Já passaram oito anos... Memorável esse concerto no interior do castelo da Feira numa noite de Verão para ouvir Carlos Nuñez, um dos melhores e mais aclamados gaiteiros galegos de sempre. Uns sentaram-se nos muros de muitos séculos, outros preferiram ficar de pé. Aquela música combina com tudo: com a natureza e com a vida. Mais ainda com a vida que se espera (eu estava grávida de oito meses)!
A música de Carlos Nuñez não tem melhor cenário que um castelo medieval como o da Feira, erigido no “tempo dos mouros”.
Este castelo tem história: em 1127, D. Afonso Henriques conquista-o a sua mãe, D. Teresa. No ano seguinte, trava-se a batalha de São Mamede, com a vitória do primeiro rei de Portugal e dos barões portucalenses que recusaram um reino que englobasse a Galiza e Portugal.
O concerto de que falo foi um encontro de paz entre Portugal e a Galiza! Com a sua flauta de pico, com o piano, com a guitarra eléctrica, as vozes e outros instrumentos, Carlos e seus amigos tocaram A Moura, justamente, personagem mítica da Galiza que guardava tesouros em castros celtas… Por seu turno, a voz da portuguesa Anabela misturou-se maravilhosamente com os sons dos instrumentos de Nuñez e fizeram magia e tornaram a noite inesquecível: “Dicen que no hablan las plantas/ni las fuentes ni los pajaros/ni el onda con sus rumores/ ni com su brillo los astros (…)”.
A Feira gosta desse tempo “medieval”. Todos os anos, por altura da já famosa Viagem Medieval, o castelo é protagonista desse regresso ao passado e ganha uma nova vida. Chegam de toda a parte as gentes que procuram a encenação notável que a cidade prepara ao longo de muitos meses para agradar o mais possível aos visitantes. Recordo uma visita muito especial: a do rei D. Fernando II e seus dois filhos ao castelo em 1852. Sim, ainda aqui veio aquele que seria o avô do último rei de Portugal! Embora sem rei e sem senhor, o meu castelo, tão velhinho, continua imponente e a dominar sobre o casario, orgulhoso da sua antiguidade! Gosto dele todo o ano, claro, mas tem maior encanto no Outono, sem dúvida, quando as árvores que o envolvem se pintam de vermelhos, castanhos, laranjas e amarelos...
[FUGAS nº 551 - 04 Dezembro 2010]