Fugas - Viagens

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Miradouros: Sítio da Nazaré, miradouro da valentia lendária

Por Margarida Paes

Ao longo de 20 semanas, a Fugas destaca outros tantos miradouros, o nosso património das vistas. Hoje paramos na Nazaré.

Portugal é tão antigo que em cada lugar já houve tempo para perpetuar uma história com séculos e transformá-la numa lenda. O sítio da Nazaré tem uma história que remonta ao século XII, ligada a D. Fuas Roupinho, Alcaide-Mor do Castelo de Porto de Mós, que nela descobriu uma imagem da Virgem escondida numa gruta e trazida de Nazareth na Palestina durante o século VIII. Todo o cenário da lenda e da realidade é feito das escarpas a pique e lajes de calcário que formam consolas salientes, suspensas no vazio da encosta que ali se ergue a 100m de altura. Como ruído de fundo, o rebentar das ondas nas rochas e o som perpétuo da água do mar e da sua espuma a bater na costa deve ser o mesmo que se ouvia no século XII.

Como bom cavaleiro da Idade Média, D. Fuas Roupinho caçava pelas serranias brumosas numa manhã de Setembro e viu desaparecer numa destas escarpas o veado que velozmente perseguia nas falésias deste sítio onde o milagre aconteceu: o cavalo travou o seu galope, ergueu-se, salvando-se a ele e ao cavaleiro D. Fuas. Logo se atribuiu à Virgem da Nazaré o milagre e se construiu uma ermida no penhasco de onde o veado se despenhou, deixando marcado na pedra o casco das patas traseiras sobre as quais rodou. O nome da virgem da Nazaré foi associado ao lugar do milagre, passando a Sítio da Nazaré, e na ermida de planta quadrada e telhados revestidos a azulejos uma pequena escultura mostra a Virgem, e uma imagem em azulejos representa o momento da queda do veado, os rochedos salientes e a Virgem a interceder do céu evitando a queda do cavaleiro. É deste ponto que se aprecia a vista para o oceano e para a praia da Nazaré, formando um arco de areia intercalado entre o mar e os telhados densos da povoação abaixo.

Nesta paisagem agreste instalou-se uma comunidade de valentes pescadores que foram, durante milénios, aprendendo a lidar com o mar e a recolher dele o peixe, o marisco e a vida. A história destes pescadores e das suas mulheres e a dureza da vida que levavam ficou registada numa obra de arte de José Leitão de Barros: o filme Maria do Mar (1930), película  muda mais tarde (2010) sonorizada por Bernardo Sassetti, que juntou ao filme mais uma camada de densa emoção através da sua música.

Para imaginar a Nazaré, e a gente que vive assim do mar há muitos séculos, basta que a nossa imaginação se alimente das cenas recolhidas pelo genial realizador e viaje pela praia, pelo mar e pelos penhascos que rodeiam o Sítio da Nazaré, que ele fixou em imagens em que, a preto e branco, as formas e os brilhos ganharam a sua beleza total. Vendo deste miradouro o mar e os penhascos, a emoção duplica ao rever na nossa memória as cenas mais bonitas e emocionantes do filme que fixou esta imensa paisagem e a sua gente.       

Quando o mar dava sinais de perigo as mulheres iam para os penhascos altos e levantavam os seus xailes pretos em movimento ritmado para alertar do perigo das correntes, das vagas e dos ventos que sabiam antecipar - pareciam pássaros pousados na rocha a levantar as asas, e o mar bravio em baixo ameaçando as embarcações, pontinhos mínimos puxados pelo movimento vertical das ondas, fazendo subir e descer sem tréguas enormes paredes de água que as arrastavam.

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