Fugas - dicas dos leitores

Romanos, berberes e o deserto

Por Sérgio Nogueira

Em 29 de Janeiro, o nosso leitor Sérgio Nogueira contava uma viagem à Líbia e dizia na altura que, apesar de haver a ideia de que é um país inseguro, a proximidade e a grande quantidade de sítios património da UNESCO tinham levado a que viajassem para a Líbia, que se revelou uma agradável surpresa como destino de férias.

Após a chegada a Trípoli, a nossa viagem começou com a visita a Leptis Magna, uma cidade com maravilhosas ruínas romanas, como o arco de Septimus Severus e o magnifico teatro, e que tem como fundo o azul do Mediterrâneo.

No terceiro dia partimos para Ghadames e no percurso visitámos primeiro Qasr Al-Haj, uma localidade onde se encontra o mais bem conservado celeiro fortificado da Líbia, edifício de arquitectura berbere e usado do século XII até meio do século XX. A sua estrutura circular com uma só entrada protege um pátio rodeado de pequenas câmaras em quatro ou cinco níveis, que serviam para armazenar cereais, tâmaras e azeite, sendo cada uma propriedade de uma família.

A nossa segunda paragem foi em Nalut, cidade onde, num núcleo antigo abandonado, estão bem conservadas duas prensas de azeite e um outro qasr que, com uma estrutura semelhante a uma fortificação, tem no interior várias ruas estreitas ladeadas por um total de 400 câmaras, que ainda guardam ânforas e onde paira o cheiro a azeite.

Foi ao início da noite que chegámos a Ghadames, cidade à entrada do deserto e na antiga rota das caravanas de camelos. Um labirinto de vielas brancas, algumas em túnel, acima das quais se erguem as suas casas simples por fora e com uma decoração interior deslumbrante, feita em baixos relevos pintados em cores vibrantes. De manhã visitámos uma destas casas, onde nos explicaram os rituais da sua decoração e a vida quotidiana das famílias, com a separação de espaços entre mulheres e homens, vivendo elas nos andares do topo - andavam na cidade pelos terraços sem serem vistas. Ao fim do dia foi maravilhoso subir as dunas de areia para ver o sol a pôr-se onde a Líbia, a Argélia e a Tunísia fazem fronteira.

De volta a Trípoli, parámos em Kabaw, onde vimos outro qasr, e em Gharyan para visitar uma antiga casa troglodita, que se desenvolve a partir de um pátio central para o qual dão as várias divisões de cada uma das famílias.

A oeste de Trípoli situam-se as ruínas de Sabratha, outra cidade romana, importante porto de comércio e onde o seu imponente teatro domina a paisagem. De mencionar ainda os mosaicos da antiga basílica e a exposição do museu local.

No leste do país, na região de Cyrenaica, começámos a visita por Tolmeita, que ainda tem muito por escavar, mas onde foram descobertos vários mosaicos romanos que se encontram no pequeno museu local e aquela que foi uma das maiores cisternas do norte de África. Em Apolónia, uma cidade grega e depois romana e que serviu de porto para a grande Cyrene, achámos de uma beleza simples o seu anfiteatro grego escavado na rocha na costa do Mediterrâneo.

Fundada pelos gregos no século VII a.C., Cyrene fica no topo de uma colina rodeada de olivais de onde se avista o mar. A cidade, desenvolvida em dois níveis, o civil e o religioso, tem ruínas gregas e romanas e a sua decadência deu-se após o terramoto de 365. De especial beleza são o fórum, a ágora, os mosaicos existentes no chão das casas dos comerciantes e os templos de Apolo e de Zeus. No Museu de Qasr Libya vimos uma das melhores colecções de mosaicos bizantinos. Retirados de uma igreja do século VI em Olbia, um total de 50 painéis pequenos e um painel central maior, representam figuras pagãs e religiosas e constituíam o impressionante chão da igreja.

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