O calor começa a abrandar e o momento dos reserva brancos tem a sua oportunidade. Sem a vivacidade da fruta dos vinhos mais ajustados para o Verão, muitas vezes sem a sua acidez mais vincada, os brancos sujeitos a um trabalho mais intenso na adega e submetidos ao efeito da barrica dispõem de outros trunfos que vão para lá do frescor ou da graciosidade. Podem (e devem) beber-se a temperaturas mais altas e ajustam-se a um leque mais vasto e variado de comidas onde cabem queijos ou carnes brancas. Há uns anos, o excesso de madeira uniformizava uma boa parte da oferta de reservas e tornava-os cansativos; hoje, a enologia é muito mais capaz de balancear a complexidade que a tosta oferece com a fruta e a acidez.
Entre os reserva consagrados, não apenas pela sua qualidade intrínseca mas também pela sua regularidade, estão os vinhos da Herdade do Esporão. Feitos a partir de uma vinha com 18 anos, a sua fórmula tem por base a parceria perfeita entre as castas Arinto e Antão Vaz — com a Roupeiro ou a Semillon a servirem de ajudantes conforme as características do ano. Com a Arinto a garantir acidez e tensão e a Antão Vaz volume e fruta de polpa branca e de inspiração tropical, o balanço fica garantido. Depois, a fermentação em inox ou em carvalho americano e um estágio parcial de meio ano em barricas de carvalho francês em contacto com as borras finas acrescentam complexidade e sofisticação.
Sendo um branco razoavelmente gordo na boca e marcado pelas notas resinosas da barrica, preserva a graça da fruta, a mineralidade do lugar (e da enologia) e o carácter da casa. É irresistível e versátil — ajusta-se a momentos de convivialidade, embora seja na mesa que mostra a sua fibra. Os seus aromas cítricos, a sua afinação e balanço, a classe e a persistência no palato preservam os créditos da Esporão na categoria dos brancos reserva. Quando não se troca a frescura que se exige a um branco pela complexidade nem vice-versa, fez-se metade do caminho para ter um vinho recomendável. É claramente o caso.