Fugas - Vinhos

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“Fazer as onze” e cruzar a tradição com a nova geração dos vinhos de Borba

Por José Augusto Moreira

A par da recuperação da adega, cave de tonéis e sala de talhas, a Sovibor aposta num novo patamar de qualidade superior e no relançamento dos vinhos com a velha identidade local.

Se quisermos simplificar, pode dizer-se que em Borba há a exploração dos mármores, a produção de vinho e uma orgulhosa memória da batalha de Montes Claros, que, em 1665, garantiu a independência e derrotou em definitivo as pretensões dos Filipes ao trono português.

 No que ao vinho diz respeito, a história bem pode ser contada através da Sovibor-Sociedade de Vinhos de Borba, que, a par da adega cooperativa local, concentra o grosso da produção e tradição. E bastará uma breve passagem pelo belíssimo edifício da Adega do Passo, onde estão as caves da Sovibor, para se perceber como é rica e antiga essa tradição.

A sociedade foi criada em finais dos anos 60 do século findo, instalando-se no edifício cuja construção data de 1740 e tinha servido entretanto como fábrica de sabão. Resultou da fusão das actividades entre dois produtores locais com largas tradições, as famílias Mira e Pinto, cujo legado inclui uma bonita cave de envelhecimento onde repousam ainda os originais tonéis de madeira, que estão a ser devidamente recuperados. 

Ao histórico edifício foi acrescentada uma gigantesca adega dotada de equipamentos mais actuais, mas as vicissitudes do negócio levaram à estagnação da actividade — até que uma nova história para a sociedade começa no início de 2015. A empresa muda de mãos e passa a fazer parte do grupo Sousa Tavares, SGPS, S.A., de Fernando Tavares, que detém na área da distribuição a Sotavinhos, S.A., na área da produção vinícola a Quinta do Progresso - Sociedade Agrícola, Lda, e na área do turismo o Hotel Quinta Progresso, em Vale de Cambra. 

Tendo garantido o fornecimento e controlo das vinhas que sempre estiveram na base da sociedade, algumas já com velhos encepamentos, Fernando Tavares tratou de obter a colaboração do reputado António Ventura, que lidera a equipa de enologia, que é ainda composta por Rita Tavares (filha do novo patrão) e Rafael Neuparth. A par da requalificação e modernização dos equipamentos, com destaque para a rede de frio, apostando na produção de vinhos com um perfil mais actual e de gama superior, a nova administração não descura o valor da tradição e quer ter também no mercado vinhos que mostram a velha identidade alentejana.

Para além da recuperação dos tonéis — onde ganha já personalidade um vinho que no próximo ano assinalará os 50 anos da criação da Sovibor —, Fernando Tavares tem também na Adega do Passo uma imponente sala de talhas, que adquiriu e recuperou segundo a mais rigorosa tradição, onde já estagiam vinhos por castas vinificados na última colheita que prometem mostrar a autêntica tipicidade do Alentejo. 

É fruto da renovação e do rumo que a nova administração quer imprimir que surge a linha Mamoré de Borba, ao mesmo tempo que reforça as marcas Borba Sovibor e Adega do Passo, que constituem o património da empresa. E se com os Mamoré a ideia é colocar no mercado vinhos de patamar superior e perfil moderno, a ideia de casar a tradição com a enologia actual tem expressão no novo vinho Fazer as Onze, um DOC Premium, recentemente lançado. 

A novidade contou até com o empenho da Câmara de Borba, já que o nome evoca uma velha tradição petisqueira do concelho, que quer fazer reviver. Na expressão dos locais, fazer as onze significa juntar amigos em torno de um petisco e um copo de vinho. Um ritual que nos velhos tempos acontecia obrigatoriamente às onze da manhã de qualquer jornada de trabalho e que hoje é ainda pretexto para um bom petisco e juntar amigos a qualquer hora. Importante mesmo é fazer as onze.

Com a capacidade instalada e as obras de recuperação efectuadas na adega, a Sovibor pode vinificar até dois milhões de quilos de uvas. É com a reconversão e refrescamento tecnológico que a equipa de enologia quer tirar partido do facto de disporem das uvas de algumas das vinhas mais antigas do Alentejo e provenientes de uma diversidade de solos que vai dos xistos aos mármores. Numa das vinhas, a Cabana do Guarda, acreditam mesmo que estão as cepas mais velhas da região de Alicante Bouschet, com mais de 50 anos. Nas tintas predominam ainda o Castelão, Trincadeira e Aragonez, enquanto nas brancas dominam o Roupeiro, a Rabo de Ovelha e a Tamarez.

 

Fazer as Onze
DOC Borba Premium
Alentejo Tinto 2016
Preço: 9,99€
Pontuação: 89
 
Com base nas castas tintas mais típicas da região, as notas minerais e enriquecedor estágio em madeira moldam a personalidade deste vinho, que se destaca ainda pelo volume de boca, sabor frutado. É elegante, persiste na boca e representa um refrescamento no estilo da região. Vai muito para além do bonito rótulo. 
 
 
Mamoré de Borba
Reserva Branco 2015
Alentejo
Preço: 15,95€
Pontuação: 87
 
Gordo, redondo e intenso na boca, tem um ataque vigoroso para depois moderar os ímpetos e terminar fresco, frutado e longo. Mistura as castas Verdelho, Antão Vaz e Arinto e a madeira marca-lhe inevitavelmente o carácter. mas a boa acidez acaba por conferir o necessário equilíbrio, ao mesmo tempo que confere alargado potencial gastronómico. Um vinho poderoso.
 
Mamoré de Borba
Colheita Tinto 2016
Preço: 5,99€ 
Pontuação: 86 
 
Cor viva e brilhante, aromas de vegetal seco e boca elegante. Das castas Alicante Bouschet, Shiraz e Castelão, tem boca elegante onde sobressaem os sabores frescos de frutos vermelhos, tipo cereja, algum tanino seco, e uma certa doçura do álcool a sobrepor-se no final de prova.

 

 

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