Fugas - dicas dos leitores

Galiza, um nunca mais acabar

Por Céu Mota

O que nos leva à Galiza é o mar, a língua, o povo e... as tapas! Desta vez fomos à Corunha e a Lugo.

O nosso hotel, na cidade da Corunha, estava a poucos metros da Torre de Hércules, o farol romano mais antigo do mundo ainda em actividade, Património da Humanidade desde 2009. É um monumento com dois mil anos, imortalizado por artistas, tema de um tratado no século XVIII e o motivo central do escudo do Ayuntamiento da Corunha desde 1448. No topo da torre, tem-se uma panorâmica belíssima e avistam-se a playa de Riazor e a playa del Orzán, a poucos metros.

Também obrigatória é a Plaza María Pita, com o Palácio Municipal e o monumento em homenagem à heroína local. María Pita teve uma acção gloriosa na defesa da Corunha contra forças inglesas, corria o ano de 1589. Diz-se que, quando viu cair o marido morto, empunhou uma espada e derrubou, ferozmente, o porta-bandeira inglês. Com o estandarte do inimigo nas mãos, María Pita assinalou a vitória dos sitiados.

Para além de María Pita, a Corunha consagrou ainda outras grandes mulheres: a escritora Emilia Pardo Bazán e a primeira mulher espanhola a estudar numa universidade, Concépcion Arenal. Ambas mereceram também um monumento: estão lado a lado no jardim Méndez Nunez, situado na central Avenida de la Marina.

Ali decorreu, naqueles dias de Agosto, a Feira do Livro Antigo, onde não resistimos a comprar a edição fac-similada do Guía para el Turista de 1917. Este guia, que também adoptámos, chamava a atenção do turista da época para a beleza da cidade; para o porto - "colocado en una situación estratégica para la navegación interoceánica, uno de los primeros de España en cuanto á su movimiento y á su tráfico"; para as indústrias - "una moderna fábrica de tabacos en que 3.000 cigarreras trabajan diariamente, as fábricas de sombreros, de gorras (...)" e a indústria da pesca, razão pela qual a Corunha figurava como o primeiro porto pesqueiro de Espanha; para os monumentos - o primeiro que é referido é a Torre de Hércules, depois os jardins de São Carlos e o de Méndez Nuñez.

Refere ainda a Igreja de Santiago, a mais antiga da cidade, em cujo pequenino adro fotografámos a Casa-Museu de E. Pardo Bazán que, por sua vez, está a escassos passos do Passeio Marítimo, o maior da Europa, que pode ser percorrido ou não pelo Tranvía turístico.

É propositado o uso do galego, porque são "tão portuguesas" as palavras que lemos e ouvimos. Mesmo o nome de algumas das localidades que atravessámos (e outras que vimos no mapa) podiam muito bem passar por nossas: Caldas de Reis, Castro de Ferreira, Esmoriz!

Tal como em terras portuguesas, também na Corunha não faltam óptimos restaurantes e tabernas. Mas repetimos o El Serrano, na Rua Galera, 21, para saborear os pimientos de padrón, os calamares, a tosta de jamón com berenjena, as tortillas, o queijo com marmelada para sobremesa...

Atrás das boas tapas (como o pulpo a la galega) e com vontade de fotografar essa muralha romana que identifica a província, fomos a
Lugo no último dia.

Comprovou-se o que prometia o slogan impresso nos guardanapos: Para Comer, Lugo. Como se comeu bem no 101 viños.... Depois do fabuloso almoço acompanhado com a cerveja galega (que me deixava KO!), continuámos o passeio sobre a muralha com dois quilómetros, larga como una calle. É a única muralha romana do mundo que se conserva inteira - justamente, é Património da Humanidade. Datada de finais do século III, início do século IV, é irmanada (com exagero dos galegos!) com a Grande Muralha da China. Mas eu não exagero se disser que a Galiza é um nunca mais acabar de placer.

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