Fugas - Viagens

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Miradouros: Castelo de Marvão, um canto de paz

Por Cristina Castel-Branco e Margarida Paes

Ao longo de 20 semanas, a Fugas destaca outros tantos miradouros, o nosso património das vistas. Esta semana paramos no Castelo de Marvão.

No século XX, quando não havia Internet e se queria procurar dados sobre o património em Portugal, havia fontes seguras de registo. Mencionamos somente duas: o Boletim dos Monumentos Nacionais, feito pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, e o Inventário Artístico de Portugal, feito pela Academia Nacional de Belas Artes. Com a informação que prestavam ficava-se bem servido no que toca à arquitectura e à história do monumento procurado.

Para o Castelo de Marvão recorremos a essas fontes e o rigor e pormenor das descrições são imbatíveis. No entanto, existe um quase total silêncio visual sobre a paisagem envolvente. Como se os castelos existissem no meio de nada, deles se não visse coisa nenhuma, e por isso esquecendo e desaproveitando a magnífica posição de domínio sobre a paisagem. Também por isso, nesta série dos miradouros procuramos valorizar o património das vistas em Portugal.

Para se chegar ao castelo do Marvão, na fronteira leste do centro do país, a estrada que vem de Abrantes é uma antecâmara de beleza para o que nos espera lá no cimo, onde D. Diniz mandou elevar a torre de menagem e a fortaleza amuralhada. É uma estrada antiga, só com duas faixas de bermas irregulares, e foi arborizada com freixos que ali encontraram as melhores condições para crescer...e cresceram bem, formando uma álea de troncos pintados com uma cinta branca que acentua a perspectiva e nos deixa entrar para um túnel de sombra.

À nossa esquerda desenrola-se lá em cima a vista das muralhas que assentam sobre uma crista de rochas soberbas, penedos irregulares que só por si eram uma fortaleza. Esta obra humana remata, com a mesma pedra, o volume dos penhascos, formando uma linha recta que recorta o céu. Cada pano de muralha dobra-se para acompanhar a topografia e serve de transição entre a rocha irregular e a geometria precisa da torre que se destaca numa ponta do castelo.

“A vila de Marvão está situada numa alta eminência, a 862 metros de altitude e a seis quilómetros da fronteira espanhola [...] A povoação está dentro dos perímetros da antiga fortaleza e das muralhas [...] O primitivo castelo deve ser da época romana e as fundações conservam ainda dele ténues vestígios. Mas data dos séculos XIII (1226) e XIV (1300) a maior parte das edificações do antigo castelo, acrescentado e ampliado posteriormente, no século XVI e XVII e até ao século XVIII com baluartes, muralhas e fortins.” Defender a fronteira com Espanha e a passagem pelo rio Sever era a função deste castelo, aproveitando a posição alta sobre um esporão de rocha quartzítica, muito acima das planícies. Por isso a vista do castelo domina sobre uma paisagem ondulada, com as encostas cobertas de floresta e os vales agrícolas divididos em parcelas produtivas.

A área central do castelo permitia concentrar as tropas e receber os aldeões que subiam quando havia ataques. O poço e a cisterna de recolha de águas da chuva eram essenciais à sobrevivência nessas alturas. Na ponta oposta à da torre de menagem, a igreja de Santa Maria, também construída no século XIII, de paredes caiadas de branco, contrasta com as muralhas e rochas cinzentas do recinto. Em tempos, as águias faziam ninho na torre do castelo e caçavam nesta paisagem parada e rica de vida selvagem que foi classificada para Conservação da Natureza pertencendo agora ao Parque Natural de S. Mamede.

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