A colheita de 2011 foi uma das melhores das últimas décadas em todo o país. No Alentejo, originou vinhos robustos, concentrados e equilibrados. António Maçanita e David Booth, sócios fundadores da empresa Fita Preta, fizeram alguns memoráveis.
O vinho que hoje se propõe foi um deles. Memorável também por 2011 ter sido a última vindima de David Booth. O viticultor inglês, com obra feita no Alentejo, faleceu em Março de 2012, vítima de ataque cardíaco. Tinha 47 anos. No rótulo do Fita Preta 2011, António Maçanita refere-se a ele como “jardineiro”. Jardineiro de vinhas. Os grandes vinhos não nascem nas adegas, nascem nas vinhas, e David Booth era um notável criador de grandes vinhos.
Este Fita Preta 2011 não é um tinto alentejano clássico. Quarenta por cento do lote é composto de Touriga Nacional. O restante é Alicante Bouschet (39%) e Aragonez (21%). Mas o “calor” que emana do copo, da fruta madura do bosque (amoras, mirtilos), das notas tostadas de barrica e do generoso volume de álcool (14,5%), tem marca mediterrânica. Há muito sol por trás, muita fruta madura e um longo trabalho de barrica (18 meses). Embora a Touriga Nacional domine, é o perfil mais gordo e negro do Alicante Bouschet que sobressai. Opaco de cor, é um vinho denso e carnudo, com grande presença aromática e um enorme volume de boca.
Sendo um vinho do sul, não se espere encontrar muita frescura. O que este tinto oferece é madureza de fruta, taninos macios, imponência, sapidez. Se peca em alguma coisa é em ter um pouco de álcool a mais. Mas aqui já entramos na subjectividade do gosto. Quem gosta de vinhos opulentos e maduros vai adorar. Na nossa opinião, seria ainda melhor se fosse um pouco menos “quente”.