Fugas - Vinhos

  • Daniel Rocha
  • Legado Tinto 2011,  220 euros
    Legado Tinto 2011, 220 euros
  • Bussaco Branco 2013, 40 euros
    Bussaco Branco 2013, 40 euros
  • Parcela Única Alvarinho 2012, 27 euros
    Parcela Única Alvarinho 2012, 27 euros
  • Três Bagos Grande Escolha 2005 – Estágio Prolongado, 60 euros
    Três Bagos Grande Escolha 2005 – Estágio Prolongado, 60 euros
  • Quinta do Noval 2011, 45 euros
    Quinta do Noval 2011, 45 euros
  • Champanhe De Sousa Cuvée des Caudalies Brut Bio Grand Cru Blanc des Blancs, 56 euros
    Champanhe De Sousa Cuvée des Caudalies Brut Bio Grand Cru Blanc des Blancs, 56 euros
  • Blandy´s Malmsey 1996, 55 euros
    Blandy´s Malmsey 1996, 55 euros
  • Herdade das Servas Tinto Vinhas Velhas 2005, 30 euros
    Herdade das Servas Tinto Vinhas Velhas 2005, 30 euros
  • Vale do Inferno 2011 Douro Reserva Tinto, 45 euros
    Vale do Inferno 2011 Douro Reserva Tinto, 45 euros
  • Quinta Nova Grande Reserva Referência Tinto 2013, 55 euros
    Quinta Nova Grande Reserva Referência Tinto 2013, 55 euros
  • Mouchão Tonel 3-4 2008, 145 euros
    Mouchão Tonel 3-4 2008, 145 euros
  • Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2012, 27.50 euros
    Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2012, 27.50 euros

Quanto estão dispostos a pagar por uma garrafa de vinho?

Por Manuel Carvalho, Pedro Garcias; José Augusto Moreira

Em Portugal, um vinho acima dos 30 ou 40 euros é considerado muito caro pela maioria dos consumidores. Mas, desenganemo-nos: só pagamos esse preço por vinhos de classe mundial porque no mercado externo a imagem de qualidade do vinho nacional ainda está em construção. Aqui ficam 12 provas para o confirmar.

Durante a primeira metade deste ano aconteceu um pequeno sismo no mundo dos vinhos estratosféricos – os que são vendidos a preços inalcançáveis para a maioria esmagadora dos mortais. Os famosos Domaine de la Romanee-Conti Grand Cru, da Borgonha, deixaram de ser os vinhos mais caros do mundo. O que agitou a procura (e a conta bancária) dos multimilionários dispostos a gastar pequenas fortunas por um vinho foi o Richebourg Grand Cru, também da Borgonha, da colheita de 1995. Para poderem ter na mão um exemplar desse vinho feito pelo enólogo Henry Jayer (uma personalidade genial e extravagante que nunca fez mais de 3500 garrafas por cada edição e que morreu em 2006), os apreciadores (ou coleccionadores) dispuseram-se a pagar 14.254 euros por garrafa. Apesar de tudo, este ano o Romanee-Conti esteve mais barato. Bastavam 13.314 euros em média para se lhe chegar.

Quanto vale um vinho? Há limites sensatos para os preços máximos. Vale a pena pagar mais 20 ou 30 euros pelo vinho A quando se experimenta com prazer o vinho B ou C? Que sentido tem gastar mil ou dez mil euros por uma garrafa? Que garantias tinha o comprador de um Cheval Blanc de 1947 quando desembolsou 271 mil euros por uma única garrafa num leilão que decorreu na Suíça em 2010? Perguntas como estas fazem parte dos mistérios dos apreciadores de vinho, mas nem a sua persistência torna fácil a descoberta de respostas. Porque o que dá valor aos vinhos caros ou super-caros é muito mais do que uma simples avaliação qualitativa, ou sensorial. Há um preço a pagar pelas marcas, pela região, pelo ano, pela raridade, pela moda ou pela extravagância. Mas, não tenhamos dúvidas: os grandes vinhos que chegam a limiares de preços inalcançáveis para a maioria dos mortais têm passar pelos duros testes do tempo, da confiança e da crítica e, regra geral, quase universal, são vinhos extraordinários.

