Há alguns dias voltei de uma viagem de dois meses pela América do Sul. Uma fuga que incluiu o Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Peru, Bolívia e Chile. Entendem agora por que não consigo truncar a minha viagem? E desde que voltei tenho tido as emoções à flor da pele. Choro por tudo e por nada. Adoro viajar, realmente sinto-me realizada. Retornar é sempre o mais complicado... Ainda mais quando os outros interpretam tal vontade como temor pelo presente, pelo país, pela minha casa. Tento explicar que não é isso - mas no fundo, não sei. Porquê? Por que bate tanta vontade de ir? De transitar?
Estou em casa há alguns dias, mas só penso em voltar. Pôr a mochila nas costas, pegar no passaporte e partir. Cruzar fronteiras, dividir beliches e sorrir. Sorrir porque estou feliz - é neste fluxo que me sinto feliz.
Acho que não fujo de nada. As pessoas que gostam de viajar obrigatoriamente estão a fugir? Perguntam-me por que não assento, procuro emprego e viajo como todos os outros, do tipo de agência de viagens, pacote turístico, tudo incluído.
Na minha viagem conheci pessoas de todo o lado - muitos nórdicos e alemães. Mas portugueses? Nenhum. Salvo um, a trabalhar num hostel em Buenos Aires. Agora pergunto eu: e porque não? Porque não partir sem itinerário, sem avião marcado, sem hotel ou buffet intercontinental, internacional, intercultural, interracial... inter tudo e mais alguma coisa.
O que me interessa é o intra. E esse intra não encontro em agências de viagem, em pacotes turísticos, em horários de visita guiada, em cartõezinhos de identificação. Encontro-o sim sem rumo, de mochila, com um sorriso.
Pergunto-me: onde estamos nós, os portugueses?
Por isso, agradeço a todos os mochileiros. Obrigada pelas vossas viagens, pelas vossas dicas, pela vossa coragem e por toda a inspiração. Por abrirem caminhos e mostrarem que não faz mal. Não faz mal gostar de viajar. Faz é muito bem!
Fugas n.º 560 - 19/02/2011