Fugas - dicas dos leitores

Marrocos, terra de cores e de contrastes

Por Marina Ventura

Marrocos fica ali no virar da esquina para quem vai até África. A ideia que temos deste país é construída a partir de ver imagens das Medinas estreitas, escuras e repletas de vendedores de tudo e mais alguma coisa. Também tinha criado a imagem das mil e uma noites e das odaliscas a dançarem numa grande sala de mármore durante um jantar nas mesas baixas cheias de Tangines. Foi com estas imagens que parti rumo a Marrocos, aterrando no aeroporto de Tanger.

Ainda cá decidi qual seria o percurso que iria fazer como forma de conhecer um pouco de todas as variações geográficas que este país nos oferece. Sim, porque ali podemos ir do deserto à neve com poucas horas de carro. Esperava algumas contrariedades quando percebi que iria estar a viajar durante o Ramadão, mas os imprevistos ultrapassaram as minhas expectativas.

Quando cheguei a Tanger fui para Tétouan nas montanhas de Rif. De Tanger vi apenas a garagem dos autocarros e o pequeno aeroporto, porque a primeira noite estava programada para as montanhas. A viagem foi terrível. O autocarro ia repleto de pessoas e parava em muitas localidades.

No entanto, valeu a pena para chegar no pôr de sol e ver Tétouan na encosta da montanha com os azuis ainda mais coloridos pelo sol de tons laranja. Tétouan é um paraíso hippie. Tem uma praça e uma pequena Medina que se estende até um rio. Os restaurantes e hotéis ficam à volta desta pequena praça. À noite as luzes são essencialmente de velas e de um ou outro candeeiro e isso torna o ambiente especial. Apesar de ser uma terra pequena que facilmente se conhece é rodeada de uma beleza que convida a ficar-se sentada apenas a ouvir os ruídos das montanhas. Existe ainda o azul espantoso deste lugar que nos faz ter vontade de andar pelas ruelas a tirar fotografias a torto e a direito.

A partir de Tétouan enfrentei a difícil missão de fazer durante parte do dia e durante toda a noite a travessia até Erfoud. Jantei em Fes enquanto esperava pelo próximo autocarro. Devo salientar que os condutores de Marrocos são violentos a conduzir. Nem consegui dormir bem durante as viagens.

Chegar a Erfoud às 5 da manhã foi quase um pesadelo. De uma terra bonita passei para uma terra feia e sem qualquer identidade. Achei um lugar pouco atractivo e esperei pelo primeiro autocarro da manhã e rumei em direcção a Risadin. Chegar a Risadin também não foi animador, porque os hotéis estavam fechados por causa do Ramadão, como aliás acontece noutros locais que tentei visitar.

Lá fui num Grande Taxi para o deserto de Erg Chebbi, onde fiquei num hotel lindíssimo sobre as dunas em Merzouga. Naquele lugar não se via viva alma, excepto uns camelos ao longe e uns tratadores. Estava um calor abrasador, mas ao fim do dia começou uma tempestade de areia acompanhada de trovoado e aconteceu o inesperado no deserto, porque começou a chover. Foi uma tempestade assustadora e nem consegui assistir nem ao pôr-do-sol nem ao nascer do dia, porque chovia torrencialmente. A minha passagem pelo deserto foi no mínimo sui generis. Por esse motivo rumei antecipadamente para as montanhas onde tencionava ficar nas Gargantas do Gorge.

Pelo caminho continuaram os ventos fortes e uma vez mais atravessei uma tempestade de areia. No entanto, o pior foi chegar a uma estrada cortada pela água que descia das montanhas, ter de dar uma volta para chegar a Tinerhri mesmo na hora em que a tempestade descia das montanhas.

Abrigada num beiral, pensei que ia ficar debaixo das terras que desciam montanha abaixo. Tive medo. E aquela localidade estava fantasmagórica com trovoadas em todas as montanhas em redor. Foi impossível ir às Gargantas porque a estrada estava cortada pela água. No dia seguinte deixei Tinerhri para ir para Marrakesh e atravessar assim o Grande Atlas. Depois da tempestade vem a bonança e estava um sol fantástico para a viagem.

--%>