A lista do motor de busca Wine Searcher, feita a partir das cotações de 55 mil postos de venda em todo o mundo, dá-nos a prova acabada de que, neste mundo de leilões onde a competição entre multimilionários é dura, quem manda são os franceses. E dentro desta proveniência, quem manda mais são os Borgonha. Os três vinhos mais caros são desta região e no total da lista de 50 referências, a Borgonha impõe-se com 40. Para se ter uma ideia desta hegemonia, note-se que o outrora mítico Chatêau Petrus é o primeiro vinho de Bordéus a aparecer, cabendo-lhe um modesto 13º lugar, a um preço médio de 2696 euros por garrafa. Curiosamente (ou não), a potência mundial dos vinhos que é capaz de aparecer com mais insistência entre a hegemonia borgonhesa são os alemães do Riesling – principalmente os vinhos que são assinados por Egon Muller.

Onde pára o vinho português neste campeonato dos preços? Está a meio caminho. Principalmente por causa do vinho do Porto e da Madeira. Os vintage da Noval compram-se a um preço médio de 1028 euros – Noval raros e antigos, como o 1963, são altamente disputados neste jogo de apreciadores exigentes. Mas há também uma série de Burmester dos anos de 1920 que se cotam a uns simpáticos 800 euros por garrafa. Quando falamos de vinhos tranquilos, destaca-se, claro, o Barca Velha, que tem estado a ser vendido a um valor médio de 358 euros. Muito longe dos grandes franceses e atrás dos congéneres de países rivais. Note-se que o espanhol mais caro, o Dominio de Pingus, vale 750 euros; o italiano Giacomo Conterno Monfortino, Barolo Riserva DOCG chega aos 628 euros por garrafa; australiano Chris Ringland – Tree Rivers Dry Grown Shiraz, ronda os 641 euros e o argentino Catina Zapata Estiba Reservada anda pelos mesmos valores. No Chile, os preços parecem mais comedidos: o mais caro, o Errazuriz Viñedo Chadwick, Maipo Valley, fica-se pelos 167 euros.

O que isto nos deve lembrar é que, sendo caro e inacessível para a maioria dos consumidores, o vinho português é barato quando comparado com o das grandes regiões mundiais. Luis Cândido, da Garrafeira Tio Pepe, em Matosinhos, nota que os seus clientes colocam uma barreira nos preços algures entre os 45 e os 50 euros – a gama onde se situam grandes vinhos como o Chriseia ou o Noval DOC. “Daí para cima só clientes especiais, já com um nível de conhecimento muito grande do vinho, é que compram”, afirma. Mas se entre a gama dos especialistas houver quem queira procurar um vinho estrangeiro, francês, por exemplo, já está disposto a pagar mais. “Porque sabem que lá fora os vinhos bons são sempre muito mais caros”, diz Luis Cândido.

Quando em Portugal se fala de vinhos com preços elevados tem de se ter, por isso, especial cuidado. Entre nós, um vinho extraordinário, de classe mundial, pode ser adquirido por 50 euros ou menos. Sendo muito dinheiro, é um achado do ponto de vista comparativo. Para que não sobrem dúvidas deixamos nestas páginas alguns exemplos de vinhos que só custam o que custam porque Portugal ainda está a caminho de construir uma imagem dos seus vinhos que os torne comparáveis aos espanhóis ou aos italianos.

Escolhas de vinhos de topo

Legado Tinto 2011
É, provavelmente, o mais completo e perfeito dos quatros Legado que já foram lançados (2008, 2009, 2010 e 2011). Não há no Douro um tinto tão tributário de um vinha específica, no caso, uma vinha muito velha, o Caêdo (São João da Pesqueira), síntese quase fóssil dos mundos vegetal e mineral. É um vinho que ressoa a xisto e a sol e que possui a frescura da rocha mãe, onde as raízes de videiras retorcidas se alimentam ano após ano. Extraordinário. Custa 220 euros.  P. G.

Bussaco Branco 2013
É o último de uma longe saga de brancos esplenderosos feitos com uvas do Dão e da Bairrada. Se a ideia é viver uma epifania, o melhor é tentar a sorte de encontrar por algumas centenas de euros algumas garrafa das colheitas de 1967 e 1978 ou, por bastante menos, dos anos de 2001 e 2003. Mas o Bussaco 2013, além de ser mais barato, já dá uma ideia do que são estes vinhos. Feito de Encruzado do Dão e de Bical e Maria Gomes da Barrada, é um branco com ligeiras notas do estágio em barrica mas muito cítrico. Na boca revela uma secura, uma salinidade e uma acidez fabulosas. Custa 40 euros. P. G.

