O hotel que eu escolhi para ficar não era o Excelsior mas sim o Hotel des Bains. No filme Morte em Veneza, com o actor Dirk Bogarde, toda a acção decorria neste hotel e na sua praia face ao mar Adriático. Acontece que o Hotel des Bains não possui cais de embarque e o serviço de lanchas rápidas é feito a partir do cais do Hotel Excelsior. O Excelsior é o hotel onde ficam alojados todos os grandes nomes do cinema durante o festival de cinema de Veneza, que se repete todos os anos no mês de Setembro. Estes dois hotéis no Lido, e também o Hotel Villa Cipriani, o Hotel Gritti Palace e o Hotel Bauer Palazzo, em Veneza, estão ligados por um serviço de lanchas-táxi superluxuosas que efectuam transferes gratuitos entre hotéis para os seus clientes.
O Hotel des Bains possui uma varanda imensa ao nível do primeiro andar, com acesso directo do exterior pela escadaria da fachada principal e por onde se faz também a entrada no hotel. Na varanda existem vários sofás de palha com mesas de apoio que permitem apreciar o movimento no hotel ao final da tarde, enquanto bebemos uma long drink. O Lido consegue ainda hoje atrair uma classe muito rica de americanos que chegam acompanhados dos seus conjuntos de malas em couro, que na sua versão mais popular ostentam o célebre padrão com o monograma LV.
Vesti uma camisa branca com monograma bordado e uns calções de banho com motivos de estrelas-do-mar e desci para visitar a praia concessionada do hotel. O que mais me surpreendeu foi a forma como em pleno século XXI, e na Europa dita democrática, a concessão privada da praia ainda conseguia vedar o acesso ao cidadão comum a um mergulho no mar Adriático. As barracas, alinhadas paralelamente, só garantiam a vista de mar a quem se permitisse pagar mais de duzentos euros por dia para ficar na primeira linha. Por cento e vinte euros a vista da segunda linha era a das traseiras das barracas situadas na primeira linha. As barracas faziam lembrar as tendas de um acampamento romano, com os toldos a avançar para a frente e fixos a duas estacas de madeira. O ambiente era sossegado e os clãs familiares procuravam manter-se no seu espaço reservado.
Ainda faltavam algumas horas para a partida do meu voo e eu já tinha feito o check-out no Hotel. A lancha rápida depositou-me no passadiço do Hotel Gritti Palace. Como ainda tinha que queimar algumas horas de espera, depositei a mala na recepção e dirigi-me para o bar do hotel. Encomendei um Bloody Mary, talvez influenciado pelos americanos hospedados no meu hotel. Estava a acabar de pousar o copo vazio quando uma mulher francamente bonita se aproximou e me perguntou se me podia oferecer uma outra bebida. Sim, claro! - respondi, surpreendido e ao mesmo tempo lisonjeado. A mulher dirigiu-se ao balcão e trouxe duas bebidas, uma para mim e outra para ela. Eu agradeci e bebi um primeiro trago...
Fugas n.º 558 - 05/02/2011