O BPI Wine&Food, mostra de vinhos e gastronomia com produtores de todo o país e vários workshops e sessões de cozinha ao vivo, decorre no Pátio da Galé, em Lisboa, entre sexta e domingo. Mas, na quinta-feira à noite, numa antecipação do evento (uma organização da CofinaEventos e do BPI), o crítico de vinhos Fernando Melo apresentou a um número restrito de convidados uma excepcional prova de vinhos na Pousada de Lisboa, a dois passos do Pátio da Galé. Os organizadores pretendem que este jantar se repita nas próximas edições, alargando-se a mais participantes, mas mantendo o seu carácter de momento único.
E foi um momento único para o próprio Fernando Melo, que contou como há muito tem vindo a fazer listas daqueles que considera serem os grande vinhos portugueses de sempre. Não os “vinhos fantásticos, que conseguem classificações meteóricas nas revistas”, mas “os grandes vinhos, que é uma coisa muito diferente” porque são aqueles que “contam uma história, têm uma matriz, um passado e são património”. Mas as listas nunca se tinham transformado numa prova, o que aconteceu na quinta-feira pela primeira vez.
“Trata-se de anos muito específicos de vinhos muito específicos”, salientou o crítico, que os considera fundamentais para compreender o que se faz hoje em Portugal no mundo dos vinhos. E, por serem tão complexos, não se tentou sequer fazer uma harmonização com a comida. “Isso exigiria meses de trabalho”. Houve, por isso, um menu normal e Fernando Melo aconselhou a que os vinhos fossem apreciados com toda a descontracção.
Começou por um Frei João 1974, uma garrafa antiga que nem especificava as castas no rótulo. De cor dourada e, naturalmente, aromas evoluídos, mantém uma frescura que surpreende. Tal como o segundo vinho servido (ambos acompanhados por um creme de cogumelos com nata fresca e cerófilo), mais recente, um Dona Paterna 1998, Alvarinho, daquela que é “a marca mais antiga de Vinho Verde”, explicou Fernando Melo.
Vieram depois dois tintos, um Quinta do Mouro (Estremoz, Alentejo) e um Quinta das Bageiras (Bairrada), ambos de 1995, que “foi um ano muito importante, o ano da pré-história do vinho português”, disse o crítico, lembrando que a revolução que transformou o panorama em Portugal no que ao vinho diz respeito “tem apenas vinte anos”. Fernando Melo aproveitou também para explicar que “há um parâmetro complexo para medir um vinho, que é a frescura, e que não tem nada a ver com o nível de álcool”. O trabalho da Quinta das Bageiras mostra o momento em que a até então difícil casta Baga “inaugura o estilo bebível”.
Estávamos já no prato principal – supremo de pintada e queijo brie com risotto de cogumelos – e chegaram às mesas outros dois tintos, Quinta do Ribeirinho 1996 e um Barca Velha de 1966. O primeiro mostra o que é o resultado de uma vinha de pé franco, ou seja, que não precisou de enxerto por ser anterior à praga da filoxera que arrasou com as vinhas no final do século XIX. E que, além disso, tem “aromas de folha de eucalipto” por estar situada num eucaliptal muito batido pelo vento.
Quanto ao famoso Barca Velha, a primeira garrafa que foi aberta já tinha passado um pouco do ponto, o que se adivinhava na cor demasiado acastanhada do vinho. Mas a segunda garrafa, sendo do mesmo ano, estava óptima, o que prova que, ao fim de um número considerável de anos, é preciso ter em conta as diferenças que existem de garrafa para garrafa.
“Com o Barca Velha começaram-se a fazer blends sem preconceitos, seguindo a tradição do Vinho do Porto”, explicou Fernando Melo, recordando como nos anos 60 se demorava “um dia e meio para chegar ao Vale Meão”, o que tornava a vida de um produtor bastante complicada. Mas, felizmente, Fernando Nicolau de Almeida, que fez o primeiro Barca Velha em 1952, não se deteve perante os obstáculos. O vinho, já muito complexo no copo, cheio de aromas que exigem toda a nossa concentração, foi dado como exemplo por Fernando Melo da importância de “ir buscar os solos de granito” para não se ficar limitado ao xisto e conseguir assim “vinhos mais vibrantes”.
Por falar em vibrante, o último tinto a ser servido antes dos licorosos foi um Mouchão de 1963 (Alentejo), o vinho mais antigo apresentado nesta prova e que se mostrou em grande forma, ainda com uma vida invejável à qual se somou, ao longo dos anos, grande complexidade.
Por fim, a sobremesa. Com um parfait de mascarpone, framboesa e lima foram servidos um Porto Fonseca 1994 e um excepcional Madeira D’Oliveira Boal de 1908, uma óptima forma de terminar um jantar que os organizadores prometem repetir todos os anos.
BPI Wine&Food
No certame, de sexta a domingo (29 de Abril a 1 de Maio), vão também realizar-se várias provas e mastertastings com temas variados como “Castelão, uma casta de descobrir”, com Bernardo Cabral, “Espumantes portugueses: esperar o melhor”, com Osvaldo Amado, ou “Bucelas, toda uma nova região a conhecer”, com Hugo Mendes, para além de vários showcooking. Mas o ponto alto acontece sábado a partir das 15h15: primeiro uma conferência intitulada “Wine’s infinite variety” (a infinita variedade do vinho) com a Master of Wine Julia Harding, seguida de um mastertasting com o mesmo tema conduzido também por Harding.
BPI Wine&Food
Horário: 29 de Abril (6ª-feira) das 14h às 23h, 30 de Abril (sábado) das 12h às 23h, 1 de Maio (domingo) das 12h às 19h30
Entrada: 9€
Site