Construir automóveis não permite a mínima distracção e, qualquer intervalo à sombra de uma árvore, terá, sem dúvida, um castigo pesado. Veja-se o caso do BMW X3. Quando chegou ao mercado, em 2004, mais parecia um ciclista isolado há muitos quilómetros e sem que o pelotão tivesse qualquer hipótese de o alcançar. Mas o seu sucesso despertou a cobiça dos rivais e, em breve, floresceram propostas equivalentes, como o Audi Q5, o actual Land Rover Freelander, Mercedes GLK ou Volvo XC60.
Esta segunda geração do X3 não terá, portanto, as mesmas facilidades de que beneficiou o seu homónimo. A BMW sabia-o e tratou de melhorar o segundo Sports Activity Vehicle (SAV) da sua gama (o primeiro foi o X5, que remonta a 1999). A receita passou por um aumento de dimensões, como que para o distanciar do mais pequeno X1, mas que lhe conferem mais estatuto. Evoluiu também em habitabilidade e a nível tecnológico, ao passo que os interiores estão agora mais de acordo com o que se espera de um BMW que custa mais de 55.000 euros.
Passar horas dentro deste BMW, ao volante ou não, é algo que qualquer ser humano apreciará. Os materiais de boa aparência, montados com cuidado e rigor, dão um bom contributo para a atmosfera agradável de que se usufrui a bordo. Numa perspectiva mais prática, a habitabilidade desafogada é uma surpresa positiva, excepto para quem vai sentado no lugar central do banco traseiro, que fica notoriamente desfavorecido face aos outros ocupantes. E como o X3 é um carro familiar escolhido por pessoas supostamente com um estilo de vida "activo", elogie-se também a generosa capacidade da bagageira.
Mas mais do que a apreciação estática, um BMW costuma distinguir-se dos demais quando se avaliam os aspectos dinâmicos. Bom, se a ideia é sair de estrada com frequência e superar obstáculos difíceis, o melhor será talvez optar por um modelo com créditos mais firmados nesta matéria como é o caso do Land Rover Freelander. Este X3, equipado com pneus Pirelli PZero de baixo perfil, nem sequer saiu de estrada. Ou seja, para apenas iniciar a avaliação das suas qualidades em todo-o-terreno seria necessário, no mínimo, dispor de outro equipamento pneumático.
No entanto, apesar de, na prática, os seus modelos X se passearem quase sempre em estrada, não deixa de ser curioso verificar como a BMW trabalha para modificar esta percepção, ao participar em competições nacionais e internacionais de todo-o-terreno ou patrocinar passeios fora de estrada.
De volta ao asfalto, o X3 é capaz de proporcionar aquela sensação algo indefinível a que se costuma chamar prazer de condução. Não em doses maciças, principalmente para quem dispõe de patamares comparativos superiores. Mas ela está lá, junto com reacções precisas e suspensões cómodas. O sabor aquém do esperado poderá explicar-se pelas prestações que, apesar de serem elevadas em absoluto, não marcam aquela grande distância a que um BMW costuma colocar-se em relação à concorrência em geral. O 2.0 turbodiesel com 184cv é um motor reputado mas, neste caso, tem de locomover uma carroçaria menos favorável do que, por exemplo, um série 5, e distribuir a sua força pelas quatro rodas. O resultado final não é assim tão "explosivo" como noutros exemplares desta casa bávara.
A outra surpresa advém do facto de, nos últimos anos, a BMW ter conseguido grandes evoluções ao nível da eficiência dos motores. Ainda para mais, uma vez que o X3 é o primeiro a combinar a competente e eficaz caixa automática de oito relações da marca com o sistema Start/Stop (desliga e liga o motor quando das paragens), esperavam-se melhores registos ao nível dos consumos. No entanto, e apesar de o construtor anunciar uma belíssima média de 5,6 litros, os números reais, a rondar os nove litros, desiludem.