Desde cedo os produtores descobriram que a cor, forma e sobretudo o tamanho das garrafas condicionam a evolução, longevidade e capacidade de envelhecimento dos vinhos, embora nem sempre se tenha compreendido e conseguido explicar os distintos fenómenos que conduzem a um envelhecimento do vinho em cada tipo de garrafa. Na verdade, ainda hoje não conseguimos compreender a totalidade dos múltiplos fenómenos envolvidos na evolução do vinho e qual a influência da garrafa no seu crescimento e desenvolvimento. De forma empírica, cada região foi determinando o seu modelo ideal de garrafa, acertando formatos e tamanhos que melhor convinham aos vinhos dessa região.
A legislação europeia acabou com todas as veleidades regionais adoptando diversos modelos padrão que foram posteriormente transcritos para a totalidade dos países produtores, bitolas que passaram a instituir os 750 mililitros como o padrão para as garrafas de vinho. Para além do volume legal da garrafa clássica, a regulação europeia estabeleceu uma multidão de outros volumes legais, de entre as quais se destacam a meia garrafa e a garrafa magnum, a primeira com uma capacidade de 375ml, que equivale a metade do volume de uma garrafa tradicional. No extremo oposto, nos tamanhos superiores, a garrafa magnum anuncia um volume de 1500ml, o que equivale ao dobro da capacidade de uma garrafa clássica. Estes são os volumes habituais, aqueles que poderão ser encontrados em supermercados e garrafeiras, disponibilizados por um grupo alargado de produtores.
Porém, para além dos clássicos, existem ainda formatos menos vulgares, os grandes formatos e, no extremo oposto, as miniaturas e garrafas das companhias aéreas, estas últimas com capacidade de 187 ml. Os grandes formatos têm dois bastiões de eleição, duas regiões tradicionais com direito à utilização de nomes próprios para as garrafas, Bordéus e Champagne. Na região de Bordéus, os formatos variam entre a rara Marie-Jeanne (2,25 litros, que equivalem a três garrafas), double magnum (3 litros, que equivalem a quatro garrafas), Jeroboam (4,5 litros, que equivalem a seis garrafas) e Impériale (6 litros, que equivalem a seis garrafas). A região de Champagne, por sua vez, adoptou nomes bíblicos para as suas referências, desde o Jéroboam (3 litros, que equivalem a quatro garrafas), Rehoboam (4,5 litros, que equivalem a seis garrafas), Matusalém (6 litros, que equivalem a oito garrafas), Salmanazar (9 litros, que equivalem a 12 garrafas), Baltasar (12 litros, que equivalem a 16 garrafas) até à impressionante Nebucodonosor (15 litros, que equivalem a 20 garrafas).
Se em Bordéus a correspondência directa entre os grandes formatos e uma evolução mais lenta é real, permitindo uma aposta clara no envelhecimento, em Champagne os grandes volumes servem essencialmente como veículo promocional de eleição, já que todas as garrafas de volume superior a magnum são engarrafadas a posteriori, cheias a partir de garrafas clássicas tendo em conta a impossibilidade material de proceder à segunda fermentação em garrafa com volumes de dimensão tão considerável.
As meias garrafas, por se transformarem mais rapidamente, proporcionam evoluções mais pronunciadas e apressadas que as garrafas clássicas. Pelo contrário, as garrafas magnum evoluem de forma mais serena, mais estável e tranquila, garantindo maior longevidade ao vinho. Embora a ciência ainda não consiga explicar todos os fenómenos que condicionam o envelhecimento do vinho, a explicação mais habitual assenta no princípio intuitivo de que em garrafas com gargalos e rolhas iguais, mas massas substancialmente diferentes, os formatos grandes garantem uma proporção entre vinho e oxigénio mais favorável, facultando uma evolução mais cuidada, enquanto a pior relação nos formatos pequenos força a uma evolução mais rápida e acidentada.
Percebe-se que as meias garrafas serão um volume ideal para um consumo a médio ou curto prazo, do mesmo modo que as garrafas magnum se apresentam como o tamanho ideal para os vinhos que se pretendem de guarda mais prolongada. Formatos de garrafa superiores, apesar de potencialmente excelentes, mostram-se demasiado caros e pouco práticos, apresentando volumes excessivos para poderem ser consumidos numa só ocasião. As meias garrafas são especialmente úteis para os generosos e vinhos doces, vinhos que de tão ricos, espessos e intensos, devem ser bebidos em quantidades reduzidas. As meias garrafas são ainda uma forma prática e económica de poder experimentar um vinho desconhecido, comprando primeiro uma meia garrafa, provando o vinho e, caso este agrade, optando por comprar garrafas em dimensões normais ou magnum.
Infelizmente, e apesar das vantagens de cada volume, é cada vez mais difícil encontrar garrafas nestes formatos. Muitos produtores procuram afastar-se tanto quanto possível dos formatos não convencionais face aos custos adicionais e à baixa procura que suscitam. Está na sua mão inverter esta tendência.