Exactamente o contrário do que o universo do vinho insiste em fazer, um universo que ou pretende simplificar demasiado, garantindo que tudo é possível e que não existem regras nem formas de educar o paladar, ou que pretende criar tantas regras e preconceitos que afasta os apreciadores com tanta pompa e circunstância. Um universo conservador e alheio às mudanças sociais que continua a adiar a reforma da sua linguagem estética e que se mantém alheia às ambições dos consumidores de vinho. Um universo muito fechado sobre si próprio que raramente tenta sair do seu casulo, olhando para outras realidades, tentando retirar ensinamentos de outros sectores com realidades paralelas.
O mundo da cerveja artesanal não será seguramente perfeito e também terá algo a aprender com o universo do vinho onde regularmente procura inspiração. Mas tem muito para ensinar ao universo do vinho sobre comunicação, criação de marca, fidelização, inovação, humanização e proximidade. Até porque, ao dessacralizar a produção caseira de cerveja, onde muitos começaram até a crescer e ganhar outras ambições, a cerveja tornou-se mais mortal, mais próxima, menos formal, ganhando uma condição de proximidade a que o vinho não quer aspirar. Porque é que tantos ambicionam produzir cerveja em casa, em ambiente urbano, e poucos ou nenhuns desejam produzir vinho em casa no mesmo ambiente? As dificuldades técnicas são semelhantes, mas as afinidades e as distâncias emocionais são substancialmente diferentes.
Talvez fosse tempo de o universo do vinho despertar e de ganhar alguma intimidade com produtores de cerveja artesanal. Quem sabe, talvez seja mesmo tempo para alguns produtores de vinho começarem a produzir cerveja artesanal…