Fugas - Vinhos

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Primeiro vinho azul do mundo tem agora casa no Alentejo

Por Márcia Dâmaso Gomes

É na Palad’Art, uma loja de produtos regionais em Vila Viçosa, que o espanhol e controverso Gik se encontra à venda pela primeira vez em Portugal. Os alentejanos esgotaram-no em menos de uma semana.

Foi em Portugalete, no Norte de Espanha, que o Gik, o primeiro vinho azul do mundo, nasceu em 2014. De cor inédita e irreverente, está longe de ser um vinho tradicional ou mesmo consensual: é doce, foi criado para ser bebido em cocktails ou sangrias e os próprios responsáveis assumem que tem sido pouco apreciado por enólogos.

Ainda assim, bastaram três dias para esgotar em Portugal. A Palad'Art, curiosamente uma loja de produtos regionais alentejanos, foi a primeira casa portuguesa a colocar à venda o vinho azul basco. E aquilo que seria apenas uma experiência ao mercado resultou em 72 garrafas vendidas e no esgotamento do stock, que será reposto esta terça-feira com 120 garrafas, afiança o proprietário da loja.

José Lobo abriu a Palad'Art em Vila Viçosa no ano passado e ali vende vários produtos regionais, expostos de uma forma diferente aos clientes. Para além dos tradicionais queijos, enchidos, mel e do artesanato em cortiça, apresenta preparados de açorda (é só juntar água a ferver), licores caseiros (entre os quais chocolate e bolota), preparados para licores caseiros ou sangrias, delícias de bolota, empadas de farinheira com cogumelos ou pastéis de nata de bolota.

O objectivo é ter coisas “que mais ninguém tem”. E é sob esse mote que surge o vinho azul espanhol ao lado da garrafeira nacional. “Eu e a minha esposa queríamos apostar numa novidade, numa coisa que se enquadrasse nos vinhos, mas que ninguém tivesse”, conta à Fugas.

Daí à recordação da viagem que tinham feito meses antes ao País Basco foi um instante. Numa férias com a família por aquela região no Norte de Espanha, José procurou conhecer o que era tradicional lá. "Falava-se muito dos pinchos e do vino azul". Provou e ficou apaixonado pelo sabor leve, frutado, fresco e doce. No dia 19 de Julho, começou a vendê-lo na loja. Esgotou em menos de uma semana.

“Temos pessoas que nos perguntam se vamos fazer feiras perto delas para levarmos o vinho, outras que vêm de Badajoz à nossa loja comprá-lo e outras que nos pedem por correio”, conta. “As vendas têm sido uma surpresa total. Até o próprio produtor ficou surpreso”.

O Gik nasceu em Espanha, um país marcado pelo vinho tradicional, mas está longe de tudo o que habitualmente associamos ao líquido de Baco. E é esse o objectivo.

Aritz López e quatro amigos criaram-no em 2014 no seio do departamento de investigação em Tecnologia Alimentar da Faculdade de Engenharia da Universidade do País Basco. À mistura de uvas brancas e tintas adicionaram dois pigmentos orgânicos que vêm da própria pele das uvas utilizadas para fazer o vinho – índigo e antocianina – e produziram o primeiro vinho azul do mundo.

“Já é altura de o vinho deixar de ser o líquido que representa o sangue de Cristo na igreja e, por isso, tentámos fazer o oposto do que a indústria faz”, explica Aritz López em entrevista à Fugas. “Parecia-nos poesia transformar uma bebida vermelha em azul.” Uma cor que, defende, “significa tecnologia, fluidez e inovação”, conceitos com os quais a equipa se identifica.

Além da cor, também o sabor é completamente diferente do habitual e procura conquistar o mercado jovem, mais apreciador de cervejas, licores e cocktails. De acordo com os responsáveis, o Gik não foi feito para enólogos nem conhecedores do vinho tradicional e a verdade é que, até agora, não conquistou uma única crítica positiva dos especialistas. “Até nos disseram que era uma blasfémia, uma invenção horrível”, conta Aritz López.

No entanto, defende que pode ser bebido das mais variadas maneiras. E até são dadas várias sugestões no canal do Youtube da empresa. José Lobo garante que não há nenhuma que não saia bem, mas defende que a melhor forma de bebê-lo é com bastante gelo e frutos vermelhos, a acompanhar uma tábua de queijos.

Além de Espanha e Portugal, o Gik pode ser apreciado em bares e restaurantes na Alemanha, França, Holanda e Suíça. E está à venda online, sem custo de envio para Portugal.

No próximo sábado, dia 6, a Palad’Art organiza uma prova de vinho azul às 19h30. Durante a sessão, não precisa de procurar o copo certo. Não se preocupe com a temperatura nem a abanar o vinho no copo três vezes. Também não vão esperar que o cheire. Porque na verdade aquilo por que esta bebida se quer pautar é por “não seguir regras, a não ser as que nós próprios decidimos”.

Texto editado por Sandra Silva Costa

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