Fugas - dicas dos leitores

Marina Ventura

Chile: As rosas de Atacama

Por Marina Ventura

Despedi-me daquele deserto prometendo nunca o esquecer e se pudesse voltar um dia para me voltar a perder no seu espírito. Acho que foram as Rosas de Atacama que me criaram o desejo de entrar no Chile pelo Norte.

É um deserto de terra, rodeado por vulcões e sem vegetação. Parece que não tem estradas e durante a viagem perguntava-me como é que o autocarro sabia para onde ia. A cidade, vista da fronteira não é bonita. Pode até parecer feia, pequena e abandonada. O calor abundante fazia com que os cães andassem ali a vaguear pelas sombras e com que parecesse ainda mais fantasmagoricamente abandonada.

No entanto, sem que consiga explicar bem, apaixonei-me de imediato pelo lugar. Parece que entrei em modo contemplativo. Aconteceu-me três vezes e meia na vida, esta sensação de abandono do corpo. Este foi um desses locais, em que falar deixa de ser uma necessidade e, os olhos parecem flutuar de um lugar para o outro. Ainda agora, só por me lembrar daquele lugar sinto-me assim como que paralisada pela beleza do que vi, mas mais ainda pela sensação de paz que experimentei naquele lugar.

A cidade depois de se passar a porta de entrada, mostra-se em toda a sua beleza. Casas baixas de pedra e com cores em tons de laranja e azuis. Cheia de charme, vive de/e para o turismo. No entanto, os turistas que a procuram fundem-se no espírito perdido do deserto. É importante sentir um pouco de tudo: conversar com os locais sobre tradições, histórias de fantasmas e da sua própria vida; conversar com os turistas que quando ali chegam carregam um infindável número de quilómetros percorridos e todas as experiências; percorrer o Salar, as lagoas, os Géisers, os vulcões.

Na praça principal tinha um restaurante com um empregado que parecia um pirata. Vindo de uma aldeia onde as temperaturas chegam aos 50 graus e, desertificada desde que fecharam as minas. Todos os anos os antigos moradores vão lá para uma festa que dura mais do que um dia, como que para lembrar o passado que morreu com a mina. Com um amor por gatos indescritível e que contava velhas histórias sobre os fantasmas daquela zona. Ou então passar o dia deitada numa rede, a ler e a conversar por quem passava ali, para alugar um quarto ou já depois de se ter acomodado.

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