Um homem maduro olha-me sem me ver: parece levar uma existência pacífica, rotineira e vagamente aborrecida. Ao fim de algum tempo à espera de quem prometeu ir-me buscar, lá saio do aeroporto, pronta a descobrir a grande cidade. Depois de colocar em dia as novidades mais proeminentes, eis-nos às duas a percorrer a cidade numa primeira abordagem: é que a minha amiga hoje está de folga para me dar umas luzes da cidade; a partir de amanhã, andarei sozinha.
Os prédios feitos totalmente em tijolo são uma marca da cidade, assim como as cabines telefónicas vermelhas, os autocarros de dois andares, ou os táxis pretos, sóbrios e distintos, à boa maneira britânica. Numa esquina qualquer, uma mulher parada encostada à parede olha em frente, sem ver: parece estar a viver a plenitude só alcançada por quem bebe a vida com o silêncio da morte. Ainda olho para trás mas ela já não lá está.
Oxford Street, Covent Garden, Trafalgar Square e a sua National Gallery, que abriga uma das mais importantes colecções de obras de arte do mundo. Depois, a abadia de Westminster, a igreja onde são coroados os soberanos ingleses e também mausoléu real. Continua-se por entre a realeza em direcção ao Palácio de Buckingham. Há borrifos de chuva no vento. Um longo ribombar de trovão ressoa no céu e grandes pingos de chuva começam a cair e a abrir pequenas cascatas no pavimento.
Brand new day. Dia dedicado à época contemporânea: a Tate Gallery, a colecção de escultura da Sacchi, bem como na Royal Academy of Arts, constituem sítios de visita obrigatória, onde os títulos das peças não nos remetem para o seu conteúdo mas sim para a sua forma.
Dada a vaguear à noite, a zona do Tamisa e da Torre de Londres parece-me suficientemente londrina e emblemática para fazer a digestão. A Torre de Londres conserva 900 anos de história. Foi fortaleza, uma prisão e um lugar de execução. Hoje expõe as jóias da coroa. É Património Mundial desde 1988. À frente da Torre de Londres, a Tower Bridge, sobre o Tamisa. Este sólido monumento de engenharia vitoriana foi construído há mais de 100 anos. Quando passam no rio barcos de grande porte, a ponte abre-se para os deixar passar. Sabe bem passear nesta parte da cidade, acompanhando o leve serpentear do rio. Paro e respiro a aragem da noite. É tempo de dizer adeus à cidade do nevoeiro e dos fantasmas que se cruzam numa esquina feita de tijolo carcomido pelo tempo.