Fugas - dicas dos leitores

Paris, a cidade que vence pelo charme

Por Maria João Castro - Lisboa

No século XVIII, o escritor e filósofo francês Diderot resumiu numa frase tudo o que Paris é "pour moi même", dizendo que apenas as paixões, as grandes paixões, podem elevar a alma às grandes coisas. Hemingway, no seu livro "Paris é uma festa", deixa-se deslumbrar numa descoberta iniciática de deleites que o acompanharão ao longo da vida... Eu, desde a primeira vez, partilho o seu prendimento a esta metrópole - e deixar-me-ei conduzir sempre por Paris.

Há mil e uma razões para se ir e ficar em Paris: a monumentalidade, a cozinha, o Sena, a luz... A cidade das luzes projectou-se a partir da Revolução Francesa e hoje não é simplesmente uma grande capital europeia, mas um incontestado ponto de referência geográfico e cultural dos últimos dois séculos.

Entre-se na cidade pelo lado que se queira, por qualquer um dos seus 20 arrondissements, cada um dos quais possui os seus próprios feitiços: errar pelas ruas de Paris é, por si só, um gozo. Há sempre algo visto de um novo ângulo, um detalhe que nos inspira. Isto porque, apesar de dizerem que a terra é redonda, eu nunca consigo regressar a um mesmo sítio: consigo voltar a um sítio onde já estive mas ele já não é o mesmo, nem eu sou a mesma: ele é sempre diferente e eu também, ainda que o lugar - Paris - se esconda debaixo do mesmo nome. Regressa-se sempre outro e compreende-se logo que o sítio também é outro; só o tempo permanece imutável porque só ele muda tudo... e então é a vez de incorporar esse tempo no olhar e no sentir e logo se reinventa o lugar que outrora conheci. É sempre assim, em Paris, porque Paris é o lugar onde mais sinto esta consciência rara mas aprazível.

Zona de Pigalle. Paragem à porta do Moulin Rouge. A este salão de dança associa-se o can can, com as suas exibições movimentadas e coloridas que se imortalizaram nos cartazes de Toulouse-Lautrec. Feita a paragem, caminhamos agora pela zona hard, pornográfica da cidade. Dezenas de lojas vendem material erótico e em cada duas portas deparamo-nos com uma sex-shop, ou um cinema hard-core valente. Local de eleição de todos os artistas, por aqui assiste-se à elaboração de um quadro enquanto se toma algo numa das muitas esplanadas da praça. Os cafés abundam, contornando o aglomerado no centro da praça dos pintores de rua. É aquela Paris tradicional e incrivelmente bonita de muitos filmes no cinema.

Vaguear à noite pelas margens do Sena mostra-nos quão grandiosa a cidade é; o romance com a cidade é inevitável. O rio é o ponto de referência de Paris, e divide a capital em duas áreas bem nítidas, apresenta o movimento das barcaças comerciais e numerosos barcos de lazer, os bâteaux-mouches.

Regresso uma e outra vez à Cidade Luz. Cada vez que volto, lembro a paisagem, olho-a com diferentes estados de espírito a cada regresso, mas amo-a sempre. Sentada na margem do Sena, seja no Outono ou na Primavera, no Verão ou no Inverno, Paris é sempre Paris. O povo diz que nunca devemos regressar a um lugar onde fomos felizes: eu volto sempre e sou feliz em Paris, talvez porque ela se confessa sempre com o mesmo tipo de luz e o rio corre sempre na mesma direcção por entre um vento de veludo que tudo inunda... Je m" ennuie de toi, Paris! (Tenho saudades tuas, Paris !)

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