Fugas - Vinhos

  • QUINTA DE SANTA CRISTINA 2015
    QUINTA DE SANTA CRISTINA 2015
  • QUINTA DE SANTA CRISTINA TINTO 2015
    QUINTA DE SANTA CRISTINA TINTO 2015
  • QUINTA DE SANTA CRISTINA BRANCO ESCOLHA 2015
    QUINTA DE SANTA CRISTINA BRANCO ESCOLHA 2015

Do pecado do padre aos vinhos de qualidade

Por José Augusto Moreira

Nem tudo é igual na região dos Vinhos Verdes e na sub-região de Basto há uma identidade e carácter que caracteriza os seus vinhos. Batoca e Vinhão são casos muito especiais na Quinta de Santa Cristina.

Podia ter inspirado uma das contundentes Novelas do Minho, mas a genialidade de Camilo Castelo Branco teria certamente que incluir hoje uma referência aos vinhos frescos, intensos e frutados que são produzidos na Quinta de Santa Cristina.

A propriedade vem de uma dessas famílias típicas das terras de confluência entre o Minho e Trás-os-Montes que alimentaram as novelas camilianas. Ao filho padre, único herdeiro, sucederiam as sobrinhas, só que o clérigo tinha um filho bastardo, que acabaria de reconhecer em legado testamentário. E mesmo tendo o pecaminoso desvio sacerdotal proporcionado o casamento para uma das três herdeiras naturais, a propriedade acabou fatalmente por ficar retalhada.

O enredo mete ainda uma capela, de Santa Cristina, onde o padre rezava a missa sem necessidade de ultrapassar os muros da propriedade, e tem também um final feliz, já que foi toda essa memória e património que os actuais proprietários se esforçaram por reconstituir. Da unificação da propriedade à reconstrução da capela e muros de delimitação.

O acrescento de uma adega, de recorte moderno e de forte impacto visual, pode até destoar no contexto histórico mas é essencial para a história actual da quinta: a produção de vinhos de qualidade que os mercados, nacional e de exportação, todos os anos absorvem na totalidade.

São à volta de 50 hectares de vinhas com as castas características da região, para uma produção que na última vindima resultou em cerca de 400 mil litros e meio milhão de garrafas vendidas.

Apesar do sucesso da região e das vendas que aumentam ano após ano, é sabido que nos Vinhos Verdes nem tudo é igual e têm medrado também os projectos que apostam em vinhos mais secos e estruturados, fugindo à desgraçada dupla de gás e doçura.

Pelas condições naturais, a sub-região de Basto é das de maior homogeneidade e identidade. Em áreas mais elevadas e enquadrada pelas serranias da Cabreira, Barroso, Alvão e Marão, o clima é mais agreste, com o Inverno frio e chuvoso e o Verão quente e seco, e está resguardada dos ventos e influência marítima, atingindo as uvas melhor e mais equilibrada maturação.

Desde o início do actual projecto, em 2004, que a plantação de Alvarinho foi uma aposta estratégica na Quinta de Santa Cristina, que partilha com o Arinto a primazia do encepamento na propriedade. Também a Azal, Trajadura, Loureiro e um pouco de Fernão Pires entram nos lotes habituais dos vinhos brancos. Para os rosados a base é de Espadeiro e Padeiro de Basto, enquanto o vinhão reina em absoluto nos tintos.

Caso muito particular é o da casta Batoca, uma particularidade da sub-região já quase abandonada e que em Santa Cristina é assumida como uma espécie de símbolo das particulares características das suas vinhas: solos arenosos de origem granítica a proporcionar condições óptimas de maturação.

A enologia está a cargo do reputado Jorge Sousa Pinto, que depois de uma fase inicial em que foi necessário potenciar a produção e ganhar mercado, avança agora para produções mais afinadas e potenciadoras de um outro patamar de qualidade. Os vinhos são mais secos e estruturados, e o conhecimento acumulado sobre parcelas e material vegetativo é uma vantagem. A vindima e vinificação é feita por castas e parcelas, permitindo que os lotes sejam depois feitos em função de objectivos e mercados específicos, o que, não sendo pecado, é sempre bom para o negócio.

Quinta de Santa Cristina 2015

Casta: Batoca
Graduação: 12,5% vol
Preço: 4,50€
Pequena produção, praticamente sem expressão comercial, para mostrar características da propriedade. Casta difícil, com cachos que chegam a ultrapassar 2kg, que, sem insolação e arejamento, tende a apodrecer na totalidade. Por isso, foi praticamente abandonada. Vinho delicado, de aroma frutado intenso, com notas cítricas, de confeitaria e rebuçado. Boca sucrosa e persistente dominada por um manto de frescura e fruta amarela. Um vinho diferente e apelativo que o mercado merece poder provar.

Quinta de Santa Cristina Branco Escolha 2015
Graduação: 12,5% vol
Preço: 4€
Se à partida impressionam mais os vinhos com Alvarinho (a combinação com Avesso é prometedora), o lote básico da casa é uma agradável surpresa quando se abrem garrafas de colheitas anteriores. As de 2009 e 2011, por exemplo, mostram uma complexidade e frescura insuspeitas para um vinho sem pretensões e destinado ao consumo imediato. O lote é à base de Arinto e Azal (estrutura e acidez limonada), temperado com Loureiro e Trajadura.

Quinta Santa Cristina Tinto 2015
Graduação: 11,5% vol
Preço 4€
Tecnicamente poderia dizer-se que o vinho é praticamente imbebível — pela elevada acidez, agressividade de taninos, textura rugosa e cor superconcentrada — mas é assim que o mercado regional adora e avidamente consome. Mas o caso muda radicalmente de figura quando provamos colheitas com alguns ano e garrafa, como é o caso do 2011, que está fino, fresco, delicado e com aquela acidez gastronómica que é característica dos grandes tintos do mundo. O vinhão deveria ser um caso de estudo, e as colheitas de Santa Cristina serão uma boa amostra. É feito ao estilo tradicional, com pisa a pé em lagares de granito, sem trasfega, filtração ou colagens. Engarrafado em Janeiro, após o que deverá ocorrer a fermentação maloláctica.

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