Fugas - Vinhos

  • Sérgio Azenha
  • Sérgio Azenha
  • Sérgio Azenha
  • Sérgio Azenha

Brindar com Primavera às manhãs soalheiras e aos dias mais longos e luminosos

Por José Augusto Moreira

Mais pela coincidência do nome, aproveitamos a chegada da Primavera para ir visitar a velha vinícola da Bairrada. Conhecida sobretudo pelos seus espumantes, aposta agora no refrescamento da imagem e em vinhos mais jovens e apelativos para reconquistar o mercado dos vinhos tranquilos.

No princípio era o vinho, e é essa a verdade que os actuais responsáveis pelas Caves Primavera querem ver reposta na actividade da empresa. Só depois da comercialização de vinhos a empresa bairradina fundada em 1944 começou a produzir espumantes, mas essa é uma faceta que os consumidores quase ignoram nos tempos que correm. Apesar da longa tradição de vinhos tranquilos, as Caves Primavera (Aguada de Cima, Águeda) são sobretudo conhecidas pela qualidade dos seus espumantes, e há mesmo dois, que são feitos apenas com a casta Baga, que não chegam para as encomendas e obrigam ao racionamento na sua distribuição.

Em termos de mercado interno, os espumantes representam cerca de 80% das vendas, uma realidade que se inverte completamente quando olhamos para as exportações, onde os vinhos tranquilos representam à volta de 85% das vendas, sobretudo para os mercados do norte da Europa, EUA e Brasil.

“Somos uma empresa com mais de 70 anos de experiência, com vinhos da Bairrada e do Dão e que está no top ten da Bairrada, mas os consumidores nacionais continuam a conhecer-nos sobretudo pelos espumantes. O nosso foco actual está nos vinhos Bairrada, com vinhos jovens e frutados para um consumo mais rápido e condizente com as actuais características de mercado”, explica José Roseiro, actual gestor da empresa, com a autoridade do passado comercial de grande sucesso em casas como a Dão Sul e a Adega Cooperativa de Cantanhede.

Por isso, a par do reforço da qualidade e refrescamento da imagem dos espumantes, as Caves Primavera estão já a lançar no mercado “vinhos que estão entre o bom e o excelente”, a preços convidativos e que espelham o bom momento que se vive na vitivinicultura da Bairrada.

Foi em 1944, ainda em pleno cenário da Segunda Guerra Mundial, que os irmãos Lucénio de Almeida decidiram avançar para o negócio do vinho. Uma empresa a que chamaram Vinícola Primavera, precisamente porque foi constituída a 20 de Março, dia de início da estação. Dez anos passados, em 1954, quando inauguraram as suas caves em instalações próprias, a empresa viria a alterar a alterar o nome, passando a designar-se, claro está, Caves Primavera.

No que toca a associação de nomes, diga-se também que o espumante de topo da casa se chama Célebre Data, precisamente porque foi lançado pela primeira vez para o mercado em dia de aniversário da fundação da empresa. Diga-se, já agora, que se trata de um espumante delicado, com elegância, acidez, bom volume e persistência que é feito com base nas castas brancas tradicionais da Bairrada, Bical, Maria Gomes e Arinto. Um típico e tradicional espumante da Bairrada, que agrada particularmente aos consumidores dos países nórdicos, que o consomem quase na totalidade.

Localizadas a sul de Águeda, praticamente à margem do IC2, as Caves Primavera estão abertas ao público, que pode visitar as instalações todos os dias úteis nos horários normais de expediente, ou seja, até às 17h. A visita é gratuita e quem lá for pode percorrer as áreas de vinificação, secções de engarrafamento e degorgement de espumantes, armazéns de estágio para vinhos e aguardentes ou as caves frescas onde estagiam em permanência perto de um milhão de garrafas de espumantes.

Ao todo, uma área coberta de mais de 10 mil metros quadrados, que incluem as zonas de laboratório, administrativa e comercial e ainda as salas preparadas para provas e refeições. Para grupos a partir de dez visitantes e visitas aos sábados, é necessária marcação antecipada, por razões óbvias.

