Por trás dos cerca de 400 hectares da Romaneira, no Douro, a quinta do banqueiro brasileiro André Esteves onde, como gostava de sublinhar um dos seus primeiros proprietários, “cabe todo o principado do Mónaco”, há um homem que pouca gente conhece. Chama-se Adelino Teixeira e é ele que tem por missão granjear a propriedade e fazer chegar as melhores uvas aos lagares. No seu jeito telúrico — “Fui criado com vinho morangueiro e vitelos”, diz —, é uma espécie de braço-armado de António Agrellos, o enólogo e responsável máximo da Romaneira (e também da vizinha Quinta do Noval).
Formado na Escola Agrícola de Coimbra e com uma pós-graduação em Enologia na Universidade Católica, Adelino Teixeira começou a carreira precisamente na Quinta do Noval, em 1994, um ano depois de esta ter sido comprada pela seguradora Axa. Em 2006, mudou-se para a Romaneira. Sabe tudo sobre vinhas e é um apaixonado por olivais e azeite. No lagar de Suçães, em Mirandela, onde é feito o azeite da Romaneira, é conhecido por passar lá noites em claro, a acompanhar do início ao fim o processamento da azeitona.
Apesar de viver no Douro, Adelino Teixeira nunca perdeu a ligação à terra natal, Couto de Esteves, Sever do Vouga; e, em 2010, juntamente com o primo Horácio Teixeira, emigrante na Suíça (ambos da terceira geração), decidiu reactivar a Casa Barbas, como era conhecida a pequena casa agrícola da família, e retomar o modesto legado vitivinícola, circunscrito à produção de vinho morangueiro, entretanto proibido. Sever do Vouga nunca foi, na verdade, uma terra de vinho. Situada no interior do distrito de Aveiro, na fronteira com o distrito de Viseu, foi sempre conhecida pela produção de leite. Hoje, é um dos principais pólos de produção de mirtilo em Portugal.
Mas, para Adelino Teixeira, “todas as terras são boas para fazer vinho, se escolhermos as castas certas e as trabalharmos bem”. Acresce que Sever do Vouga, mesmo não tendo tradição vinícola, está no meio de duas das melhores regiões do país: o Dão e a Bairrada. A proximidade da Bairrada foi, de resto, decisiva na hora de optar pela produção de espumante. Em terrenos antes ocupados por eucaliptos e agora banhados pelas águas da albufeira da barragem de Ribeiradio-Ermida, Adelino plantou dois hectares de vinha de alta densidade (sete mil videiras por hectare). A escolha das castas foi pacífica: Pinot Noir e Chardonnay. “Não vale a pena correr e saltar. São as melhores castas para espumante”, defende Adelino.
O primeiro espumante, 1800 garrafas com a marca Argau, um Bruto com a Indicação Geográfica Beira Atlântico, foi lançado no final de 2015 e, já este ano, obteve uma medalha de prata no Concurso Vinhos de Portugal, organizado pela Viniportugal. Mais recentemente, saiu o Argau Cuvée Bruto, 1500 garrafas apenas.
O vinho base e a tiragem são feitos com todos os cuidados na pequena adega que montou em Couto de Esteves. O restante processo é terminado numa adega de um amigo. A ambição é fazer um espumante de grande qualidade. “O meu patrão [a Romaneira] não me perdoava se fizesse uma coisa má”, graceja.