Fugas - dicas dos leitores

Viagem à Mongólia

Por Sérgio Nogueira - Lisboa

Ao pensar na Mongólia, lembramo-nos logo do grande império de Gengis Khan, que, no séc. XIII, se estendia da península da Coreia até à Turquia. Mas nem só do passado vive este país de grandes estepes, desertos, lagos e montanhas.

Ao chegarmos à capital Ulaanbaatar, a nossa visão do país foi logo alterada: encontrámos uma cidade cosmopolita, com grandes torres e praças, avenidas largas cheias de trânsito, grandes jeeps e modernas lojas (a Louis Vuitton estava prestes a abrir). Nesta mesma cidade, o Palácio de Inverno de Bogd Khan, moradia até 1924 do último rei da Mongólia e oitavo Buda Vivo, é um exemplo da Mongólia do início do séc. XX, um país de tradições e profundamente religioso. Foi ainda na capital que visitámos um dos mais importantes mosteiros budistas do país, Gandantegchenling, um complexo de templos e alojamento para os monges onde, hoje em dia, e após a era comunista, os mongóis podem praticar livremente a sua religião.

Mas foi ao sair da capital e das estradas de alcatrão que encontrámos a verdadeira Mongólia, aquela que tínhamos visto nos documentários da televisão, de paisagens amplas sem fim, pontilhada por gers, as tendas tradicionais da população nómada, e por manadas de cavalos, cabras e ovelhas.

Através de linhas no meio da paisagem, que se cruzam e voltam a separar, viaja-se a 50 kms em média, o que faz com que num dia se façam 400/600 kms, com paragens para pic-nic e para o WC ao ar livre. De vez em quando, cruzámo-nos com grandes montes de pedras e paus adornados com lenços, os chamados ovoo, sítios de adoração para a população em viagem.

No sul, o Gobi é um deserto de diferentes paisagens. Com grandes dunas, que visitámos em Khongoryn Els, os desfiladeiros cobertos de gelo quase todo o ano, como o fantástico Yolyn Am, as formações rochosas de incrível beleza, em Baga Gazryn Chuluu, ou em Bayanzag, local da descoberta de vários fósseis de dinossauros na década de 1920. Aqui juntam-se aos sempre presentes cavalos e aos camelos, que no Inverno se tornam mais imponentes com o seu grande pelo, e aos quais até é dedicado um concurso de beleza.

No centro e norte do país, a paisagem é dominada pela floresta verdejante e por lagos cristalinos, como o lago Branco, junto ao extinto vulcão Khorgo. No meio desta paisagem existem alguns templos que resistiram à destruição comunista, tais como os de Tovkhon Khiid e Amarbayasgalant. Há ainda o que resta da antiga capital do império, em Kharkhorin, onde mais templos budistas merecem uma visita.

Aqui vivem, em movimentos sazonais, metade dos mongóis, que, sendo nómadas, movem as suas manadas e os seus gers consoante a pastagem e a água estão disponíveis. Nesta imensidão não existe propriedade privada.

Viajámos na altura do Naadam, o feriado nacional, a que assistimos nas aldeias, em vez do grande espectáculo na capital. Este grande festival comemora, por todo o país e em parte da China, o grande império Mongol, com os seus jogos tradicionais de tiro com arco e flecha, luta e as imperdíveis corridas de cavalos. É nestas corridas que crianças dos 4 aos 6 anos concorrem com a melhor montada da família e, sem arreios, correm entre 20 e 30 kms, consoante a idade do cavalo. No final, todos correm para tocar o cavalo vencedor, pois acreditam que o suor do animal lhes trará um ano cheio de sorte. O cavalo é tão amado no país, que são dedicadas canções aos grandes campeões de festivais passados.

Voltámos para Portugal com uma enorme sensação de tranquilidade e com a mente cheia de memórias de uma população afável e de um país de uma enorme vastidão.

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