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Terra Estreita: Atrás do biombo das dunas

Por Idálio Revez

A praia da "Terra Estreita" na ria Formosa não é secreta, mas é discreta e pouco conhecida. Do conjunto das 132 praias de uso balnear que existem no Algarve, esta parte da ilha de Tavira ainda não foi invadida pelas multidões, sobretudo em Agosto, que ocupam os 200 quilómetros de costa da região. Francisco Domingos, professor de educação física, aposentado, sublinha o "ainda" para destacar o "charme" que encontra no lugar, e convida a respirar fundo para melhor sentir o cheiro que anda no ar, ao caminhar no passadiço sobre as dunas - o biombo atrás do qual se esconde o mar.

A praia fica a uma distância de dez minutos de barco do povoado piscatório de Santa Luzia. O transporte é garantido por uma carreira regular, mas existe um serviço de barco-táxi que pode ser requisitado a qualquer hora. A concessão da praia está a cargo da empresa A vida é bela que criou uma estrutura de apoio desmontável, para dar assistência aos clientes. "Estamos aqui, mais pelo coração do que pelo negócio", confidencia Eduardo Marques, lembrando que os todos os anos, no final da época, tem de transportar para terra toneladas de madeira.

"My friend, oh my friend", o barqueiro, Virgílio Sacramento, fala o inglês aprendido ao longo das muitas viagens que fez a trabalhar nos barcos de cruzeiros internacionais. A forma descontraída como lida com os clientes faz dele um verdadeiro relações-públicas. Quem quer que seja que visite a vila encontra um amigo ao leme, no barco da carreira, que informa onde pode comer saladinhas de polvo e outros petiscos. "Aqui, temos tudo - mar, sol, marisco e boa gente". "Só nos falta dinheiro", acrescenta, dando uma gargalhada. Francisco Domingos ouve com atenção. "Nasci aqui ao lado em Castro Marim, mas vivi sempre em Setúbal, não conhecia esta praia". Ao fim de uma semana de férias, não poupa elogios à Terra Estreita: "O que me encanta é o sossego, o charme da praia". O homem do leme escuta, e mostra-se satisfeito: "Ah!, está a gostar da nossa terrinha.". É pela manhãzinha, ou ao fim da tarde, quando a humidade acentua o perfume que se liberta das plantas silvestres nas dunas, que se descobre a magia do lugar.

Manuel Estêvão, um pescador requalificado em empregado de mesa, aproveita um dia de folga para ir à praia. "Ainda me lembro quando para aqui vinha com o meu pai, trazia um fogareiro e assávamos sardinhas na praia", recorda. Esse tempo passou à história, mas o espaço natural mantêm-se. "No mês de Agosto há muita gente por todo o lado, mas aqui basta andar dez minutos na praia para ficarmos isolados". O professor de ginástica exercita o corpo, fazendo uma caminhada, e volta a referir o "encanto" do sítio. O barqueiro, reformado da marinha mercante, lembra outro aspecto. "Na Luz de Tavira ainda somos todos conhecidos e primos - descendentes de três famílias: Naus, Poças e Sacramento". Razão pela qual, no seu entender, " não há assaltos ou outro tipo de crimes quem nos visita sente-se em casa".

Santa Luzia conserva ainda a matriz histórica que deu à vila a fama de "capital do polvo". Não possui sofisticação na oferta dos restaurantes, mas douradas e robalos quase saltam directamente da ria Formosa para a mesa.

Como ir

O melhor percurso para chegar à Terra Estreita é a seguir pela Via do Infante até ao nó de Tavira. A partir daí faz-se um desvio para a Estrada Nacional (EN) 125, seguindo a placa de indicação das Pedras d'el Rei até Santa Luzia. Uma vez chegados à vila, procura-se alojamento (escasso só em Agosto) e encosta-se o carro. Para ir à praia existe o barco da carreira regular a funcionar quase num sistema vaivém, durante a época alta. Quem desejar ficar a ver as estrelas e a ouvir o bater das ondas pela noite dentro, pode optar por pedir um barco-táxi para regressar a casa-966615071 ou 966615223.

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