Parcela Única Alvarinho 2012
É uma das últimas marcas criadas por Anselmo Mendes. O primeiro vinho foi da colheita de 2009 e, desde então, só não houve Parcela Única em 2010. Com este vinho, não é preciso cometer nenhum devaneio para ter o privilégio de beber um branco de classe mundial. Custa apenas 25 euros, o mesmo que muitos vinhos medíocres, nacionais e estrangeiros, que se vendem por aí. Vinho de uma só parcela de vinha, fermenta e estagia em barricas novas de 400 litros. Como Parcela Única 2012, Anselmo Mendes eleva esta casta a um nível poucas vezes visto. A sua pureza, complexidade e frescura mineral são formidáveis. Bebe-se uma vez e nunca mais se esquece. Custa 27 euros. P. G.

Blandy´s Malmsey 1996
O ressurgimento dos vinhos Madeira, um dos mais extraordinários vinhos do mundo, tem estado associado, sobretudo, a duas marcas: Barbeito e Blandy`s. Desta última, propriedade da empresa Madeira Wine Company, têm-nos chegado regularmente alguns vinhos gloriosos. Sem falar do fabuloso Bual 1920, do maravilhoso Sercial 1910 e do quase eterno Bual Solera 1811, vinhos que ou já não se vendem ou custam uma pequena fortuna, é possível ficar com uma ideia da magnificência dos vinhos Blandy`s provando, por exemplo, o mais novo e acessível Malmsey 1996.  A casta malvasia origina os Madeira mais doces, mas este está muito bem equilibrado, graças a uma vibrante acidez, que realça um bouquet muto salino e povoado de notas a frutos secos e bolo de mel. Preço: 55 euros. P. G.

Três Bagos Grande Escolha 2005 – Estágio Prolongado
A Lavradores de Feitoria decidiu lançar no mercado nacional e internacional mil garrafas do seu Três Bagos Grande Escolha de 2005, apondo-lhe como subtítulo a designação “Estágio Prolongado”. O 2005 é neste particular um belo caso de um vinho que conserva potência e expressividade, revelando uma enorme harmonia e complexidade nas suas notas de especiaria e de fruta vermelha que, espantosamente, ainda se mantêm. É um vinho magnífico, com um excelente balanço, que se afirma nos sentidos com uma garra e um leque de subtilezas capaz de fazer pensar toda a gente sobre o que perdemos com a pressa em consumir vinhos acabados de nascer. Preço: 60 euros. M. C.

Quinta do Crasto Vinhas Velhas 2012
Quando se tem um valiosíssimo património de vinhas com mais de 70 anos plantadas num ecossistema especial, com diferentes altitudes e exposições, é sempre mais fácil fazer vinhos com BI. Mas este Vinhas Velhas de 2012 é mais do que a revelação de um potencial: é também a prova de um compromisso com o Douro e, ainda mais, com aquele lugar do Douro. Quem quiser saber o que é um vinho de terroir tem neste Crasto um magnífico exemplar. O Douro do sol tórrido, dos aromas de bosque, da esteva e do rosmaninho, da fruta doce e quente estão ali sedimentados. Há um pouco da concentração da vinha junto ao rio e notas mais frescas das zonas de meia-encosta. Na boca é um tinto poderoso, com taninos firmes, fruta de qualidade e juventude, volume e secura que temperam a marca da barrica, que se desenvolve na boca em diferentes andamentos. O apanágio, afinal, dos grandes vinhos. Bebe-se já, mas ganhará imenso após uns anos de garrafa. Preço: 27.50 euros. M. C.

Mouchão Tonel 3-4 2008
Lançado pela primeira vez em 1996, o topo de gama do Mouchão resulta de anos de superior qualidade – casos de 2001, 2003, 2005 e 2008. A empresa diz que os tonéis 3 e 4 da adega, feitos de feitos de carvalho português, macacaúba e mogno favorecem especialmente os lotes de Alicante Bouschet colhidos nos solos aluvionares da vinha dos Carapetos. Depois de dois anos em madeira, os vinhos são engarrafados e ficam à prova do tempo. Como no Barca Velha, só passados anos é que se decide se estes lotes merecem, ou não, o selo Tonel 3-4. Tanto esmero e tanta espera são prenúncios de excelência. Este tinto tem tudo o que um apreciador de vinhos pode desejar. Tem garra, profundidade, é intenso, complexo e sofisticado. Impressiona com as suas notas de cedro e de chá verde que temperam um fundo de frutas vermelhas maduras e deliciosas. Opulento na boca, com taninos ainda a pedir tempo para mitigar a sua faceta vegetal, é um tinto que se apresenta em vagas na boca: primeiro a sua estrutura choca, depois fica no palato um longo lastro de prazeres. Um tinto de classe superior, que ainda precisa de mais uns anos de guarda para mostrar toda a sua genialidade. Preço: 145 euros (na garrafeiranacional.com) M. C.

