Fugas - Vinhos

JOÃO FERRAND

Os vinhos do Douro que reforçam o prestígio centenário da Poças

Por José Augusto Moreira

Empresa familiar vai na quarta geração e renova aposta nos vinhos de mesa. Vendas cresceram 45% em 2015 e representam já quase um quinto do negócio centrado na exportação.

Conhecer a casa Poças Júnior é uma espécie de viagem no tempo ao mundo do Vinho do Porto, mas com duas características muito especiais: é um raro caso de empresa que nasceu portuguesa e assim se mantém, detida agora pela quarta geração da mesma família; manteve-se também sempre inabalável na tradição do envelhecimento de vinhos em cave, resistindo à sedução dos vintage, e os seus Colheita são hoje uma das mais belas histórias do vinho do Douro.

Há, no entanto, ainda um terceiro aspecto que caracteriza a história mais recente da empresa, já que foi também das primeiras a apostar nos vinhos DOC Douro. As vendas cresceram 45% no ano passado e representam já cerca de 20% do negócio da empresa cuja actividade assenta na exportação (90%).

Os Coroa d’Ouro foram lançados em 1990 e a decisão recente de reforçar a aposta fez com que a equipa de enologia da casa — comandada por Jorge Pintão — conte agora com o apoio de um reputado especialista de Bordéus, Hubert Brouard, e com ele o lusodescenente Philippe Nunes, um entusiasta pelas castas autóctones e pelo potencial dos vinhos do Douro.

Os vinhos saídos das duas mais recentes vindimas aí estão para se submeterem ao veredicto do mercado e dos especialistas. Um notório caminho de elegância que convive de forma harmoniosa e complementar com a concentração típica do Douro, no Vale de Cavalos 2015, que sairá para o mercado no próximo ano; enorme ambição com o Símbolo 2015, um vinho ainda em formação que se mostra já sedoso, complexo, poderoso e elegante. Feito com base em vinhas velhas e um pouco de Touriga Nacional, será lançado em 2018. Coisa séria e a merecer muita atenção.

Também os brancos se mostram cada vez mais afinados e sedutores, como bem o demonstram os Reserva e Coroa d’Ouro de 2015. Vinhos frescos, equilibrados e sedutores, mas também de evidente aptidão gastronómica. O Outono que aí está é tempo ideal para o seu consumo.

Com os brancos, chegou também ao mercado um primeiro lote do Colheita de 2001. Na linha de excelência dos Colheita da Casa — que são um caso sério no panorama do Vinho do Porto —, promete destacar-se na sua evolução pela frescura intensa, fruta sedutora e potência final que exibe. Juvenil, mas de grande elegância, complexidade e sedução.

Apesar da história e importância que tem no Douro, a Poças Júnior nunca se pôs em bicos de pés e vai paulatinamente juntando evolução e modernidade ao seu percurso de quase 100 anos, que completa já em 2018. A recente abertura de um centro de visitas nas suas caves de Vila Nova de Gaia (Rua Visconde das Devesas, 186/ www.pocas.pt) permite agora a qualquer pessoa tomar contacto com essa realidade. Ou pelo menos parte, já que metade dos vinhos estão armazenados nas suas quintas no Douro.

A empresa tem em cave à volta de quatro milhões de litros de vinhos. Além de poder provar, o visitante pode tomar contacto com a realidade do envelhecimento, que é a principal característica dos Tawny datados e Colheitas que fazem a fama e identidade da Poças. Não foi criado qualquer circuito ou infra-estrutura especial para os visitantes, pelo que, além do ar do tempo e aromas, há as mangueiras, barricas, tonéis e todos os outros utensílios e apetrechos que fazem parte do dia-a-dia das caves.

E até, caso raro, a oficina de tanoaria, para a reparação e manutenção de todo o tipo de cascaria. E é muita na Poças. São cerca de 800 barricas, mais os enormes balseiros onde envelhecem todos os vinhos. Os maiores têm capacidade para 38 mil litros, mas há no Douro outros que chegam aos 90 mil litros de capacidade.

O vinho mais antigo em comercialização é o Colheita de 1964, mas há outro, com 80 anos e feito pelo avô dos actuais gestores, que será lançado em 2018 para a celebração do centenário.

Poças Reserva 2015 Branco
Castas: Rabigato, Códega, Gouveio e Viosinho
Graduação: 13,6% vol.
Preço: 7€
Leve estágio em barricas de carvalho francês com bâtonnage das borras finas a emprestar carácter de volumes e gordura que se aprecia na prova de boca. Sensações de frutos maduros, aroma e paladar cítrico e acidez assertiva. Sobressai o final saboroso, fresco, seco e em crescendo. Um belo branco.

Coroa d’Ouro 2015 Branco
Castas: Rabigato, Códega, Malvasia Fina, Viosinho e Moscatel
Graduação: 13% vol.
Preço: 4€
Fermentação com controlo de temperatura e estágio em cubas de inox que preservam o carácter fresco e primário das variedades de uva. O leve “tempero” de Moscatel confere ao vinho um carácter e frescura acutilantes e ligeira intensidade final. Excelente relação entre qualidade e preço.

Poças Colheita 2001
Castas tradicionais para o Vinho do Porto
Vinhas com idade média de 50 anos
Preço: 25€
De um ano de boa produção e boas maturações, envelheceu sem colagens em cascos de carvalho até transitar para as barricas onde continua a evolução. É engarrafado apenas à medida que vai para o mercado. Neste primeiro lote é ainda evidente a elegância de frutos macerados (cerejas), à mistura com elegante e complexo bouquet. Fresco, intenso e prolongado final. Na linha de excelência dos Colheita da casa.

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