Beatriz Machado, Lígia Santos, Ivone Ribeiro, Álvaro Van Zeller e José Augusto Moreira Ricardo Castelo/Nfactos
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E um tinto do Dão voltou a vencer as provas cegas da Fugas

Por Manuel Carvalho

Pelo segundo ano consecutivo, foi um Dão a vencer uma prova de vinhos tintos de diferentes zonas do país com preços entre os oito e os dez euros. Com comida ou a seco, o Fonte do Ouro de 2011 não deu hipótese à concorrência. O seu principal rival foi um surpreendente (ou não) tinto transmontano.

Pela segunda vez consecutiva, o vinho vencedor da prova cega da FUGAS é um Dão. No ano passado, o Quinta do Escudial Vinhas Velhas 2008 foi capaz de se impor num teste onde contou com adversários de peso como os duriense Duorum ou o alentejano Herdade dos Grous.

Desta vez, coube ao Fonte do Ouro Reserva 2011 bater a concorrência nos dois momentos da prova cega: primeiro só o vinho, depois, à hora do almoço, o vinho em diálogo com comida. Quer num, quer noutro momento, este tinto com a assinatura do enólogo Nuno Cancela de Abreu não deu hipóteses: na primeira fase da prova deixou o seu mais directo adversário, um surpreendente (ou talvez não) Valle Pradinhos da região de Trás-os-Montes, a 28 pontos de distância; no segundo momento, a disputa foi mais acesa, mas ainda assim o Fonte do Ouro bateu o transmontano por sete pontos de diferença.

Esta é quinta vez que o painel de provas da Fugas se reúne para fazer a avaliação de uma amostra de vinhos situada numa gama de preços na ordem dos dez euros – em concreto, nesta edição os vinhos situavam-se todos entre os oito e os 10 euros. O painel é constituído por Beatriz Machado, Mestre em Ciências da Viticultura e Enologia pela Universidade da Califórnia e directora de vinhos do hotel The Yeatman, Ivone Ribeiro, uma profissional do sector com uma vasta experiência e que hoje é proprietária da garrafeira Garage Wine, em Matosinhos, Álvaro Van Zeller, enólogo e produtor de vinho do Porto, Douro e na região dos Vinhos Verdes, Joe Álvares Ribeiro, administrador do grupo Symington, os jornalistas do PÚBLICO Pedro Garcias e José Augusto Moreira e Lígia Santos, a primeira masterchef portuguesa que, para lá de ter participado nas provas, superintendeu ainda a criação do almoço nas Casas da Li, um estabelecimento de turismo rural no concelho de Arcos de Valdevez. Por impedimento profissional, o jornalista Luís Costa, da RTP, não pôde participar nesta edição das provas.

A escolha dos dez vinhos em prova obedece a um conjunto de critérios previamente determinados: as amostras têm de representar a diversidade regional do país, devem privilegiar vinhos com castas portuguesas, sem excluir marcas ou regiões que, pelos seus pergaminhos, apostaram em variedades internacionais, e deve ter em atenção a possibilidade de os leitores da Fugas as encontrarem com alguma facilidade no mercado. Para garantir boas escolhas e escolhas o mais ajustadas possível à sensibilidade dos consumidores, a Fugas contou com o apoio de Jesus Caridad, gestor do El Corte Inglés de Vila Nova de Gaia e de Pedro Freitas, responsável pelo Clube del Gourmet desse estabelecimento. Todos os vinhos provados foram por isso escolhidos e estão disponíveis no catálogo do Clube del Gourmet ou do supermercado do El Corte Inglés.

Para esta edição da prova, escolheram-se dois vinhos do Douro, dois alentejanos, dois bairradinos, um Dão, um Tejo, um Península de Setúbal e um Trás-os-Montes, região que se estreia nestas andanças da Fugas. A ordem de serviço dos vinhos fez-se por sorteio para cada um dos momentos da prova, de modo a que os provadores não tentassem replicar com comida a nota que haviam dado na primeira fase da avaliação. As fichas da prova e as pontuações atribuídas obedeceram ao modelo da OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho), numa escala de 0 a 100 pontos. Os leitores que quiserem experimentar provas cegas lá em casa, podem facilmente encontrar estas fichas no sítio da OIV na internet.

Como já tinha acontecido nas anteriores edições, é comum haver vinhos que parecem mais aptos para provas a seco do que acompanhados com comida. Vinhos mais aromáticos e com uma estrutura mais polida conseguem bater-se melhor no primeiro momento; pelo contrário, vinhos com acidez mais elevada e uma rugosidade maior de taninos encontram no confronto com a gordura natural da comida o contexto ideal para afirmarem as suas qualidades. A ideia desta prova é ir à procura destes contrastes e tentar avaliar de uma forma eventualmente mais completa o potencial de cada um dos vinhos.

Desta vez, o padrão repetiu-se. Com excepção do Valle Pradinhos, que se bateu especialmente bem nos dois momentos da prova, do Quinta de La Rosa e do Quinta dos Abibes, todos os demais vinhos registaram significativas variações na sua pontuação entre a prova a seco e a prova com comida. Caso particularmente notório aconteceu com o Aventura de 2013, um alentejano com a assinatura de Susana Esteban, que conseguiu obter a segunda classificação mais alta na prova sem comida, mas que recuou para o último lugar na prova ao almoço (perdeu 50 pontos entre estes dois momentos). Este vinho, no qual Beatriz Machado encontrou aromas de bergamota e de frutos de baga e que Álvaro Van Zeller considerou ser ainda muito novo, resistiu ainda assim na quarta posição. Em sentido contrário progrediram o bairradino Quinta das Bágeiras (mais 26 pontos com comida), o Encostas do Sobral (a mesma variação) e, principalmente, o Damasceno que conquistou mais 33 pontos.

No geral, a prova sem comida obteve uma amplitude de classificações mais altas do que no seu segundo momento (76 pontos entre o pior e o melhor classificado no primeiro caso e 39 pontos no segundo). Uma possível explicação para o sucedido foi a qualidade e a diversidade dos pratos confeccionados sob a orientação de Lígia Santos, que foram desde uma chamuça de Chévre com cama de chutney de cebola roxa a um fabuloso prato de vitela Cachena grelhada, acompanhada com um delicioso arroz de feijão Tarrestre. Por esse facto e também devido a esta selecção de vinhos entre os oito e os dez euros ter sido unanimemente considerada mais feliz do que a do ano passado, a pontuação global média por pessoa foi mais generosa. Para se ter uma ideia, o vencedor da prova de 2014 obteve uma média de 87 pontos; o Fonte do Ouro conseguiu este ano 89 pontos. Caso para acreditar que os vinhos portugueses desta gama estão cada vez em melhor forma.

PROVA VINHOS PARA O INVERNO

    Região    Prova sem Comida    Prova com Comida

1.    Fonte do Ouro Reserva 2011    Dão    636    613
2.    Vale Pradinhos Reserva 2011    Trás-os-Montes    608    606
3.    Quinta de La Rosa 2011    Douro    599    605
4.    Aventura 2013 Susana Esteban    Alentejo    624    574
5.    Sequeira 2014    Douro    576    593
6.    Quinta das Bageiras Reserva 2011    Bairrada    571    597
7.    Fita Preta 2012    Alentejo    575    591
8.    Quinta dos Abibes Reserva 2011    Bairrada    578    587
9.    Encostas do Sobral Reserva 2011    Tejo    568    594
10.    Damasceno 2011    Setúbal    555    588

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