Quinta do Noval 2011
Já é mais do que hora de alargar o prestígio da Quinta do Noval dos grandes Porto (não só vintage, mas também colheitas) para os grandes DOC Douro. De ano para ano, os Noval tintos têm vindo a confirmar uma série de atributos que lhes garantem consistência, classicismo e excelência. O Noval de 2011 é tudo isso somado a um ano perfeito no Douro (e não só). Sob a batuta de um dos mais talentosos enólogos do país, António Agrellos, este vinho é uma magnífica síntese de aromas delicados de bosque, violetas e frutas vermelhas erigidos sobre uma estrutura que já amaciou mas que ainda conserva músculo para muitos anos de vida. É um vinho onde nada falta e onde nada está a mais, que deslumbra pela fineza e impressiona por uma certa austeridade que o tornam um gigante à mesa. Qualquer edição anterior deste vinho vale a pena ser experimentada. Preço: 45 euros (em wine.pt) M. C.

Vale do Inferno 2011 Douro Reserva Tinto
É certamente a parcela mais emblemática da Quinta de La Rosa, uma das mais belas do Douro, com os seus muros altos de xisto e vinha centenária. O nome vem das temperaturas infernais que ali se registam no pico do Verão e que, por isso, proporcionam vinhos singulares e normalmente destinados à produção de Porto. Apenas em anos muito especiais Jorge Moreira, o enólogo, se decide pelo engarrafamento das melhores barricas, o que até agora aconteceu apenas em 2005 e 2011. Este último está um portento. Fino, fresco, notas de especiarias e um nível de elegância e concentração que bem mostra a essência do Douro. Uma manifestação muito particular, senão única, da Touriga Nacional, que domina o lote e parece apaixonar o enólogo. O preço de referência é de 45€, mas o difícil será mesmo encontrá-lo. J.A.M.

Quinta Nova Grande Reserva Referência Tinto 2013
Quem provar este vinho vai notar que há um caminho de elegância e envolvência a apontar para um novo rumo neste produtor. Além da elegância, que nem sempre é fácil no Douro, há também uma frescura e suavidade neste lote à base de Tinta Roriz que o tornam deveras atraente. Sem esconder o carácter austero que é típico da casta, há uma envolvência mineral, fruta fresca e especiarias, que o tornam denso, profundo e sedutor. Um vinho muito preciso, com potencial de evolução mas que se mostra já prazeroso e sedutor. Custa 55€ e irá marcar certamente uma nova etapa nesta histórica quinta duriense. J.A.M.

Champanhe De Sousa Cuvée des Caudalies Brut Bio Grand Cru Blanc des Blancs
Em Champanhe, como é sabido, os vinhos mais apreciados e reconhecidos são os das pequenas produções em parcelas específicas nas melhores localizações. Curiosamente é com o apelido de um português que se identifica uma dos mais reputados produtores-engarrafadores da região. A casa De Sousa foi uma das pioneiras no método de produção biodinâmico e todos anos os seus vinhos são dos mais aclamados pela crítica.
Entre eles está a Cuvée des Caudalies, de uma frescura, elegância, complexidade, concentração e riqueza aromática como só os mais extraordinários champanhes são capazes de revelar. Este é o verdadeiro mundo do Champanhe, que bem se diferencia da produção industrial. Há um pequeno distribuidor (Global Satisfaction) dedicado apenas à sua comercialização em Portugal. Custa 56€. J.A.M.

Herdade das Servas Tinto Vinhas Velhas 2005
Em boa hora a família Serrano Mira decidiu manter algumas parcelas de vinha velha na região de Estremoz. Não só permite mostrar a razão da fama dos grandes vinhos alentejanos de há décadas atrás como prova que nem toda a região é igual. Com baixas produções grande concentração, a Herdade das Servas só engarrafa Vinhas Velhas em anos excepcionais. Foi o caso em 2005, 2009 e 2012, mas como estes são vinhos que só com os anos revelam o seu verdadeiro carácter, está agora na altura de beber o 2005. Está perfeito na sus elegância, envolvência e frescura. E muito gastronómico. Custava, na altura do lançamento, 30€, e se não o encontrar o melhor é mesmo comprar as colheitas mais recentes, provar uma garrafa e guardar para daqui a uns anos provar a essência dos vinhos alentejanos. J.A.M.

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