Fugas - motores

  • Daniel Rocha
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Não, não é de corrida

Por Luís Francisco

Dura escassos segundos, mas esta primeira impressão pode condicionar muito do que vem a seguir. Por isso, fica já o aviso: apesar de a posição de condução nos transportar para o universo dos ralis, este não é um carro desportivo. Embora, em certos detalhes...
Ou o condutor que aqui esteve antes tinha pretensões a piloto ou isto está mesmo esquisito... A coluna da direcção está puxada ao máximo para o interior do habitáculo e o volante, muito baixo, quase se coloca em rota de colisão com as pernas. Tudo bem se formos um Armindo Araújo - os pilotos de ralis conduzem sentados na zona do pilar central do carro, com o volante muito perto do peito. Mas isto não dá jeito nenhum no dia-a-dia. Ou dará?

Quando se puxa a coluna da direcção para cima, há duas conclusões rápidas a tirar: em primeiro lugar, por mais que se tente subi-la, ela nunca chega a uma configuração sequer perto da tradicional; em segundo lugar, na sua posição mais elevada, o volante tapa quase na totalidade o painel onde se situam o conta-rotações e o velocímetro. Ou seja, mesmo subindo o banco um bom bocado, rapidamente concluímos que o melhor é habituarmo-nos a conduzir com o volante muito baixo.

A Peugeot diz que é um truque para não desviar tanto os olhos da estrada. Talvez resulte. Mas é um preço demasiado alto a pagar pela vantagem minimal nos tempos de reacção visual. Até porque, mais ainda do que as questões ligadas à ergonomia, este primeiro contacto pode deixar-nos a pensar que vamos conduzir algo que, decididamente, este 208 não é: um carro com vocação desportiva.

Diga-se que o desenho exterior, muito bem conseguido, também faz a sua parte para vender esta ilusão. O 208, sucessor do 207, rompe com a regra do "crescimento contínuo" que se impõe na indústria automóvel e é mesmo mais pequeno por fora do que o modelo que o antecede. Mais pequeno e mais bonito, por ser incrivelmente compacto. Parece uma pequena tartaruga "acelera", arredondada e robusta.

E é a pensar em tudo isto que nos sentamos ao volante. São só 92cv, mas, com este peso, será que a Peugeot voltou a surpreender-nos com um daqueles pequenos desportivos que têm feito muita da fama da marca do leão? Desilusão. Ou melhor, para sermos justos, será antes de falar em perder as ilusões (o que não é a mesma coisa). Com estas dimensões e os argumentos mecânicos de que dispõe, sim, o Peugeot 208 1.6 e-HDi é um carrinho despachado, mas não tem argumentos desportivos.

A suspensão até se mostra durinha q.b., prenunciando um bom desempenho em curva, mas depressa percebemos que essas limitações de conforto acontecem principalmente em pisos degradados, o que também tira alguma vontade de procurar trechos sinuosos onde não possamos ter a certeza de encontrar um bom tapete de asfalto. Só que isso ainda é o menos. Onde a aura desportiva sai de cena é mesmo na embraiagem lenta e na direcção um pouco menos comunicativa do que seria de esperar. A caixa também é curta e o motor hesita a baixa rotação.

Ou seja, se os fãs da Peugeot andarem à procura de um carrinho divertido para acelerar, podem começar a procurar noutro lado. A começar pelo leque de propostas da própria marca, que nesse terreno em particular não se deixa intimidar por ninguém. Piscando o olho a uma clientela mais jovem do que a do 207, o novo leãozinho parece menos universalista do que o modelo a que sucede, mas que, por enquanto, ainda não substitui.

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