Num terreno anexo às instalações, a empresa tem uma pequena área de pinhal que prevê substituir por vinha, com fins sobretudo didácticos e pedagógicos para enriquecimento das visitas.

Apesar dos cerca de 2,5 milhões de litros de vinho produzidos anualmente, a empresa mantém uma estrutura accionista e gestão ligada aos herdeiros dos fundadores. As uvas provêem de viticultores da região, à volta de 150 na Bairrada e do no Dão, com os quais mantêm uma relação com mais de 20 anos.

A viticultura e as vindimas são acompanhadas de perto pelos técnicos da Primavera, o que lhes permite determinar datas de vindima e seleccionar lotes específicos. Exemplo disso é o lote de Touriga Nacional, da Bairrada, da colheita de 2015, que deverá sair para o mercado lá para final do ano.

A par dos vinhos e espumantes, também as aguardentes velhas têm uma longa tradição de qualidade na empresa, sobretudo os rótulos Áurea e Capuchinha. Produção muito especial, e antiga, é ainda a de vinho de missa, um licoroso feito a partir das castas Maria Gomes, Bical e Arinto, cujas cerca de 70 mil garrafas anuais dão o líquido para missas de todas as dioceses do país.

Se não é uma bênção, é a prova da longa tradição de vinhos produzidos pelas Caves Primavera ao longo de mais de 70 anos, que a empresa procura agora reforçar com vinhos brancos e tintos de perfil mais jovem e actual.

Espumantes de Baga já não chegam para as encomendas

A vontade de produzir um vinho de qualidade com base na casta Baga tem esbarrado, por enquanto, no sucesso que representam para as Caves Primavera os seus espumantes feitos exclusivamente com esta casta bairradina.

A empresa foi das pioneiras a lançar um Bruto de Braga e, mais recentemente, aderiu a nova categoria dos Baga Bairrada com um Extra Bruto de muito bom calibre. “A venda dos espumantes de Baga não pára de crescer e ainda não conseguimos responder à procura, pelo que as vendas têm sido racionadas”, explica José Roseiro.

Da colheita de 2016 estão em estágio 250 mil garrafas de Baga Bairrada, número que está longe de satisfazer as encomendas, tal como acontece com o Bruto de Baga. “No ano passado as vendas tiveram um aumento superior aos 20%, muito por culpa dos espumantes", assegura o gestor, que anuncia mais duas novidades a lançar lá para o final do ano.

Uma é o tinto de Touriga Nacional, colheita de 2015, que foi distinguido com a Grande Medalha de Ouro na prova anual da Confraria dos Enófilos da Bairrada. Está nesta altura a terminar o estágio nas barricas e deverá ser engarrafado até ao Verão, para que repouse em garrafa até ser lançado no mercado. Vai custar à volta de 11€ e promete ser a nova referência nos tintos Primavera, à semelhança dos Garrafeira dos anos passados 70 e 80, de muito boa memória.

A outra novidade esperada para final do ano é um branco Bical, da colheita de 2005, caracterizado pela elegância e equilíbrio ácido, no qual os enólogos da casa depositam boas expectativas.

Já à venda está o branco Special Selection 2015, fermentado em madeira e com sequente estágio em borras finas. É feito com base na casta Bical e um pouco de Maria Gomes e Arinto. O preço, à volta de 6€, é bem interessante para um vinho que resulta muito apelativo e com amplitude gastronómica. Idêntico perfil procuraram os enólogos com o Special Selection tinto 2013 (6€), cujos aromas frutados e sabores de especiarias revelam um vinho bem interessante, com garra e taninos finos. 

Caves Primavera
Rua das Caves, 15
3754-906 Aguada de baixo
Águeda
Tel.: 234 660 660
Email: cavesprimavera@cavesprimavera.pt
www.cavesprimavera.pt

--%>