Fugas - dicas dos leitores

Os yao, viagem ao Norte do Laos

Por Isabel Brás - Lisboa

Com uma população de apenas 6, 9 milhões de habitantes, montanhoso, sem litoral e com algumas zonas ainda inacessíveis por estrada, o Laos é um dos países menos desenvolvidos do sudeste Asiático e também um dos menos turísticos.

Ainda hesitante, a República Democrática Popular do Laos começa agora a determinar o seu caminho em direcção ao futuro e, apesar da influência iminente dos seus vizinhos mais ricos, a Tailândia e a China, mantém-se ainda um oásis de calma, original e descontraído que nos marca pela sua hospitalidade, beleza natural e surpreendente diversidade étnica.

Foi em Luang Prabang, cidade de "pagodas", antiga cidade real e património mundial desde 1995, que começámos a nossa viagem. Luang Prabang ergue-se na tranquila confluência dos rios Mekong e Nam Kha, conservando a sua arquitectura original e arredores naturais bem preservados. Dois bons exemplos deste cuidado são, por exemplo, as grutas de Pak Ou e as cascatas de Kuang Si, irremediavelmente fascinantes e acessíveis em curtas viagens de barco através das águas castanhas do Mekong.

Depois de três dias envoltos em incenso fumegante e em cantos de monges budistas, deixámos Luang Prabang em direcção à pequena cidade de Muang Sing, que na segunda metade do século XX tinha um peso considerável no monopólio do ópio da Indochina Francesa e hoje é, lamentavelmente, um dos distritos do Laos com uma das maiores taxas de viciados em ópio. Em Muang Sing, rodeados por verdejantes campos de arroz, organizámos um trek nas montanhas circundantes, uma experiência memorável que nos encheu a alma de paisagens deslumbrantes e encontros étnicos inesquecíveis.

Foi junto da fronteira com a China, por entre quedas de água e densas florestas tropicais, que conhecemos o povo yao, um dos 49 grupos étnicos reconhecidos pelo governo do Laos e que, tal como todos os outros, possui particularidades únicas a nível linguístico, cultural e tradicional.

Os yao são um povo pacífico que carrega uma tradição secular de honra e de dignidade onde se enfatiza a simpatia, a discrição e a negociação cuidadosa. São, por isso, conhecidos como "os negociantes" entre as outras tribos da montanha, que os respeitam e admiram. São ainda a única das tribos que desenvolveu um sistema de escrita baseado nos antigos caracteres chineses.

As suas casas são feitas de madeira sólida e chão de terra batida, capazes de suportar os ventos fortes e as chuvas torrenciais que na monção varrem as montanhas do Laos. Vivem do cultivo do arroz e do milho, e da recolha de resina e mel das florestas virgens à sua volta, que negoceiam com mercadores do Laos e da China.

O orgulho e a imensa auto-estima desta minoria étnica são evidentemente reforçados nos seus coloridos trajes tradicionais, que até hoje são usados em casa, a trabalhar no campo ou a caminho do mercado. A cor predominante da sua roupa é o preto, sinal da sobriedade da tribo e as mulheres, por exemplo, usam as suas vestes compridas adornadas por grossos colares de lã vermelho escarlate e turbantes pretos elaboradamente bordados. Os bebés são protegidos dos maus espíritos usando barretes enfeitados com pompons vermelhos, moedas de prata, correntes e contas.

Fomos dos primeiros turistas a visitar a aldeia de Sailek e por isso sentimo-nos privilegiados. A posição geográfica e os recursos naturais do Laos são factores-chave no seu desenvolvimento, que mais cedo ou mais tarde porá em risco a sua herança cultural e natural. E não tardará muito para que a genuína hospitalidade dos yao comece a ser paga pelo turismo organizado sedento de desfiles de moda étnica.

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