Ela foi o primeiro lince ibérico a chegar ao Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro (CRNLI) de Silves, em 2009, então com seis anos, tornando-se a fundadora daquelas instalações algarvias. Ele nasceu em 2010 no Centro de Reprodução espanhol de La Olivilla, tendo-se mudado em Novembro para o CNRLI.
Não reunindo as condições necessárias para serem reintroduzidos na natureza, os dois exemplares da espécie – classificada como Criticamente em Perigo pela União Internacional para a Conservação da Natureza – vão agora tentar encantar os visitantes do Jardim Zoológico de Lisboa, contribuindo assim para uma importante missão educativa, de divulgação e sensibilização junto da população.
A chegada dos dois linces-ibéricos insere-se no projecto de conservação da espécie, numa parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
“Este projecto orgulha-nos muito e reforça a nossa missão: preservar e conservar espécies em vias de extinção”, afirma o presidente do Jardim Zoológico de Lisboa, Francisco Naharro Pires, defendendo que a chegada dos dois linces-ibéricos “é ainda mais importante”, uma vez que é “uma espécie endémica da Península Ibérica” e “que enfrenta um sério risco de extinção”.
A integração do casal de linces no principal zoo português “permite a ampla divulgação da causa e o forte apoio ao processo de reintrodução em Portugal”, refere o secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, Miguel de Castro Neto.
O lince-ibérico é considerado o felino mais ameaçado do mundo, encontrando-se numa situação de pré-extinção. Como lembra o Jardim Zoológico de Lisboa, em 1950 existiriam cinco mil exemplares na Natureza. Hoje são menos de 350.
No dia 16 de Dezembro, foram libertados pela primeira vez em Portugal dois linces criados em cativeiro, dando início à fase decisiva do programa de reintrodução da espécie no país. Katmandu e Jacarandá já moram no concelho de Mértola, outros dez seguir-lhes-ão as pisadas nos próximos oito meses pelo vale do Guadiana.
Azahar: uma história sem crias
Azahar vem de uma das últimas populações selvagens da espécie, recolhida na natureza em Espanha, em 2005, quando se tornou uma das primeiras fêmeas do Programa Ibérico de Conservação Ex-situ. Em 2009, foi a fundadora do Centro Nacional de Reprodução em Cativeiro, em Silves, e o primeiro lince-ibérico a ser observado de forma comprovada no país desde o início da década de 1990.
No entanto, a fêmea pioneira dificilmente deixará descendência. Depois de três anos com disfunções no parto, onde nenhuma cria sobreviveu, foi-lhe dada “uma última oportunidade reprodutiva”: a primeira colheita de embriões realizada com sucesso no CNRLI. No início de 2013, os três embriões, recolhidos após a retirada do útero e consequente castração de Azahar, foram depois congelados e armazenados no Banco de Recursos Biológicos do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madrid.
De acordo com o ICNF, estes poderão vir a ser “transferidos para uma fêmea receptora, esperando que estes se implantem, se desenvolvam e resultem em animais saudáveis”. “Com esta técnica foi possível preservar a informação genética de Azahar e manter a esperança de obter crias produzidas pela fêmea que continuem a propagação da sua linha genética e desta espécie criticamente em perigo de extinção”.