Também ainda não consegui digerir o que me emocionou em Varanasi, no sagrado rio Ganges, nas suas margens, no crematório, no fumo das piras e nas velas acesas que, formulando desejos, se vão afastando levadas pela corrente do rio purificador de corpos e almas.
Foi uma viagem a "outro mundo", um mundo de contrastes, e devo dizer que regressei mais rica, tanto a nível mental como espiritual. Regressei com um curso intensivo de vida, de vida carenciada em comunhão e partilha entre gente e animais.
A aprendizagem foi feita no terreno, com aulas práticas de cheiros, sons, obstáculos, imagens que doem, emoções gravadas a ferro e fogo e muitas, muitas perguntas sem qualquer resposta. Jamais poderei esquecer o Taj Mahal, essa eterna lição de amor escrita em mármore branco, que adquire tons dourados ou rosa ao sabor dos reflexos de luz que o sol lhe oferece. O mistério que envolve este local "entra na alma da gente", arrepia e comove, especialmente quando, ao fim da tarde, o sol se despede de nós e do Taj, presenteando-nos com laivos de carmim incendiando o ar.
Ainda não tinha saído deste mágico "Santuário" e já a minha mente ditava emoções:
"Que prova de amor ardente/
Alguém à mulher já deu/
Aqui está na minha frente/
Uma miragem do céu.
Que fina renda de pedra/
Por raios de sol matizada/
Com laivos de labareda/
Qual jóia no ar talhada.
Rodei-a o belo e o sagrado/
De minaretes escoltada/
Abriga Amor... lado a lado/
- Imperador - Sua Amada!
Sopra o vento sem destino/
Trazendo um manto arenoso/
E neste ambiente divino/
Há algo de misterioso.
Esplendoroso fim de tarde/
Já com vento a amainar/
Retiro-me com saudade/
Mas continuo a sonhar!"
[FUGAS nº 548 - 13 Novembro 2010]