Plantar uma vinha de raiz, desbravar terreno e implantar uma vinha nova é um empreendimento terrivelmente caro, um cometimento que envolve um investimento inicial formidável que está sujeito a prazos de amortização dilatados, obrigando a uma injecção contínua de dinheiro vivo e a um esforço inicial de capital substancial que só começará a ser resgatado longos anos após o investimento financeiro inicial.
Plantar uma vinha de raiz implica ter de se equipar com doses elevadas de paciência e possuir espírito de sacrifício, implica dispor de tempo, capital e de uma almofada financeira suficientemente confortável para permitir suportar os custos acumulados dos anos iniciais de que só tardiamente começarão a ser ressarcidos.
O vinho obriga a pensar no médio e longo prazo, longe do imediatismo das decisões apressadas e inconsequentes do curto prazo, impondo um planeamento eficaz que encaminhe para decisões amadurecidas. Os custos económicos de plantar uma vinha de raiz, uma vinha nova e bem programada, desenhada segundo os preceitos e regras da viticultura moderna, podem ultrapassar facilmente os 25.000€ por hectare, isto se assumirmos que a vinha irá ser implementada nas planuras do Alentejo ou Tejo. Se a vinha for promovida em terrenos mais acidentados, por exemplo no Douro, onde os esforços terão de ser mais elevados face à circunstância de estarmos perante uma viticultura de montanha, os custos serão substancialmente mais elevados.
A estes custos pesados, e sempre assumindo que as falhas de plantação serão pouco significativas, há ainda que acrescer a inactividade da planta durante os três primeiros anos, período durante a qual a videira ainda não é capaz de fornecer uvas competentes para a elaboração de vinho... mas tempo durante o qual os custos de exploração não estancam, com podas, desfolhas, tratamentos e demais operações da vinha a reivindicar um empenho financeiro contínuo onde as despesas se acumulam e os proveitos continuam a não querer atracar.
Como facilmente se depreende pelo enunciado, a escolha de castas é um dos processos mais importantes na longa e múltipla lista de decisões que um produtor tem de tomar. O espaço para o erro ou o simples amadorismo é limitado tendo em conta o elevado preço a pagar e as consequências de comprometimento do futuro num prazo temporal tão dilatado. No caso de desacertos que mostrem ser necessárias correcções na vinha, reformando a escolha das castas, há que avançar para a reenxertia das cepas, reconvertendo a vinha com um custo que não se afastará muito dos 5000€ por hectare e a certeza de um ano de paragem ou de quebra de produção.
Face a estes dados, factuais e objectivos, nem sempre será fácil explicar a propensão revelada por tantos produtores para escolher as suas castas, muitas vezes adoptadas de forma irracional, perfilhando castas por razões nem sempre compreensíveis ou explicáveis. Será difícil enumerar quantas vezes a escolha recai simplesmente nas castas que o vizinho adoptou, nas castas tradicionais dos estilos de vinhos que o produtor gosta, mesmo que as condições da sua vinha nada tenham a ver com o lugar de origem das castas eleitas. Será difícil quantificar quantas vezes as castas são escolhidas simplesmente por estarem na moda, por se falar amiúde dessa variedade, mesmo que essa casta ainda não tenha demonstrado a sua validade na região ou em Portugal.
Face ao custo e à longa amortização necessárias para validar a escolha de uma vinha, seria de esperar uma decisão ajustada aos princípios da racionalidade, deixando de lado as paixonetas e o experimentalismo, procurando rentabilizar um dos factores de produção mais caros e de maior dificuldade de reconversão. A realidade, infelizmente, encarrega-se de destronar a teoria, revelando decisões meramente casuísticas e sem qualquer tipo de sustentação.
Só mesmo assim poderíamos compreender o súbito desnorte de tantos produtores com variedades exóticas de que pouco ou nada sabemos, sem histórico em Portugal ou na região, plantadas por simples feeling ou por um seguidismo pouco reflectido, correndo atrás de nomes que soam bem e parecem bem num contra-rótulo. Quantos dos hectares actual e recentemente plantados com as castas Viognier, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, ou mesmo Alvarinho, irão ser vítimas de uma reenxertia forçada num futuro próximo? Quantas destas castas da moda plantadas até à exaustão no centro e sul de Portugal, sem que alguma vez se tenha investigado sobre a sua mais-valia para Portugal ou para a região, poderão resistir aos ventos da moda e aos novos nomes que em breve irão surgir no horizonte? Qual será o custo económico de reconversão que produtores e viticultores terão de pagar para a sua substituição, eventualmente trocadas por uma nova vaga de castas da moda?
Como explicar a súbita explosão de vinhas plantadas com a casta Alvarinho no Alentejo, Tejo e Lisboa sem que por ora exista qualquer sinal de um vinho marcante e inspirador com esta variedade nestas regiões? Porquê insistir no Sauvignon Blanc em Portugal, casta aromática mas cândida, variedade que reclama por climas frios, quando existem tantas castas brancas aromáticas nacionais de eleição que poderão cumprir melhor o papel, juízos que poderão ser facilmente alargados às castas Viognier e Petit Verdot? É que ser fashion victim no mundo da viticultura é, para além de insensato, receita certa para o desastre financeiro.