Fugas - motores

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Um carro de resposta múltipla

Por Luís Francisco

Se gosta de andar fora de estrada, mas sem exageros, pode contar com ela. Se privilegia a economia, é o carro para si. Se não dispensa requinte e mordomias, não sairá desiludido. A Peugeot 508 RXH tem resposta para quase todas as exigências. Só precisa de limar algumas arestas tecnológicas.

De vez em quando, aparece um carro assim, capaz de se colocar num espaço ainda virgem. A Peugeot, que já inovara ao conjugar motor diesel e eléctrico, entrou ainda mais por terrenos pouco desbravados pela indústria e passa a oferecer uma carrinha 4x4 com estes parâmetros mecânicos. Ao fazê-lo, assume que este será sempre um produto de elite e carrega-o de equipamento, aprimora os interiores e aposta numa estética cuidada. O resultado é bastante bom. E caro, pois.

Mas a concorrência, no mercado português, ainda fica bem longe. Mesmo com todos os extras disponibilizados pela marca, a viatura de teste ensaiada pela Fugas fica pelos 47.990€ - por 43.240€, compra-se o modelo sem estofos em couro, faróis "inteligentes", pintura nacarada, portão traseiro motorizado, acesso e ligação mãos-livres ou ar condicionado automático quadri-zona. Certo, isto já são preços fora do alcance da bolsa do cidadão comum, mas, comparativamente, mostram-se muito interessantes. Isto porque uma Audi A4 Allroad TDI de 177cv custa a partir de 51.000€ e as Volvo XC70 (D5, de 215cv), de um segmento acima, nunca descem dos 65.000€...

Também é verdade que a Peugeot ainda não atinge o grau de sofisticação exibido pelos construtores veteranos do segmento premium. Mas aproxima-se bastante e assume claramente o desafio de os enfrentar no seu próprio terreno. Para mais, não receia o risco de apostar em tecnologia inovadora, capaz de conciliar preocupações ecológicas e desejo de performance, vocação familiar e tendências desportivas. Nem sempre se sai airosamente de todos estes desafios, que são muitos. Mas o balanço final é francamente positivo.

O primeiro olhar não engana. Mais larga (4cm) e mais alta (5cm) do que uma carrinha 508 convencional, a RXH adopta ainda elementos diferenciadores, como a faixa de plástico em todo o rebordo inferior da carroçaria e as linhas de LED das luzes diurnas. Colocadas em dois grupos de três nos dois cantos do pára-choques dianteiro, fazem lembrar marcas das garras de um leão. Diz a marca. Adiante.

Lá dentro, muito espaço, bons materiais, acabamentos sem mácula, equipamento abundante e um certo ar high-tech que fornece uma componente de modernismo. Mas sempre com elegância. A única concessão ao pragmatismo é mesmo o fundo muito elevado da bagageira, uma vez que, por baixo, se alinham as baterias do motor eléctrico. Isto para já não falar na velha questão da ausência de pneu suplente, num carro que até aspira a andar fora do asfalto...

A dupla motorização do modelo confere-lhe uma potência combinada de 200cv, o que, podendo parecer muito, acaba por não ser, dado estarmos ao volante de um carro pesado (1770 kg). Não se conte, portanto, com performances de arregalar o olho. Ainda assim, seria de esperar um bocadinho mais de vivacidade num veículo que, para além da potência, conta ainda com a vantagem de o motor eléctrico (como é regra) disponibilizar o binário muito cedo. E talvez seja aqui que reside o calcanhar de Aquiles deste modelo.

O carro é confortável, bem insonorizado, espaçoso e bem desenhado. Passa claramente no teste de família. É também económico, ecológico e (com um depósito de 70 litros) tem uma autonomia notável, pelo que marca pontos nos argumentos racionais. Mas, não sendo desagradável de conduzir, também não deslumbra neste ponto. A primeira sensação é a excessiva assistência da direcção em estrada, que obriga a fazer correcções frequentes quando circulamos a velocidade de cruzeiro. Depois, as acelerações sofrem um atraso bastante sensível (carrega-se no pedal e o impulso só surge um ou dois segundos depois) e as recuperações são um pouco dolorosas.

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