Fugas - Vinhos

Adriano Miranda

Alvarinho ou Monção/Melgaço?

Por Rui Falcão

A certeza há muito que está instalada. Não deverá haver hoje dúvidas existenciais sobre a validade e superioridade da variedade Alvarinho, muito provavelmente a melhor das castas brancas nacionais e, certamente, uma das melhores castas brancas internacionais

O nome Alvarinho ganhou tamanha notoriedade junto dos consumidores nacionais que, mesmo num passado recente, numa época onde pouco ou nada se sabia sobre as castas portuguesas, quando poucos ou nenhuns sabiam identificar as castas de cada região, o Alvarinho já era chamado pelo nome. Quando nomes de castas hoje famosas como a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz/Aragonês, Trincadeira, Alicante Bouschet, Antão Vaz ou Arinto ainda eram alegres desconhecidas, já a maioria tinha ouvido falar do Alvarinho e pedia-o pelo nome.

Num país que sempre privilegiou e continua a privilegiar os vinhos de lote, a mistura de muitas castas na mesma garrafa, o Alvarinho cedo se habitou a reinar sozinho. Num país que se acostumou a nem conhecer as suas castas e se habituou a pedir os vinhos pelo nome da região, o Alvarinho cedo se afirmou como uma excepção. Num país que se esforça por comunicar as suas excentricidades, esta ideia peregrina de fazer vinhos de lote em lugar de vinhos estremes, vinhos de várias castas em lugar de uma só casta como é habitual na maioria dos países produtores, o Alvarinho cedo se destacou pela diferença e originalidade de ser um vinho de uma só casta.

Num país que há muito se habituou a menorizar os vinhos brancos, amordaçando-os sob a condição de vinhos de segunda, num país que continua a recusar pagar mais de três a cinco euros por vinhos brancos, ao mesmo tempo que não se importa de pagar o dobro por um vinho tinto, o Alvarinho desde cedo se apresentou como a excepção, a cedência à evidência de qualidade e exclusividade. De forma mais ou menos segura e consistente, o nome Alvarinho foi sendo paulatinamente consagrado como a referência de facto nos vinhos brancos nacionais, logrando uma respeitabilidade e honorabilidade sem paralelo com as demais castas brancas portuguesas.

Tamanha projecção mediática e financeira só poderia ter como consequência natural a propagação da casta por todo o território nacional, alargando o seu raio de acção do seu Minho natural para a pluralidade do espaço territorial luso. Apesar de relativamente recente no tempo, o movimento aparece como imparável e tem recrudescido em intensidade ao longo dos últimos anos, período durante o qual a área plantada tem aumentado de forma sistemática. São poucas as regiões de Portugal onde não se encontra pelo menos uma parcela experimental plantada com a casta Alvarinho e são cada vez menos os produtores e viticultores que conseguem manter-se alheados à atracção fatal do Alvarinho.

Poderíamos seguramente ponderar sobre os locais onde algumas das vinhas foram plantadas, questionar sobre se a escolha do local para a casta será a mais correcta, reflectir sobre uma eventual cedência a modas e a experimentalismos inconsequentes. Mas a realidade material é que a casta actualmente está plantada por todo o território nacional, mas também na Galiza e em outras partes do mundo, e está presente de forma ostensiva e clara em cada vez mais rótulos e contra-rótulos. Sobre isto não há nada a fazer ou sequer a lamentar.

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