A loja fica no número 7 de Burlington Gardens na esquina com a famosa Savile Row, notrendy e sofisticado Mayfair. É a loja mais badalada do momento. Quem chega a esta esquina vindo de Regent"s Street parece saber de antemão que vai encontrar a enorme fila que se prolonga por uma centena de metros, onde aguardam pacientemente os fãs da marca. Mais curioso ainda é constatar que este templo do "casual chique americano" fica no interior de um edifício que do lado de fora é mais parecido com um departamento da Royal Academy of Arts do que com uma loja de casual luxury lifestyle .
Trata-se de um edifício do século XVIII, de cor clara, clássico e sóbrio. As colunas na fachada permitem adivinhar a entrada principal. Embora no exterior a loja não apresente qualquer sinal visível da marca, não deixa de ser curioso observar que todos os que vão chegando parecem identificar de imediato a longa fila com a entrada da loja.
Já devia ter uma meia hora de espera na fila quando esta lá começou a andar até quase à entrada. Finalmente veio o sinal do porteiro autorizando-me a entrar. No hall da entrada umas teenagers em êxtase faziam questão de serem fotografadas agarradas a um modelo masculino que dava as boas- vindas. Com um sorriso luminoso, vestido de jeans e camisa de algodão aos quadrados aberta, modelo exibia com orgulho uns abdominais perfeitos num torso musculado e depilado, bem ao estilo do fotógrafo Bruce Weber, que assina as campanhas da marca.
No interior, os espaços eram amplos e os tectos altíssimos. A loja inteira estava mergulhada numa escuridão desconcertante cortada apenas por luzes de holofotes apontados para as camisas de xadrez e as sweats dobradas de forma impecável e alinhadas por cor entre as estantes de madeira escura muito altas. A música de dança electrónica provavelmente a ultrapassar o limite legal de débito de decibéis e a aromatização constante do ambiente - com a famosa fragrância Fierce da marca a ser pulverizada do tecto em grandes quantidades - contribuíam para acelerar a excitação comercial.
Os empregados e empregadas, que pareciam todos modelos, sorriam constantemente e de cada vez que se cruzavam comigo pulverizavam para cima de mim ainda mais perfume dos frascos que traziam na mão. O aroma amadeirado invadia a loja e parecia impregnar-se nas minhas narinas. Quando quis pagar fui encaminhado para uma fila, onde uma multidão de clientes de olhos brilhantes e em transe esperava.
Agora agarrados a pilhas de roupas que tratavam como se fossem tesouros recém-encontrados. A fila das caixas - surprise! - era provavelmente ainda mais comprida que a da rua e serpenteava pela loja. O ambiente de festa parecia cuidadosamente estudado para manter todos eufóricos, pelo menos até sairmos de novo para a luz do dia e nos apercebermos que acabámos de agravar o próximo extracto do nosso cartão Visa.
Paris não vai escapar a esta febre e a Abercrombie já está a fazer o casting aos modelos que irão animar a primeira loja em solo francês e que vai abrir em Junho do próximo ano no 23 da Avenue des Champs Elysées.
No regresso de uma semana em Londres, volto sempre agitado e cheio de ideias. Tenho a certeza que esta viagem não foi uma excepção.