Fugas - Vinhos

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Quem consegue resistir a Champagne?

Por Rui Falcão

Não há quem consiga resistir ao feitiço e encanto do nome Champagne, emblema por excelência da palavra sofisticação.

Nenhum outro vinho conseguiu associar-se de forma tão persuasiva à ideia de luxo e celebração como o Champagne, vinho que por empenho, arte, capacidade de cooperação entre os diversos produtores da região homónima francesa e habilidade de persuasão acabou por se transformar na referência máxima do êxito e da alegria, prestando-se à consagração de vitórias e conquistas.

Sempre que pensamos nos vinhos de Champagne associamos uma imagem que reúne mistério e exclusividade, características que o demarcam dos restantes estilos de vinhos espumantes.

Não há quem consiga resistir ao feitiço e encanto do nome Champagne, emblema por excelência da palavra sofisticação. Tal como é tradicional nos vinhos espumantes, os vinhos da região de Champagne que interessam e justificam a compra pertencem às categorias Bruto ou Bruto Natural, vinhos com uma adição mínima de açúcar ou eventualmente, no caso dos Brut Nature, sem qualquer acréscimo de açúcar. São estes que permitem uma harmonização perfeita com a refeição, embora essa ligação com a gastronomia seja ainda mais fácil quando pensamos nos pratos de entrada ou, em muitos casos, ainda antes de nos sentarmos à mesa.

Se os vinhos espumantes são produzidos em muitos países e regiões do mundo, de Portugal à Grécia, da África do Sul ao Chile, o Champagne vem obrigatoriamente da região francesa de Champagne. Se é verdade que existem bons vinhos espumantes em muitos países do mundo, alguns dos quais ganharam direito a nome próprio, como o Prosecco, em Itália, o Cava, em Espanha ou o Sekt, na Alemanha, a maioria dos melhores exemplares espumantes chegam de Champagne, a região onde existem as melhores condições naturais para elaborar este tipo de vinhos e a região onde a sua produção é mais refinada.

Curiosamente, o maior desafio para Champagne poderá vir do Sul de Inglaterra, que, com o aquecimento global, começa a perfilar-se como uma das grandes alternativas naturais para a produção de vinhos espumantes de qualidade superior.

São muitas as casas históricas dedicadas ao Champagne e são muitos os nomes de referência e prestígio dentro da categoria. Entre os nomes mais conceituados e de maior transcendência, se nos fixarmos apenas nos produtores de maior volume, deixando de lado produtores de volumes mais modestos, contam-se casas como a Bollinger, Louis Roederer, Dom Pérignon, Gosset ou Ruinart. Os estilos vão variando entre as diversas casas, diferenciando-se entre produtores de perfil mais austero ou mais delicado, produtores que privilegiam estilos mais secos ou mais suaves favorecendo champanhes mais frutados ou mais oxidativos.

A Bollinger, inimitável com o seu rótulo Bollinger RD, é uma das casas cujo estilo é mais facilmente reconhecível, reiterando na apresentação de champanhes delicados e elegantes com uma mineralidade e tensão pouco habituais mesmo para a região. O rótulo RD, cujo acrónimo significa récemment dégorgé, é o herdeiro de uma longa tradição de engarrafamentos tardios, sendo com frequência separado das leveduras da segunda fermentação após entre oito a vinte anos de envelhecimento na garrafa. É um Champagne mais seco e austero que o habitual, sedutor e complexo, atestado de notas tostadas e referências citrinas no final de boca.

O Louis Roederer Cristal é um dos mais conhecidos e cobiçados em todo o universo. Um Champagne que nasceu originalmente a partir de um pedido especial do Czar da Rússia Alexandre II, que pediu uma garrafa exclusiva para a sua mesa. Pensado inicialmente para o paladar russo, que é conhecido pelo amor aos sabores mais doces, ainda hoje o Cristal mostra um perfil mais atencioso neste capítulo, revelando nariz frutado e floral que surge repleto de notas citrinas. Harmonioso, expressivo e aprumado, frutado e meigo, termina estimulado por uma acidez segura que o exalta para um final interminável.

Se os vinhos rosados são frequentemente olhados com desconfiança e alguma sobranceria, o caso muda de figura nos vinhos champanhes, onde as versões rosadas costumam representar o expoente máximo dos vinhos espumantes da região. Se o nome Dom Pérignon é por si só capaz de causar desassossego, a edição Dom Pérignon Rosé costuma ser ainda mais exclusiva e interessante. Os aromas de pêssego e bagas selvagens, associados aos apontamentos fumados e ao aroma de pão e massa de padeiro, são capazes de elevar a alma para um estado próximo do êxtase.

Embora menos conhecido, o Gosset Celebris Blanc de Blancs é um Champagne clássico mas invulgar nas notas, no estilo e na filosofia. Carácter é coisa que não falta à Gosset, com vinhos que são mais conhecidos pela intensidade e peculiaridade de sabores que pela elegância pura. São champanhes profundos que se destacam por serem densos e complexos, maduros e ligeiramente almiscarados, inconfundíveis ao nariz, num estilo muito particular e pouco consensual capaz de gerar em simultâneo amores e ódios profundos.

Igualmente notável, o Don Ruinart millèsime rege-se pela batuta característica dos vinhos da Ruinart, vinhos elegantes, poderosos, completos e complexos, ligeiramente mais secos e austeros que o tradicional na região. Um Champagne Blanc de Blancs em que a complexidade é transmitida pelas notas citrinas de toranja e limão reforçadas por alperce e ameixa, contrastadas pela gordura cremosa da boca num crescendo de complexidade e riqueza.

Não se esqueça que os champanhes devem ser sempre refrescados antecipadamente, devendo ser servidos a temperaturas que devem oscilar entre os seis e os oito graus. Quando servido a temperaturas superiores, a libertação de gás torna-se demasiado agressiva, retirando muito do prazer do vinho. Pelas suas características especiais de desprendimento de bolha, o espumante deve ser sempre consumido muito fresco, de preferência em copos altos e suficientemente grandes para apreciar os aromas. Esqueça os copos mais tradicionais conhecidos como flûtes em formato de tulipa esguia, altos e estreitos. Vai ver que os mesmos copos que usa para os vinhos brancos ou tintos lhe irão proporcionar um prazer acrescido, dando uma nova dimensão aos vinhos da região.

 

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